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?Todos são vigiados?; diz ex-Pirate Bay

Defendendo privacidade e transparência, cofundador do Pirate Bay volta ao Brasil

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

SÃO PAULO – Peter Sunde, há anos persona non grata entre gravadoras e grandes produtoras, voltou ao Brasil. A última vez que esteve por aqui foi em junho de 2009, quando acabou sendo apresentado ao então presidente da República.

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“Na Suécia, as autoridades não podiam ouvir meu nome. No Brasil, sou apresentado ao presidente”, contou Sunde. “O Lula falou comigo, mas eu não sabia quem ele era. Eles falavam presidente, mas eu achava que era de alguma associação. Foi estranho.”

Dois meses antes, o tribunal sueco havia condenado Sunde e os outros dois fundadores do The Pirate Bay, o mais popular site de compartilhamento de arquivos, músicas e filmes, por infringir direitos autorais. Era a conclusão de uma ação que tinha por trás empresas da indústria fonográfica, do cinema e dos games como EMI, Warner Music, Sony, MGM, Activision e Blizzard.

As prisões viriam anos depois. Gottfrid Svartholm foi detido em 2012, no Camboja; Peter Sunde foi preso na Suécia, em maio; e Fredrik Neij, em novembro, na Tailândia. “Os guardas me pediam autógrafo na prisão e me agradeciam pelo Pirate Bay”, lembra Sunde.

Livre, fez declarações polêmicas, dizendo que o “movimento pirata” estava morto, que a batalha “estava perdida” e que o Pirate Bay deveria desaparecer. Agora Sunde viaja pelo mundo realizando um trabalho de evangelização de causas que ele considera essenciais.

Entre elas, os perigos da centralização na internet por empresas como Google, Facebook e Twitter; sobre a falta de transparência nos governos; e sobre como todos, e não só ele, Julian Assange ou Edward Snowden, somos alvos do monitoramento e coleta em massa de dados por agências de inteligência.

“Meu negócio é tentar fazer as pessoas conversarem e começarem a pensar por conta própria. Basicamente uso a atenção dada a mim para tentar educar e proteger as pessoas.”

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Com esse objetivo, Sunde veio ao Brasil. Ele participou do evento Cryptorave, em São Paulo, no final de semana e agora vai ao Rio de Janeiro, onde deve se encontrar com o jornalista americano Glenn Greenwald, conhecido por ter divulgado, em primeira mão, as revelações de Snowden.

TUDO EM ALGUNS

Peter descreve sua vida online como “entediante”. “Uso e-mail, Jabber (serviço de mensagens privado) e Twitter.” Fora do Facebook e outras redes, não fica sabendo de eventos comuns aos amigos e comenta sobre a dificuldade de “não fazer parte da sociedade” no ambiente online.

Isso tudo para manter informações sobre si distantes de empresas e governos. “A vigilância do governo não discrimina. Eles vigiam todos nós, guardam essas informações e, quando, por alguma razão, eles se interessam por você, eles usam aquelas informações”, diz. “E não é que eles estão monitorando cabos submarinos. Pelo Facebook, eles conseguem tudo, nós damos essas informações a eles.”

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Sunde resume o problema atual ao fato de que dados pessoais são coletados por empresas e governos através de aplicativos e serviços online que dominam cada vez mais o mercado, como WhatsApp e Facebook. “Eu tenho medo de que eles se tornem uma elite da tecnologia e inibam o crescimento de novas tecnologias fora de seus domínios.”

“É difícil fazer as pessoas se protegerem e também é impossível fazer as pessoas deixarem de usar Whatsapp ou Facebook porque todos estão lá e até agora esses apps não criaram um problema para os usuários individualmente”, diz. “E esse é o problema. Até isso [a coleta de dados gerar um problema grande] acontecer, eles vão usar os dados para algo que não sabemos bem o que é. Quando soubermos, será tarde demais. Estaremos ferrados.”

Por fim, Sunde diz que a internet “deu totalmente errado”. “Construímos a melhor infraestrutura de comunicações do mundo, super descentralizada, e a primeira coisa que a gente cria é um sistema super centralizado no topo de tudo isso.”

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STREAMING

A centralização é a razão de problemas também para a cultura, segundo Sunde. Para ele, serviços de streaming, seja Netflix ou Spotify, não resolvem o problema de garantir o acesso pela sociedade às produções culturais (como filmes e músicas) por ela produzidas.

“Esses serviços, especialmente os de música, estão baseados em um sistema centralizado, que colocam as gravadoras no centro de tudo”, diz. “O único do tipo que é visto com bons olhos por Peter Sunde é o Popcorn Time, que “está fazendo algo melhor, novo e mais interessante que o Pirate Bay”. “É engraçado ver que a Europa está se enrolando porque as leis permitem o streaming, mas proíbem o download. O Popcorn Time deu um passo à frente e agora as leis não podem controlá-los.”

“Não posso dizer que o Popcorn Time é o futuro, mas fico feliz em ver as coisas se movimentando de novo ”, diz.

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