WhatsApp passa a criptografar todas as conversas de usuários

Novo recurso impede que terceiros e até a equipe do serviço tenham acesso ao conteúdo das mensagens

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Por Claudia Tozzeto
Atualização:

AFP

 

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O aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp, que é usado por mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, anunciou ontem que todas as mensagens dos usuários – sejam em texto, foto, vídeo ou voz – passaram a ser criptografadas de ponta a ponta. Isso significa que apenas remetente e destinatário das mensagens são capazes de ler o seu conteúdo. O novo recurso de segurança, que impossibilita o acesso a quaisquer conversas entre os usuários, faz parte da nova versão do aplicativo.

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A novidade surpreendeu os usuários do serviço, que passaram a ver um aviso nas conversas com os amigos. “As mensagens que você enviar para esta conversa agora são protegidas com criptografia de ponta a ponta”, diz a mensagem em amarelo. “Qualquer mensagem enviada por meio de um canal público, como a internet, pode ser interceptada por terceiros”, explica a professora de ciências da computação da Universidade Federal do ABC, Denise Goya. “A criptografia permite cifrar essas mensagens para que só o dispositivo que tem a chave possa decifrá-la.”

A criptografia já era usada no aplicativo desde 2012, mas as mensagens de texto só eram cifradas durante o breve período em que ficavam armazenadas nos servidores da empresa – o WhatsApp apaga o conteúdo uma vez que a mensagem é entregue ao destinatário. No ano passado, a empresa fez uma parceria com a organização não governamental Open Whisper Systems para ampliar o uso de criptografia na plataforma. “Ao longo do último ano, nós liberamos progressivamente o suporte ao Signal Protocol para todas as versões do WhatsApp”, disse a equipe da entidade, em seu blog oficial. “A integração agora está completa.”

Privacidade. Segundo o WhatsApp, a partir de agora ninguém poderá ler o conteúdo de uma mensagem enviada por meio do serviço – isso inclui cibercriminosos, hackers, a Justiça de qualquer país ou mesmo a equipe que administra o serviço. “A criptografia de ponta a ponta ajuda a tornar a comunicação via WhatsApp privada, como uma espécie de conversa cara a cara”, disse o cofundador e CEO do WhatsApp, Jan Koum.

Na prática, isso significa que, nos casos em que a Justiça determinar que o WhatsApp precisa revelar o conteúdo da conversa para uma investigação, a empresa poderá alegar não ter condições técnicas para atender o pedido – uma vez que as chaves criptográficas não ficam em seu poder, mas nos smartphones dos usuários do serviço. Após não cumprir uma decisão semelhante da Justiça brasileira, em dezembro do ano passado, o WhatsApp foi bloqueado por algumas horas no País.

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“Embora reconheçamos o importante trabalho da Justiça em manter as pessoas seguras, os esforços para enfraquecer a criptografia arriscam a exposição de informações dos usuários ao abuso de criminosos virtuais, hackers e regimes opressivos”, disse o cofundador do WhatsApp, em nota.

Disputa. O anúncio da criptografia total do WhatsApp acontece poucas semanas após a fabricante norte-americana Apple se negar a desbloquear o iPhone utilizado por um dos atiradores do massacre de San Bernardino – ocorrido em dezembro do ano passado – mesmo depois de uma ordem judicial. A recusa da Apple retomou a discussão sobre os limites da privacidade na internet, que divide os especialistas.

“Interceptar conversas no WhatsApp é algo tão sensível quanto fazer isso numa ligação telefônica”, diz o diretor do Internet Lab, centro de pesquisa em direito e tecnologia, Francisco Brito Cruz. “É preciso pensar em outras formas de investigação menos invasivas.”

Para o especialista em direito digital Renato Opice Blum, as empresas de tecnologia e a Justiça ainda precisam encontrar um equilíbrio para garantir a privacidade dos usuários, pensando também em não atrapalhar o trabalho da polícia. “Os criminosos vão usar cada vez mais esses serviços de mensagens e precisamos garantir que eles possam ser investigados”, diz o advogado. “Ao mesmo tempo, é preciso garantir que pessoas comuns não sejam espionadas.”

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