Começamos mal o ano

11/I/12

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Por liviooricchio
Atualização:

Livio Oricchio, de Madonna di Campiglio, Itália

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Começamos mal o ano: a FIA acabou de classificar como "legal" o sistema de controle de altura do carro desenvolvido pela Lotus, ex-Renault.

 Escrevo da sala de imprensa do Wrooom 2012, aqui em Madonna di Campiglio, na Itália. No post a seguir, no ar mais tarde, você pode ler o ultimato público de Stefano Domenicali, diretor da Ferrari, a Felipe Massa.

 Por que iniciamos com problemas 2012? Em razão de o sistema da Lotus permitir significativa melhora no desempenho do carro e, pelo que posso compreender, afrontar o regulamento.

 Explico: manter o paralelismo do assoalho com o solo gera importante elevação da performance. É o que busca o sistema da Lotus. Nas freadas, a frente abaixa menos, nas acelerações se eleva menos, e nas curvas o rolamento lateral é também menor.

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 O paralelismo do assoalho reduz a variação da pressão do ar sob o assoalho, o que significa maior geração de pressão aerodinâmica.

 Questionamos Stefano Domenicali sobre o caso e sua resposta pareceu evasiva, qualificando o sistema como não decisivo na resposta de desempenho do carro. Pela própria história do recurso, se de fato eficiente, ou seja, mantém mesmo o paralelismo, o que se ganha está longe de ser desprezível. Tudo a ver ainda, claro.

 Se você acha que estou falando da suspensão ativa enganou-se. Mas os efeitos, ainda que numa proporção menor, agora, são os mesmos. A alegação da Lotus é que o comando do sistema é realizado pelo piloto. Este deve mesmo poder atuar acionando o sistema, mas enquanto na pista faz mais sentido acreditarmos que o time desenvolveu uma forma de fazê-lo funcionar sem necessariamente a ingerência do piloto.

 Não é nem muito complexo, atualmente, do ponto de vista de engenharia, projetar um sistema que faça, por exemplo, os amortecedores reagirem de forma a obter esse efeito de o monoposto manter-se relativamente paralelo ao solo na maior parte das condições em que estiver na pista.

 E penso que foi isso que a Lotus fez. Pode até ser, mas não creio que a reação se dá nos freios, como alegam seus técnicos.

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 Por que interpreto como ilegal? Em razão de o regulamento proibir elementos que interfiram nas respostas aerodinâmicas do veículo. E esse sistema o faz de forma direta. Não é nem questão de interpretação.

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 Agora todos os times terão de projetar o seu sistema de controle de altura, podendo mascarar de novo o resultado da competição, como foi com o duplo difusor utilizado pela Brawn GP em 2009, o duto aerodinâmico da McLaren, em 2010, e o escapamento aerodinâmico da Red Bull no ano passado.

 Isso antes de o campeonato começar. Estou certo de que logo nos primeiros testes veremos mais novidades desse tipo, nova marca registrada da Fórmula 1 na era dos motores congelados, limitados a oito unidades por temporada, monomarca de pneus, câmbio capaz de suportar cinco fins de semana de competição, proibição de testes particulares etc.

 Como as limitações para se obter maior rendimento são cada vez mais acentuadas, os projetistas começam a apelar para tudo, como esses recursos que pouco contribuem para o desenvolvimento da Fórmula 1, por serem extremamente específicos para a competição e, nesses casos, sem nenhuma possibilidade de poderem ser aproveitados pela indústria automobilística.

 Vamos aguardar mais um pouco para melhor compreender o sistema e seus desdobramentos. Escrevi a partir do que compreendi inicialmente. Foi utilizado pela Lotus, então Renault, nos testes com jovens pilotos depois da etapa final do último Mundialem Abu Dabi, nos circuito Yas Marina. Ontem a FIA respondeu à consulta da equipe, definindo-o como legal. Não é a minha visão. Será prejudicial para a Fórmula 1.

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 Não se trata de podar a criatividade dos engenheiros, mas, como disse, de limitar essas interpretações extremas do regulamento que geram o caos na competição e exigem elevados investimentos das demais escuderias para adotá-las em seus monopostos. Tomara que a coisa não tenha a dimensão dos três últimos exemplos dessa natureza.

 Abraços!

 

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