Muitos produtos apresentados na feira parecem diferentes e inovadores quando anunciados, mas não decolam no mercado
O histórico das últimas edições mostra isso. Não vemos milhões de consumidores comprando docks que transformam smartphones em laptops, como o aparelho que a Motorola levou à CES no ano passado. TVs que reproduzem imagens em 3D – destaque em 2010 – parecem legais nos estandes de shoppings, mas não há produção de conteúdo que justifique tal compra em larga escala.
Assim, é preciso filtrar as tendências de consumo de tecnologia para o futuro – e uma das principais notícias da CES esse ano (a saída da Microsoft) é um bom exemplo disso. A empresa fez sua última participação na feira prometendo um 2012 ativo. Mas a verdade é que ela não conseguiu estar à altura dos grandes do século 21, como Apple e Google.
Seu principal produto, o Windows Phone 7, foi lançado há quase dois anos e recebido com entusiasmo. Mas demorou para chegar ao mercado, deixando o caminho livre para os concorrentes. Há um ano, a empresa e a Nokia se uniram, mas só agora a parceria chegou às lojas. Quase um ano – parece pouco, mas no meio digital é muito tempo.
Com o histórico de líder de mercado de software, a empresa não deve ter dificuldades em convencer fabricantes de computadores a adotar o novo Windows. Já o consumidor, que hoje têm preferido comprar tablets a computadores, terá de ser convencido que um tablet ou PC com Windows 8 realmente será um opção frente ao iPad e outros concorrentes. No fim, a maioria das pessoas deve ignorar as vantagens de uma nova interface de toque e vai comprar um computador pensando em necessidades práticas – que é acessar a internet e usar softwares para trabalhar.
Antes da abertura da feira, a despedida da Microsoft foi vista como um enfraquecimento da CES e um questionamento sobre a real importância de feiras desse tipo.
Hoje o cenário não parece ser tão pessimista. Uma pesquisa da consultoria GfK Digital World estima um ano positivo para o setor de eletrônicos. As vendas globais podem superar US$ 1 trilhão pela primeira vez (estimativa feita para 2012), apesar de uma queda no ritmo de crescimento, que deve cair de um aumento de 11% em 2011 para 5% neste ano. A entidade também tentou afastar os temores sobre o futuro da feira, dizendo que esta edição da CES foi a maior em espaço de exposição nos 44 anos da feira.
Mas, em uma época que a inovação tecnológica parte não dos fabricantes de eletrônicos mas de empresas de internet e desenvolvedores de aplicativos para smartphones e tablets, é difícil prever que a CES continuará a ter importância daqui a 10 anos ou menos.
A principal fabricante que têm ditado o rumo da inovação, a Apple, faz seus próprios eventos de lançamentos e não divide a atenção em feiras. Com a saída da Microsoft, que têm sido uma das principais empresas a participar do evento na última década, alguém ocupará o espaço deixado pela fabricante de software. Mas será um posto difícil de manter, pois terá de ser capaz de apontar um futuro de tecnologias menos mirabolantes e mais voltadas ao real interesse das pessoas.
Filipe Serrano é editor-assistente do Link
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