'Estamos em uma campanha política na qual os táxis são a oposição'; diz CEO do Uber

No TechCrunch Disrupt, criador do app de transporte falou sobre críticas ao seu negócio, estratégia e crescimento rápido

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

SÃO FRANCISCO – O dono da maior startup do mundo em valor do mercado se definiria como um Darth Vader da tecnologia?

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Foi com essa pergunta que Michael Arrington abriu o TechCrunch Disrupt, em São Francisco, dirigindo-a ao diretor-executivo do aplicativo de caronas Uber. Arrington é cofundador do site TechCrunch, responsável pelo evento.

A empresa que conecta motoristas e passageiros é a maior startup da atualidade, avaliada em US$ 19 bilhões. Vem enfrentando resistência em todo a parte por causa do seu modelo de negócio, o que a torna também uma das empresas mais odiadas do momento. No Brasil, a prefeitura de São Paulo já declarou sua intenção de impedir o serviço. Na Alemanha, a empresa foi proibida de atuar em algumas cidades. Em todo mundo, taxistas organizam prostestos alegando que a plataforma promove concorrência desleal.

Diante de toda essa resistência, a empresa adota uma postura incisiva. Acusa as cooperativas de táxi de atuarem como cartel, reagem agressivamente nos lugares onde são proibidos (na Alemanha, após o app ser banido a empresa lançou uma promoção que oferecia desconto de 30% nas corridas) e afirmam ser uma empresa de tecnologia e não de transporte. Essa seria a postura de um Darth Vader da tecnologia?

“Eu não tive salário durante os primeiros anos da minha primeira empresa (Red Swoosh, de compartilhamento de arquivos), fiquei sem dinheiro várias vezes, tive que ir morar com a minha mãe. Quando você passa por coisas como essa, se torna extremamente perfeccionista. Quando você se transforma ‘no cara’ precisa ter uma postura diferente”, disse Kalanick.

O criador do Uber diz que descobriu estar no meio de um campanha política na qual o Uber é o principal candidato e o que chama de “cartéis de táxi” é a oposição. Por isso, optou por contratar David Plouffe, de 47 anos,coordenador das duas campanhas que elegeram o presidente americano Barack Obama, para lidar com o embate legal que a empresa enfrenta. Plouffe começará a trabalhar para o Uber no fim de setembro e será responsável por cuidar da estratégia, marca, comunicação e das negociações políticas da empresa. “Essas empresas fazem doações para políticos e estão fazendo lobby há décadas. Há um monopólio dessas empresas e isso causa um problema para quem quer eficiência. Eles criam um escassez de táxi para obrigar taxistas a pagar US$ 40 mil por ano pelo privilégio de ter um táxi, como acontece em Nova York. Os passageiros ficam sem opção”, afirmou.

Segundo ele, a Europa é hoje o segundo maior mercado do Uber, depois dos EUA. “Em Frankfurt (Alemanha) fomos proibidos porque disseram que cobramos um preço muito alto. Mas eles não falam qual preço deveria ser. É esse tipo de coisa que enfrentamos”, disse Kalanick. Apesar disso, o executivo afirmouque pretende se tornar mais gentil, agora que chegou ao topo. “Há diferentes maneiras de se fazer as coisas.”

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Ele também foi questionado sobre a fatia das ações do Uber que possui hoje, após a startup receber diversas rodadas de investimento. “Não acho apropriado falar disso aqui”, respondeu para Arrington, que fez piada com a resposta. “Você acha inapropriado falar sobre isso em um evento de tecnologia e negócios, onde há tantos investidores e pessoas interessadas na área?” E emendou: “Você diz que é um bilionário quando se apresenta para as pessoas?”

“Quem me conhece sabe que eu continou sendo o mesmo cara de antes”, respondeu Kalanick.

O diretor executivo do Uber disse que todo mês sua empresa cria 50 mil novos empregos em todo o mundo. Alegou não saber quantos motoristas são desativados da plataforma por mês, para efeito de comparação. “Não somos perfeitos. Nossos clientes são os motoristas e os passageiros. Tentamos criar coisas para beneficiar os dois, mas o que é bom para um lado, às vezes é ruim para o outro”, disse.

Competição

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Kalanick também foi questionado sobre a competição com o app Lyft, que possui um modelo de negócio semelhante e acusa o Uber de cncorrência desleal, de roubar seus motoristas e realizar chamados falsos de corrida por meio do seu app. “Você consideraria comprá-los só para calar a boca deles?”, pergunto Arrington.

“Nós não compramos nenhuma empresa até agora. Estamos focados em construir nosso negócio e feliz por fazer isso. Não gastamos tempo com aquisições agora”, diz.

O executivo foi questionado sobre o Uber Pool, versão do seu serviço que permite a passageiros dividir uma corrida pelo Uber para destinos próximos. Kalanick defendeu o modelo dizendo que o compartilhamento de caronas ajudará a reduzir o trânsito das grandes cidades e a reduzir os custos de compra e manutenção de carros. “Isso (Uber pool) soa como serviço de ônibus. Os taxistas querem você morto. Os fabricantes de carro também.  Com quem você não está brigando?”, perguntou Arrington.

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“A natureza desse negócio (Uber) é tão insanamente “disruptiva” que há vários negócios que teremos que persuadir a virem para o nosso lado”, respondeu Kalanick .

Um exemplo da postura destemida da empresa é sua entrada em diversos mercados, como o chinês, onde Kalanick assume que há um mercado difícil a ser explorado. “Há dois grandes aplicativos de táxi na China que brigam entre si e recebem grandes subsidíos das empresas que os apoiam, a Tencent e Alibaba”, disse. Por que, então, o Uber iria querer entrar nessa briga? “Há muita coisa acontecendo na China e várias cidades com mais de 1 milhão de moradores. O legal é que lá somos a empresa pequena. É como voltar aos velhos tempos. Por que não tentar?”, disse.

E se daqui há cinco anos o Uber falhar e tiver sido eliminada do mercado, qual seria o algoz da empresa, questionou Arrington? “Acho que o estresse vai me matar. Antes eu me estressava porque tentava fazer a empresa funcionar, ouvia milhares de nãos. Depois de quatro anos o estresse é outro. Tento encontrar maneiras de manter a sanidade e balanço porque estamos ficando maiores e olham para a gente de outra maneira. Isso é estressante”, disse,

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