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Nurburgring. Diário de Bordo. Dia 1.

21/VII/11

Por liviooricchio
Atualização:

Livio Oricchio, de Nurburgring

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A partir do momento que telefono para a operadora de táxi, no máximo em dez minutos o motorista está na porta do edifício que resido, em Nice. São três, essencialmente, os caminhos para ir ao aeroporto localizado sobre um aterro, semelhante em conceito ao Santos Dumont, no Rio: a autoestrada, cortando a cidade pelo norte, uma via expressa por entre bairros, e o meu favorito, a Promenade des Anglais, avenida que acompanha a orla da baía de Nice, com o Mediterrâneo e suas cores ao meu lado. Um dia vários tons de verde, outro, de azul. Bonito.

No máximo pago 30 euros. A maioria dos motoristas é cortês, utiliza carros Mercedes bem conservados e limpos. Curiosamente, se você embarca num táxi na fila do aeroporto, como faço com regularidade, na volta dos GPs, e digo para onde desejo ir, quase todos bufam, reclamam para si próprios, em francês, lógico, e não escondem a irritação. Não querem uma corrida de 30 euros, apenas, diante de poder receber 100 para o deslocamento até Mônaco, distante 30 quilômetros, ou 120 euros a Menton, um pouco mais para a frente, na fronteira com a Itália. Todas cidades litorâneas.

Voo Lufthansa 1059, de Nice a Frankfurt. Uma hora e meia. Decolamos, acentuada curva à direita, imediatamente depois de deixar o solo, para desviar da montanha no limite da orla e, na sequência, proa leste, acompanhando as praias. Em 15 minutos percorremos 200 quilômetros e abaixo de nós está a cidade de Gênova. Curva à esquerda, cruzamos o fim dos Alpes Marítimos e entramos no vale do rio Pó, no norte da Itália. Outros 10 minutos e vejo Milão, Como, o lago, Lugano, já na Suíça. Começa a travessia dos Alpes. Ainda há picos nevados apesar do calor na Europa. Estão a mais de 3 mil metros.

Os Alpes terminam, nessa rota, em pouco mais de 10 minutos. Estamos nivelados a 30 mil pés (cerca de 9 mil metros) e cruzando 460 nós (840 km/h). À minha direita está Stuttgart. Leve curva à esquerda e entramos na final de Frankfurt.

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Vocês deram corda para eu escrever, agora aguenta. Não deixaria de falar de aviação. Só para rimar, uma paixão.

O Mercedes Classe B 180 alugado na Europcar vai custar 311 euros, de hoje, quarta-feira, 14 horas, até segunda-feira, no mesmo horário. Tenho tarifa especial com Europcar. Há muitos anos fiz um trabalho para a Ferrari, para um livro, eles alugaram um carro para mim na Europcar, empresa em que a Ferrari tem participação, e até hoje consigo descontos, sem que eu diga nada. Às vezes a atendente lê algo na minha ficha, não sei o que é, e diz para mim: "Oh, Ferrari!". Eu apenas emito um sorriso do tipo... "e você não viu nada". Ainda bem, porque não teria mesmo nada para ver.

Logo depois do estacionamento das locadoras no aeroporto de Frankfurt há um acesso para a autoestrada A3. Pode-se ir ao norte, na direção de Colônia, ou ao sul, Damstadt. Fiz meu plano de viagem através da A3 até Koblenz e planejei sair à direita na E48 direção de Trier para deixar a estrada na saída para Ulmen. Aí tomaria uma estradinha local até Nurburgring.

Enquanto estive na A3, cerca de 100 quilômetros, choveu o tempo todo. Vim ouvindo a rádio Classic. Fui educado com música clássica e freqüento com regularidade o Nice Opera. Há bons espetáculos e os preços não são altos. Tudo bem na viagem até entrar numa zona de obras na A3, já próximo à saída para Koblenz. Havia uma fila de caminhões interminável. O respeito é máximo: não saem da direita. A A3 estava apenas com duas faixas em razão dos trabalhos de recapagem.

E não é que diante da barreira dos caminhões passei direto pela saída? Tudo bem, encostei o carro num posto quilômetros à frente e com o meu supermapa da Alemanha (adoro mapas e raramente uso GPS) estudei uma alternativa. Lembrei-me de Bonn, mais adiante. Já havia chegado a Nurburgring via Bonn. E afinal de contas estamos falando da cidade de ninguém menos de Ludwig van Beethoven. A cidade onde nasceu é aberta à visitação. Ao lado de Wolfgang Amadeus Mozart estão entre os meus compositores favoritos.

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Estava com tempo. Quer saber? Vou entrar na cidade. Parei para comer numa daquelas casas de pães que me encantam na Europa. Aprecio pães. Vi no meu mapa que teria de sair pelo sul, através da 565 na direção de Meckenhm e depois tomar a vicinal 257 para Adenau. Esse caminho é muito bonito, com um pequeno afluente do Reno, que corta Bonn e Koblenz, ao lado da estradinha. Até Nurburgring são cerca de 80 quilômetros.

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Meu destino, na realidade, hoje, não era o autódromo. Até por que a sala de imprensa estava fechada. Meu objetivo maior era chegar na nova guest house. Decidi não mais me instalar na casa da simpática dona Gertrud e seu ciumento marido Theodor. Um grupo de cidadãos há anos fica por lá também e há dois anos experimentei uma situação constrangedora. Dois desses homens - bem-sucedidos profissionais - vêm à Alemanha apenas para o GP. E formam um casal.

Até aí não tenho nada a ver com isso. Em termos, também. Em especial se o seu quarto se encontrar dentro da zona de interferência sonora, ainda que distante, do deles. Não há hoteis na região. Os que existem são bem pequenos e há anos têm sua clientela. Lembro-me de em 2009 lamentar a falta de estrutura ao redor do circuito.

Este ano o desafio foi localizar Gelenberg no mapa. Nem no meu supermapa da Alemanha não achei. Parei num hotelzinho em Adenau, distante 9 quilômetros da pista, e seu proprietário abriu um mapa da região, disposto a me auxiliar. Acredite: não encontramos. Liguei para a senhora que ofereceu a casa, Marlene, como tantos fazem por aqui. Ela arrastava-se no inglês mas deu para compreender que eu deveria procurar por Kelberg e só depois por Gelenberg.

Eu já viajava há quase quatro horas. A chuva dava sutis tréguas para voltar forte na sequência. O termômetro do carro indicava, às 17 horas, 14 graus. Bem mais quente que no dia anterior, segundo a minha amiga Heike Feldkamp, alemã, coordenadora da Hispania. Ontem, antes de arrumar a mala, em Nice, liguei para ela por saber que desde a terça-feira estaria em Nurburgring.

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Heike me contou que estava congelando. Não passou de 10 graus na terça-feira. Agora são para mim 00h30 da quinta-feira. Estava gravando para a rádio Estadão ESPN lá fora, por causa do sinal fraco do celular, e a temperatura deve estar na casa dos 10 graus. É Nurburging, senhores. E estamos no meio do verão.

Em 1995 inventaram de realizar a corrida dia 1.º de outubro. O que aconteceu? Na madrugada de sábado para domingo nevou, o warm up foi cancelado e por pouco a corrida também. Frio de verdade.

Onde estava mesmo? Ah, depois que cheguei em Kelberg, sem dificuldade, não encontrei uma única indicação para Gelenberg, onde me aguardavam. Uma senhora, funcionária de um mercadinho, me orientou como chegar a Gelenberg. Ao me aproximar compreendi a razão de não constar no mapa. Senhores, a vila tem umas 20 casas, todas elegantes, grandes, típicas, mas é isso.

Dona Ruth me esperava na porta da casa 11 da Ringstrade. Mas para dizer que minha guest house não era aquela, e sim 150 metros mais à frente. Lá fui eu. Heinz me recebeu com cordialidade. Aqui poucos alemães falam inglês. É uma exceção neste país notável. Mas logo em seguida chegou sua esposa, Marlene, que trabalha em Bonn, num banco.

Amigos, nunca me instalei tão bem por estas bandas. Quarto e banheiro são espaçosos, limpos, bem agradáveis. Galvão Bueno também tem belas histórias sobre acomodações em Nurbugring, em especial nos anos 80. A casa do Heinz e da Marlene é grande, bem distribuída e preservada. Está batendo aquele sono. Não tenho como colocar no ar este texto porque não há internet na casa. Marlene me explicou que a população há muito reivindica melhoras na estrutura de comunicação da região.

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 Foto: Estadão

Não sei se foi por causa do inglês da Marlene, mas o preço que me falou que cobrará não está batendo: 28 euros por dia e com café da manhã, até porque aqui não haveria mesmo onde tomar. Bem, talvez amanhã de manhã eu compreenda melhor. E conto para vocês. Combinado?

Boa noite. Ou melhor, bom dia, pois o texto estará disponível pela manhã a vocês. Deve ter passado erro no texto, escrevi rápido e não vou revisar por causa do sono. Dão licença a meus atenuantes?

Au revoir!

 Foto: Estadão
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