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Comida bem feita e comida que faz bem

Publicado no Paladar 06/11/2008 Luiz Américo Camargo Em geral, não lembro de ter conhecido ninguém que faça questão de se alimentar de coisas que só fazem mal. Alguém que selecionasse a comida assim: "Quero este, pois sobe a pressão e aumenta o colesterol." Normalmente, tendemos ao que atiça nosso apetite. E, claro, pensamos cada vez mais naquilo que faz bem e em escolhas mais conscientes. Como optar por produtos sem agrotóxicos, consumir carnes de animais não ameaçados, etc. Mas se der para conciliar os dois mundos, melhor. Pois qual o sentido de um produto orgânico, se ele não for mais gostoso? Este Le Manjue Bistrô, aberto há pouco tempo na Vila Madalena, surgiu com a bandeira da "gastronomia funcional", uma expressão que requer esclarecimentos, cujo mentor e executor é o chef Renato Caleffi (que trabalhou no Empório Siriúba, entre outros lugares). O princípio é nobre: levar à mesa ingredientes orgânicos cuja preparação contemple o melhor aproveitamento do potencial nutricional. Alguém pode ser contra isso? Pois eu fui ao Le Manjue ? instalado numa casa arejada, com móveis rústicos e décor algo tropicalista ? esperando um público vestindo camisetas com slogans ambientalistas e calçando crocs e similares. Não foi o que encontrei. Tinha de tudo, de famílias e grupos de amigos a gente que só queria comer, como eu. O começo foi animador. O couvert tem pães tipo naan e outros artesanais, grissini, além de legumes crus. Mas o melhor mesmo é o quarteto de molhos: relish de cebola, caponata de banana verde, geléia de tomate, pesto de manjericão. Dava até para ficar só naquilo. É aí que aparece uma questão importante. A impressão que dá é que o restaurante apresenta seus sabores essenciais neste início de refeição. O que vem a seguir é uma variação desses matizes, uma repetição de idéias. Os três pratos provados, um bem diferente do outro, atraíram na primeira garfada, cansaram logo depois. A tilápia assada, servida com pesto, tinha como elemento mais interessante a guarnição, um cuscuz de quinua. O escondidinho de boeuf bourguignon parecia uma sopa, era condimentado demais, potente demais. Na moqueca de shiitake e palmito, quase não se percebiam os gostos do cogumelo e do caule: o molho dominava. Em resumo, com preços razoáveis (a maioria dos pratos entre R$ 20 e R$ 30), um ambiente agradável, um cardápio interessante pelo menos no papel, a casa precisaria investir no equilíbrio e principalmente na diferenciação dos sabores. Nem que seja para a comida fazer um pouquinho menos bem à saúde. Le Manjue Bistrô R. Rua Inácio Pereira da Rocha, 273, V. Madalena, 3034-0631 11h30/23h (3ª e dom. 11h30 /15h; fecha 2ª). Cardápio: contemporâneo (e condimentado, com ênfase em curry, cardamomo e cia.) Avaliação: se estiver com pouca fome, aprecie o couvert e prove as opções de sucos de frutas.

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