'Quero que os jogos brasileiros contem suas histórias'; diz chefe da divisão Xbox

No Brasil para promover o Xbox One, Phil Spencer fala sobre a ‘guerra dos consoles’, jogos brasileiros, Nintendo e futuro

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Por Bruno Capelas
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Um dos homens mais poderosos do mundo dos games está de olhos e ouvidos abertos para o Brasil: Phil Spencer, chefe da divisão de Xbox na Microsoft, está em São Paulo para promover o Xbox One durante a Brasil Game Show (BGS). Para o executivo, há algo na visita tão importante quanto dar sorrisos simpáticos ou ser enfático quando fala sobre como seu produto é superior à concorrência: conhecer os jogos brasileiros.

“Como indústria, não podemos ter só alguns grandes jogos, e os games independentes ajudam-nos a criar um ambiente diverso, cheio de alma e diversão. A cultura é brasileira é cheia de coisas que o mundo adora e quero ver isso nos games”, diz o executivo, em entrevista ao Estado na última quinta-feira, 9, durante o primeiro dia de BGS.

Desde quando assumiu a divisão de Xbox, em março de 2014, o norte-americano de 47 anos vive uma situação curiosa: por um lado, seu principal produto, o Xbox One, que chegou ao mercado em novembro de 2013, já vendeu cerca de 14 milhões de unidades, em um ritmo muito mais rápido que o antecessor Xbox 360, lançado em 2005. Por outro lado, a concorrência está bem à frente: mais de 25 milhões de PlayStation 4, da rival Sony, já foram vendidos no mundo.

Principal convidado da BGS, que acontece até amanhã em São Paulo, Spencer insistiu em falar sobre o assunto. “Não quero definir o que faço por causa da concorrência. Só quero fazer do Xbox One um produto amado e lucrativo”, diz o executivo. Apesar da disputa ferrenha com a Sony pelo mercado de games, o norte-americano não gosta do rótulo “guerra dos consoles”, acreditando que o setor deve premiar a criatividade, onde quer que ela esteja.

Na entrevista a seguir, o executivo fala mais sobre a concorrência com a Sony, lembra a importância da japonesa Nintendo, atualmente em crise devido às fracas vendas do Wii U, e comenta um pouco mais sobre os acessórios Kinect e HoloLens, ambos desenvolvidos também pela Microsoft.

Você disse que veio ao Brasil para ver os jogos brasileiros. Por que é importante ter games feitos aqui no Xbox One? Quando eu era criança, eu jogava um game de Zelda ou Mario por meses. Quando eu o acabava, eu tinha outro jogo e isso criou um revezamento saudável. Agora, os jogos online absorvem cada vez mais tempo dos jogadores. A indústria não pode ter só alguns poucos jogos e acredito que os games independentes nos ajudam a criar um ambiente diverso, cheio de alma e diversão. A cultura brasileira é cheia de coisas que o mundo adora. Queremos que os desenvolvedores e os jogos brasileiros contem suas próprias histórias.

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O Xbox e o PlayStation são grandes concorrentes, mas você já disse que não gosta do termo “guerra de consoles”. Por quê? Os videogames são uma indústria criativa, que busca criar obras de arte. Devemos aplaudir quando algo único é criado. Ignorar um jogo só por causa do pedaço de plástico em que ele é executado é uma bobagem. Como parte do Xbox, é óbvio que quero que as melhores obras de arte estejam no Xbox. Apesar da diferença de unidades vendidas, não quero definir o que faço só por causa da concorrência.

Quando o Xbox One foi lançado, ele foi vendido como uma central de entretenimento. Quando você assumiu, a divisão retomou o foco nos games. Por quê? O primeiro critério que um jogador usa para definir a compra são os jogos disponíveis e o quão bem esse console roda esses jogos. É preciso conquistar os corações e as mentes dos jogadores, e depois cuidar do resto. Os donos de Xbox One adoram usar o Skype e o YouTube, mas não é isso o que vende um console.

O sensor de gestos Kinect é um acessório poderoso para o Xbox One, mas muito pouco usado pela maioria dos jogos. Qual é o seu futuro? O Kinect é importante na nossa plataforma, mas não podemos forçar nenhum desenvolvedor a utilizá-lo. O importante para mim é poder dar escolhas aos gamers e aos desenvolvedores. Se eles quiserem usar o Kinect, eles podem.

A Microsoft recentemente relançou clássicos como Battletoads e Banjo-Kazooie e a criou a compatibilidade dos jogos do Xbox 360 para o Xbox One. Por que o passado é importante? Quando você pensa nos games como negócio, é fácil perder de vista o fato de que os personagens e as histórias dos jogos significam muito para as pessoas. Penso nos jogos que eu cresci jogando: eles são responsáveis por eu estar onde estou. Precisamos celebrar os games como comemoramos o lançamento do primeiro filme de Star Wars ou as primeiras histórias da Marvel. Quem hoje pode jogar em um Nintendo 64? Quando fizemos a retrocompatibilidade, é nisso que pensávamos: em poder trazer de volta os jogos do passado.

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A Nintendo está em crise com as baixas vendas do Wii U, e muita gente ignora o console na disputa entre o Xbox One e o PlayStation 4. O que você acha disso? Sempre é um erro ignorar a Nintendo. A experiência da Nintendo nesse negócio é muito maior do que a nossa ou de qualquer outra empresa hoje. O GameCube também não foi um sucesso de vendas, e todo mundo dizia que eles tinham perdido a mão. Aí eles vieram com o Wii, que vendeu mais de 100 milhões de unidades e venceu a nós e à Sony. A Nintendo tem essa habilidade de criar grandes sucessos após momentos de crise. É uma empresa muito forte. Quero muito ver o que eles farão agora.

Muitos brasileiros ainda estão comprando o Xbox 360 como seu primeiro videogame. O que a Microsoft tem a oferecer a eles? O Xbox 360 faz parte de uma geração incrível para nós. Ao fazer a retrocompatibilidade do Xbox One, não queríamos só privilegiar os donos de um Xbox One com os jogos que eles tinham no Xbox 360. Era igualmente importante mostrar para quem estava comprando um Xbox 360 que o investimento feito não seria perdido no futuro. O Xbox 360 é um grande console para se comprar hoje: a biblioteca de jogos que há nele é incrível. Se o Xbox 360 é o console que muitos brasileiros podem comprar, eles podem ficar tranquilo quanto à diversão que vão ter com o videogame.

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