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Site do MinC muda e recebe críticas

Portal do Ministério da Cultura é reformulado e vai ao ar em fase de testes, sem campo de buscas e com links quebrados

Por Murilo Roncolato
Atualização:

Portal do Ministério da Cultura é reformulado e vai ao ar em fase de testes, sem campo de buscas e com links quebrados

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SÃO PAULO – O Ministério da Cultura colocou no ar um novo site nesta sexta-feira, 28, e recebeu críticas de quem não conseguia encontrar informações de editais e demais programas do governo. Links antigos não funcionam e recursos criados pelo governo baseados em WordPress foram descontinuados, graças à mudança da plataforma. O Ministério diz que o site no ar está em fase de testes esperando contribuições e garante que os links anteriores serão recuperados.

Por ainda não dispôr de campo de busca, usuários tiveram problemas para encontrar seções específicas da página como o Salic Web (usado para apresentação e acompanhamento de projetos culturais). A equipe do Ministério está tendo de prestar atendimento ao usuários pelo Facebook, informando os endereços certos para cada um e até lhes enviando arquivos PDF diretamente.

 

A bibliotecária Gláucia Maindra comentou: “Tirar um site que funcionava super bem do ar é complicado! Super complicado quando o ‘substituto’ não foi devidamente testado e ‘completado’. Aliás, por qual motivo alterar o site que funcionava bem e era acessível?”

A coordenadora de Comunicação Social do Ministério da Cultura, Montserrat Bevilaqua – que chegou em Brasília junto com a ministra Marta Suplicy, no final de 2012 – é a responsável pelo novo projeto, e ela é quem explica:

“O site mudou para contemplar o projeto editorial que está articulado com o antigo sonho de descentralizar e colocar acesso e canais de participação para todas as áreas do Ministério da Cultura e para a população (…). Observamos que o site terá agregações em WordPress. Em alguns dias, lançaremos consulta pública do Vale-Cultura em WordPress. Ou seja, não há abandono de projeto (…). Vamos nos próximos dias dar mais espaços à produção dos pontos de cultura e notícias em geral que darão à população conhecimento, visibilidade e acesso à cultura em geral. O entendimento é que precisamos evoluir, dar espaço ao novo.”

Bevilaqua diz que colocar o site, mesmo que ainda “em ajustes”, no ar faz parte de uma estratégia. “Foi uma opção colocar o site no ar porque agora a gente precisa da participação da população e das secretarias para evoluir”. Segundo a coordenadora, o portal já se mostrava com “agregação suficiente” para sair da fase de testes. “Ele deixou de ser um projeto discutido só pela Comunicação do Minc e está amplamente discutido e melhorado.”

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Segundo a assessoria do Ministério, a mudança teve o acompanhamento da equipe de Cultura Digital, hoje sob a liderança de José Murilo, antigo gerente de Informações Estratégicas e responsável pelo projeto inicial do site anterior, criado em 2007 (é possível ver parte dele neste link).

Ele explica a mudança da plataforma, anteriormente em WordPress, para Liferay – software livre voltado para gerenciamento de conteúdo corporativo. “Manter a inovação com o modelo de funcionamento de TI do governo atual não tem como. Não há especialistas que a gente pode consultar para resolver um problema lá, eles entendem só de contratação. O cavalo de batalha é mesmo o modelo de TI do governo, que é muito arcaico, e não se o site está em WordPress ou não.”

Murilo, que concordou com a mudança e disse que o “layout estava defasado”, comenta que o projeto atual ficou sem orçamento para contratar técnicos especializados em WordPress (“os meninos estão mais caros”), fator levado em conta para a mudança. “É muito mais fácil contratar uma empresa para fazer as coisas, do que montar uma equipe que faça as coisas de dentro. A condição para contratar o serviço de Liferay é de que agora a equipe de TI do governo vai ter de dar suporte para o site da Cultura Digital, que está baseado em WordPress ainda.”

José Murilo lembra que na época que o projeto do Marco Civil (PL nº2126/2011) foi colocado em consulta pública, o site do Ministério da Justiça não era compatível com o sistema usado e não havia equipe de TI que o ajustasse; o que fez com que tudo migrasse para o site da Cultura Digital.

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A “equipe” montada por Murilo em 2007 era composta por apenas outros dois rapazes, levados para Brasília por dominarem WordPress. Um deles era Guilherme Aguiar, crítico da situação atual do site.

Em um artigo, Aguiar lembrava que o site antigo fora muito bem recebido (inclusive internacionalmente) e “parecia levar a uma grande revolução”.

“O portal seria um ambiente de referência para o compartilhamento de informações, aproximando os atores de todas as hierarquias. Uma ferramenta que concordava com as diretrizes políticas, públicas e sociais do governo federal (…). A evolução natural do portal do MinC e de seus códigos (livres!) era inevitável. Porém, algo aconteceu.”

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Conversamos com Guilherme Aguiar sobre a formação do projeto anterior, a mudança atual e as consequências dessas alterações que, segundo ele, representam um “retrocesso digital”.

Você era coodenador web na época da criação do antigo site?

Entrei no MinC em 2007 e fiquei até 2010. Fui coordenador de interfaces e integração de serviços na equipe do José Murilo. Na época, existia um CMS (Sistema de gerenciamento de conteúdo) próprio no MinC, chamado Waram.

A ideia do site partiu do ministro?

O Ministro era o Gilberto Gil. Na época que eu entre,i tínhamos o desafio de colocar vários hotsites das secretarias do MinC no ar, como o do DOCTV, AnimaTV, etc. O problema era que a equipe de desenvolvimento de todo o MinC era muito pequena – eu e mais duas pessoas. Como já trabalhava com WordPress, sugeri que esses novos projetos fossem feitos na plataforma. Conseguimos publicar diversos projetos em WordPress com uma equipe pequena, mas do próprio Ministério. Era prioridade do MinC lançar uma nova plataforma para agilizar a publicação dos conteúdos, e criar novos espaços de interação entre a sociedade e o MinC.

Como era a página do Ministério antes disso?

O portal era muito engessado, a publicação ficava por conta de poucas pessoas e o site não era dinâmico como precisava ser. A partir do momento que migramos o portal para o WordPress, passamos de dois editores (pessoas que publicavam conteúdos no site) para cerca de 15. A plataforma permitiu essa descentralização. Cada secretaria tinha um responsável e tudo fluía muito bem.

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O site criado em 2007, substituído nesta sexta

 
 

A mudança resolveu isso?

Sim, fora o destaque que o portal ganhou, por ter sua licença em Creative Commons e por promover maior interatividade, graças ao seu design inovador (foi destaque internacional), e por ser totalmente em WordPress (baseado em software livre), quebrando paradigmas.

Como foi durante a gestão do Juca Ferreira?

Na época do Juca ganhamos mais destaque ainda. Desenvolvemos e emplacamos muitos projetos. O portal estava muito dinâmico. A coordenação de Cultura Digital lançou o Xemelê no portal do Software Público – onde todas as nossas soluções eram disponibilizadas. Criamos o ChatCast, plataforma que permitia a transmissão de eventos em tempo real com a possibilidade de interação via chat com os internautas.

Com o Xemelê, conseguimos o aval do Ministério do Planejamento para que nossas soluções fossem utilizadas em qualquer órgão. O MinC Headlines era o principal plugin, pois foi ele que possibilitou a publicação dos conteúdos por ordem importância e não por ordem cronológica. Sei que essa solução foi utilizada em diversos portais, como do Ibama e do FNDE.

E com a Ana de Holanda?

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Na época que ela entrou, eu não trabalhava mais no MinC. Não acompanhei de perto essa questão. Mas acho que, de 2011 para cá, faltou uma área que pensasse comunicação, web e serviços digitais públicos. Essa área teria que coordenar justamente esse espaço virtual e ficar atento às novas tendências e ferramentas. O que não existiu no caso.

O que o site perdeu?

Certamente a oportunidade de evoluir.

Como você avalia o portal hoje?

Em termos de design, percebe-se a ausência de um cabeçalho, não há padrão de fontes (algumas, inclusive, estão serrilhadas independente do browser), não há uma divisão clara das áreas do site (a não ser em apenas três destaques), os banners estão jogados – uma solução realmente “amadora” para dar destaque a alguma área do site e os botões de busca e do Salic estão muito escondidos.

Percebe-se que a interface não foi bem desenvolvida, e o xhtml foi reaproveitado do CMS (exemplo). Há áreas do site sem conteúdo, mas os espaços já estão demarcados. Esses espaços estão com a marcação “Título do video”, “Título do áudio” (exemplo ). No Menu não existe destaque para as ações do MinC, como o Plano Nacional de Cultura, o Cultura Viva e os Pontos de Cultura, vários links não levam a lugar algum.

Os destaques da página são de notícias e não trazem as ações do MinC relacionadas ao tema que deveria ser o destaque. Os editais para criadores e produtores negros, por exemplo, estão em destaque na home do site do MinC mas não aparecem na página do tema cultura afro.

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O que pode ser feito para melhorar?

Espero que o Ministério ouça mais a área de Cultura Digital – pois um projeto tão importante como esse não pode ser decidido por uma área centralizadora. Hoje, como citei no artigo, “incorporar as novas tendências e ferramentas” é essencial. E para isso é importante entender o cenário.

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O que você achou do novo site? Comente!

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