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Interlagos: profundamente triste!

21/XI/11

Por liviooricchio
Atualização:

Amigos, esse é o texto de minha coluna na edição de hoje no Jornal da Tarde

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  Livio Oricchio, de São Paulo

  No próximo fim de semana, pilotos, engenheiros, chefes de equipe, mecânicos, dirigentes, agentes de marketing, jornalistas, cozinheiros, dentre outras categorias profissionais, vão trabalhar em Interlagos, no 40.º GP do Brasil de Fórmula 1.

  Como é para quem conhece todos os autódromos do calendário, dos mais recentes, como o da Índia, este ano, aos mais tradicionais e de longa história, a exemplo de Silverstone, ocupar as dependências de Interlagos?

  Curto e grosso: sem nenhuma supervalorização do que existe por esse mundo afora, por favor, como é comum a muitos brasileiros, mas Interlagos é uma vergonha nacional. Assim como a porta de entrada para quem vem trabalhar ou mesmo apenas assistir ao GP do Brasil, o aeroporto de Cumbica. Darei nome aos bois.

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  O atual prefeito é sensível às reivindicações de melhora, os administradores do autódromo são cheios de boa vontade, mas a verdade é que vem ano vai ano e Interlagos continua sendo motivo de indignação em muitos profissionais da Fórmula 1. Isso para não citar o profundo desrespeito aos milhares de torcedores que só por muito amor mesmo à Fórmula 1 insistem em ir a Interlagos. 

  O que primeiro choca em Interlagos (não há exagero no uso do termo) é a quase inexistência de paddock, área atrás dos boxes onde as coisas mais acontecem na Fórmula 1. O espaço disponível é muito menor que em qualquer dos circuitos de rua, Melbourne, Mônaco, Montreal, Valência e Cingapura. E hoje em dia projeta-se um autódromo ao redor de sua área de paddock, pela importância que assumiu no automobilismo moderno.

  Há alguns anos construíram as salas das equipes nesse paddock já exíguo de Interlagos. Antes essas salas eram definidas por divisórias de plástico dentro dos boxes. Verdade! E no melhor exemplo do descaso às verdadeiras necessidades operacionais, nas novas salas, distantes somente cerca de seis metros dos boxes, reduzindo ainda mais a área de circulação, realizaram um trabalho que virou motivo de gozação.

  As salas, longas e relativamente estreitas, têm uma porta única para entrada e saída e não há janelas. Questiono até sua segurança. Lá as equipes montam suas cozinhas, recebem seus convidados, pilotos e engenheiros se reúnem, a imprensa realiza suas entrevistas, dentre outros usos. Ah, quem desenhou as bancadas dessa cozinha improvisada não levou em conta que cada escuderia conta com cerca de 70 profissionais.

  É comum um cozinheiro segurar uma panela nas mãos ou acomodá-la no chão em razão de não haver espaço no fogão ou na minúscula bancada, concebidas sem o menor planejamento. Tudo sob a fumaça e os odores das refeições preparadas no fogão. Há um exaustor no fundo da sala, do lado oposto onde se encontram as pretensas cozinhas. Tudo muito fácil de ser constatado, hein? É só se deslocar pelo paddock nos dias do evento. Mas é preciso desejar ver, o que não parece ser o caso dos que de fato podem fazer algo para mudar essa situação que depõe contra a nação.

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  Criaram uma imensa laje na parte posterior do atual paddock, a exemplo do que fizeram em Hungaroring, para nivelar a área, pois como em Budapeste há um sensível desnível no terreno. Na Hungria, essa área plana da laje, como manda a mais elementar reflexão para construí-la, serviu para estender o paddock.

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  Em São Paulo, no entanto, por não ser projetada para receber pesos elevados, é um elefante branco. Não serve a quase nada. Se as salas das equipes fossem edificadas nessa laje, como manda a lógica, seria possível deslocar bons metros para trás a grade que delimita o paddock, o que atenderia a maior necessidade do autódromo. É uma ideia simples, funcional e redimensionaria o Interlagos. Tudo isso para me limitar à grave questão do paddock.

  Poderíamos falar com desenvoltura sobre a inexistência de rede de esgoto numa área de manancial (crime), da sala de imprensa no terceiro andar do prédio dos boxes, a ausência de isolamento acústico, os banheiros insuficientes e em geral sujos e até a total despreocupação em tornar a praça de esportes num local agradável, bonito, simpático - importante sim senhor.

  Uma vez que ficou provado no estudo da Fipe, há cerca de dez anos, que o investimento aproximado de R$ 25 milhões da Prefeitura retorna à cidade em proporção maior, portanto o evento é um bom negócio para São Paulo, para não citar o mais importante, a exposição do município para  mundo, então que o receba de forma a atender as suas exigências mínimas. Não é preciso edificar um autódromo como Yas Marina, em Abu Dabi. No caso do Brasil não faria sentido. Mas rever conceitos empregados em Interlagos numa época em que as necessidades da Fórmula 1 eram outras, bem menores.  

  Mas seria desejar demais que os profissionais do evento fossem consultados sobre o que mais lhes falta no autódromo, o que precisaria ser feito para atenuar suas dificuldades operacionais, ou ainda quem poderia fazer algo por Interlagos visse como é a coisa em circuitos de comprovada eficiência, sem dispor de luxo, como Istambul Park, por exemplo, e procurassem oferecer algo semelhante em São Paulo. Não acabou: questionassem soluções que correspondam essencialmente mais os interesses promocionais do que o melhor fluxo dos trabalhos técnicos.

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  Como brasileiro, é profundamente triste!

 

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