Massa: Estou lutando como nunca para vencer de novo.

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Por liviooricchio
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14/X/11 Livio Oricchio, de Mokpo, Coreia do Sul Amigos, entrevistei o Felipe Massa, ontem, aqui no circuito de Yeongam. Gostaria de conhecer sua opinião sobre as respostas. Obrigado.   Em 2008, Felipe Massa conquistou 6 vitórias, 6 pole positions e só não foi campeão do mundo por um ponto. Lewis Hamiton, da McLaren, na decisão épica de Interlagos, somou no total 98 pontos e Massa, 97. Emocionou milhões de brasileiros. O País estava de volta à luta pelo título na Fórmula 1. Já nas duas últimas temporadas, o desempenho de Massa despencou. Desde que passou a compartilhar a Ferrari com Fernando Alonso, colecionou apenas derrotas.   Em 2010, ficou em sexto no campeonato, diante do vice do espanhol e, agora, depois de 15 etapas, enquanto Alonso está em terceiro, com 202 pontos, Massa é o sexto, com menos da metade, 90. Nessa entrevista ao Estado, ontem no circuito de Yeongam, na Coreia do Sul, onde amanhã será disputada a sessão que definirá o grid, Massa foi literalmente colocado contra a parede. Como explicar tamanha mudança no rumo da carreira, frustrando milhares de torcedores, esperançosos em resgatar um pouco do muito sucesso da nação nesse esporte. Estado (E) - Felipe, sua imagem hoje é desgastada. Quem assiste às corridas deseja saber por qual razão você que em 2006, 2007 e 2008 conquistava pole positions, vitórias e até disputou o título, de repente, nos dois últimos anos, não consegue mais nada, sendo que seu companheiro, Fernando Alonso, com o mesmo carro, obtém tudo isso? Felipe Massa (FM) - Eu entendo 100%, lógico, também sou torcedor. Fico maluco, dependendo do jogo, com meu time. Torço não só no futebol, corrida de carro também, tenho vários amigos que correm. Nunca tive problemas para abrir um site, blog, e ler escrito que fiz uma cagada, faz parte. Hoje é fácil você expressar o que pensa na internet. Antes você não tinha uma ideia certa do que o torcedor pensava. Posso dizer que não estou tendo os resultados que quero, esses dois anos foram muito difíceis, mas o mais importante é não perder a vontade de me recuperar. Estou numa equipe forte, sempre vai ter um cara rápido do seu lado. (E) - Trabalhar com Alonso é mais difícil que com Kimi Raikkonen ou Michael Schumacher? Além do seu preparo como piloto, parece que ele gosta de ver a equipe ao seu redor, líderar o grupo. (FM) - Todo piloto gosta, trabalhei com o Schumacher e era assim. O problema não é esse. O problema é você acertar também. A equipe tem dois carros e precisa de mim, precisa de resultado com os dois carros sempre. E me respeita. E sei que posso voltar a corresponder. (E) Como você se sente ao ver Alonso regularmente mais veloz que você? (FM) - Eu analiso tudo, a primeira coisa que faço quando chego no box é pedir a telemetria, ver o que ele está fazendo, como está fazendo aquela curva e tento melhorar. Isso é 100 % aberto na equipe. O Alonso sabe tudo aquilo que estou fazendo e vice-versa. Estudamos não só o jeito de guiar e trajetória do carro, mas também o acerto de cada um para o carro. Nesse meio ninguém é bobo, aqui um é mais esperto que o outro, um mais forte que o outro. Pode ter certeza de que se você experimentou e funcionou, teu companheiro vai tentar, é tudo exposto. (E) - Você tem o mesmo tratamento do Alonso na Ferrari e dispõe dos mesmos recursos técnicos? (FM) - Sem dúvida, 100%. Se você tem um carro inferior, com menos carga aerodinâmica, a gente vê, não tem como não enxergar, temos números, nunca me passou pela cabeça que existe tratamento diferente. (E) - O que precisa acontecer para você voltar a conquistar, então, os bons resultados de até pouco tempo atrás? (FM) Continuar trabalhando para reverter essa situação. Uma hora vai acontecer, sem dúvida. Este ano houve muitas etapas onde eu estava bem, tinha ótimo ritmo, tanto na classificação como na corrida. Mas depois alguma coisa acabou acontecendo, eu caía lá para trás, perdia várias posições. Não estou dizendo que eu iria ganhar a prova, mas faria o trabalho normal que eu e a equipe esperavam. Claro que eu preciso melhorar o ritmo. Em classificação eu melhorei muito. Até o meio do ano eu estava num ritmo muito inferior, mas depois das férias de agosto a gente está brigando de igual para igual, melhorei muito. (E) - Do ponto de vista técnico, qual a sua maior dificuldade para manter o ritmo de corrida e evitar de entrar nessas situações que comprometem sua prova? (FM) - Do ponto de vista técnico não existe nada que está me atrapalhando. A gente sofre muito para tirar tudo do pneu na volta lançada. Na maioria das corridas a gente tem uma diferença entre nosso desempenho na classificação e na corrida. Temos mais dificuldades nas classificações. Já na corrida nosso ritmo é mais normal, não como o a Red Bull, lógico. Esse problema que afeta nossa classificação acabou dificultando mais o meu trabalho. (E) Stefano Domenicali (diretor geral da Ferrari), disse em entrevista ao Estado, este ano, em Montreal, que seu problema maior é a falta de autoconfiança, perdida ultimamente. (FM) - Lógico que quando você não tem ótimos resultados não ajuda. Lembro até hoje a primeira corrida que eu venci (GP da Turquia de 2006). Dali para a frente tudo mudou na minha carreira, venci um monte, várias seguidas, isso ajuda sem dúvida nenhuma. Tenho certeza de que a hora que eu voltar a vencer será assim novamente, sem que eu saiba explicar o porquê. Estou lutando como nunca para vencer de novo uma corrida. (E) - Há quem acredite que sua perda de desempenho possa estar relacionada ao acidente na Hungria, em 2009, e até mesmo ao nascimento do seu filho, o Felipinho, em novembro daquele ano também. (FM) - Nem uma nem outra. O acidente foi sério, mas lembro até hoje do momento que voltei a guiar, não só o carro, mas o kart mesmo. Fazia tudo aquilo eu fazia antes do acidente eu continuo fazendo. Lógico, voltei num momento um pouco mais difícil, tinha um carro mais competitivo antes também. Quanto ao Felipinho, quando eu entro no carro parece que tem uma coisa automática que te desliga de tudo. Você não lembra que tem mãe, pai, filho, mulher, irmão, irmã, você pensa no seu trabalho. O medo na hora de arriscar, de guiar no limite não me passa pela cabeça. (E) - Quem assiste às corridas no Brasil pela TV diz que você raramente é criticado pelo Galvão Bueno. Vocês moram no mesmo prédio em Mônaco, são amigos. Essa amizade pode estar interferindo na relação profissional? (FM) - De jeito nenhum. Tenho boa relação com o Galvão, ele é superprofissional, sabe o que fala, tem experiência com esporte. Se você comparar como o piloto brasileiro é tratado pela imprensa e como esta trata os pilotos do seu país, verá que eu não sou nem um pouco ajudado pela imprensa brasileira, de jeito nenhum. Se você olhar um piloto espanhol e ver o que a imprensa espanhola fala, faz e luta para ajudar seu piloto... a gente nunca viu isso no Brasil. O mesmo vale para um piloto japonês, inglês, são sempre ajudados. (E)- O que você quer dizer com ajudados? (FM) - A imprensa é sempre a favor do seu piloto. No Brasil não é 100% assim, a imprensa pega muito forte. É muito dura com os esportistas, não sou ajudado de jeito nenhum pelo Galvão. A imprensa tem de se preocupar mais com os esportistas da nação. Eu ando na rua, encontro as pessoas, sou tão querido no meu país, tenho um amor tão grande pelos torcedores. No GP do Brasil vejo o que a torcida faz nas arquibancadas. Esse sim é o torcedor. Mas quando você abre o jornal, encontra tudo diferente. Isso não é o que o torcedor pensa de mim, mas a imprensa. (E) - A que você atribui isso? A imprensa é mal informada? (FM) - Não. A imprensa tem informação. É a mentalidade. E sempre foi assim. É um comportamento completamente diferente da imprensa de outros países com seus representantes no esporte. (E) - Você sempre diz que toda temporada é decisiva. Mas a de 2012 será ainda mais por ser o seu último ano de contrato com a Ferrari. (FM) - Eu também acho, fazer um bom ano em 2012 será muito mais importante, fundamental para o meu futuro numa equipe competitiva na F-1, sem dúvida, por isso a vontade é maior do que nunca. (E) - Caso não permaneça na Ferrari, que caminhos profissionais você enxerga para você? (FM) - Vamos ver, vou para outra equipe (risos). Não tem outra solução, vou continuar disputando, pensando no melhor para minha carreira. Não tenho medo de nada do que pode acontecer. Sempre fui um cara com os pés no chão. Sei que se não tiver um ano bom em 2012 tudo pode mudar, tudo funciona em função do resultado. (E) - Na sua visão, com certeza há espaço em outra equipe da Fórmula 1 para você se sair da Ferrari? (FM) - Acredito que sim (risos), tipo... (pausa). Independente de não ter um bom ano, acredito que eu esteja dentre os melhores na Fórmula 1. (E) - Seu contrato termina no fim de 2012, as possibilidades de Rubens Barrichello permanecer na Fórmula 1 já na próxima temporada são, hoje, pequenas e o futuro de Bruno Senna é incerto. O Brasil pode não ter mais representante na Fórmula 1 a curto prazo. Se isso acontecer, quais as consequências, haverá queda pelo interesse no País? (FM) - (Longa pausa) O Brasil precisa de um piloto na Fórmula 1. Se não tiver, a audiência vai cair, o interesse por tudo, não sei nem se vamos continuar tendo corridas da Fórmula 1 em São Paulo. A paixão não vai diminuir, o brasileiro gosta da Fórmula 1, mas precisa de um brasileiro correndo, do seu esportista defendendo a bandeira. (E) - Você tem consciência de que hoje, dentro do coração de milhares de torcedores brasileiros, você não representa mais aquele piloto que teve como grande mérito fazê-los acreditar que era possível resgatar um pouco das emoções vividas na época de Ayrton Senna? (FM) - Não acho que seja exatamente como você está dizendo. Veja como é o nosso meio esportivo. Até há pouco tempo o Ronaldinho Gaúcho tinha acabado, já era, jogava no Milan, não ia para seleção. Tudo o que você ouvia e lia era que estava em fim de carreira. Voltou para o Flamengo, agora está na seleção fazendo um excelente trabalho e todo mundo já o coloca na seleção para disputar a Copa de 2014. Tudo muda muito rápido no esporte. O cara que falou uma coisa, na realidade falou da boca para fora. O prazer e a torcida continuam dentro da pessoa. Tenho certeza de que se no ano que vem ou no outro eu tiver a chance de ser competitivo, tudo muda e volta àquilo que aconteceu comigo em 2007 e 2008. Por isso, espero que volte logo a acontecer.  

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