PUBLICIDADE

Que ônibus passa aqui?

Financiado por crowdfunding, grupo cria adesivo para responder colaborativamente à pergunta comum dos pontos de ônibus

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Financiado por crowdfunding, grupo cria adesivo para responder colaborativamente à pergunta comum dos pontos de ônibus

PUBLICIDADE

SÃO PAULO – Na semana passada, os pontos de ônibus de 20 cidades passaram a exibir uma sinalização diferente. Um longo adesivo branco colado na estrutura das paradas exibe a pergunta que não quer calar: afinal, “que ônibus passa aqui?” A ação, criada por um coletivo de Porto Alegre, tem como objetivo melhorar a sinalização deficiente – e na maioria das vezes inexistente – nos pontos de parada do transporte público.

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter, no Facebook, noGoogle+ no Tumblr e também no Instagram

 

A ideia é que os próprios usuários escrevam o nome e o número dos ônibus que passam pelo local. A ação foi organizada pelo coletivo Shoot the Shit, que desde 2010 executa projetos para melhorar as cidades a partir do engajamento da população. Cansados de pedir informações a outros usuários cada vez que paravam em um ponto de ônibus diferente, os publicitários Gabriel Gomes, Luciano Braga e Giovani Groff (que não faz mais parte do coletivo) criaram o projeto em Porto Alegre no início do ano passado. “Só é possível pensar em solução quando você vive um problema”, afirma Gomes.

Inicialmente, o trio planejava criar um adesivo específico para cada ponto da cidade, com informações sobre os serviços mais próximos e um mapa da região. Como o custo seria muito alto, a ação foi sendo simplificada até chegar ao modelo colaborativo.

Para sinalizar as mais de 5 mil paradas da cidade, o grupo lançou uma campanha no site de crowdfunding Catarse solicitando R$ 6 mil para produzir os adesivos. “Colocamos o valor base em R$ 500, para não perder o que foi doado caso a gente não atingisse a meta” explica Gomes. A campanha terminou no final de fevereiro de 2012 com a arrecadação de R$ 1,8 mil.

Elogiada na web, a ideia foi inicialmente rejeitada pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), de Porto Alegre. “Eles achavam que era vandalismo e que estávamos danificando o patrimônio público”, diz Gomes. A pressão popular ajudou o trio a reverter a situação e a fechar uma parceria com a EPTC. A empresa financiou a impressão de 30 adesivos que já continham o número dos ônibus de cada ponto, além de informações como o telefone e o e-mail de atendimento ao público. “Em dezembro eles fizeram uma pesquisa e identificaram que a maioria tinha sido alvo de vandalismo. Apenas 20% permanecia em perfeitas condições”, conta .

Publicidade

Com a parceria em risco, o coletivo pediu um novo teste. “Vandalismo sempre tem. A questão é que o projeto é barato e de fácil manutenção. Se alguém arrancar um adesivo, custa R$ 1 para colocar de novo”, justifica. A demora para a produção dos adesivos por causa da burocracia que envolve a parceria com uma empresa pública, no entanto, acabou sendo um entrave para uma ação que tem como base utilizar a mobilização pela internet para simplificar a solução de um problema público.

No início deste ano, o coletivo decidiu retomar o movimento, desta vez em âmbito nacional. Eles lançaram um chamado nacional no Facebook e acionaram uma rede de contatos em outras cidades para que espalhassem a iniciativa. Em vez de financiar os adesivos, eles optaram por liberar um modelo na internet. Qualquer pessoa pode acessar o site www.shoottheshit.cc, fazer o download do adesivo, mandar imprimir e colar nas paradas de ônibus da sua cidade.

Em poucos dias, começaram a surgir no Facebook eventos para organizar mutirões para a colagem de adesivos em 20 cidades no País, como São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia. Até moradores de Lima, no Peru, traduziram o adesivo e levaram a campanha para fora do País.

Em uma semana, cerca de 6 mil adesivos foram baixados no site. Em São Paulo, a Vila Madalena, o Bairro do Limão, a Vila Mariana, o Jardim Paulistano e Cerqueira César foram os primeiros bairros a receber os adesivos.

PUBLICIDADE

Mariana Ribeiro foi uma das participantes em São Paulo. “Minha motivação é provar que, se dermos um passo além da reclamação e iniciarmos as mudanças, podemos construir um país melhor com nossas próprias mãos.”

A empresária Mônica Puoli, que também se juntou ao grupo, disse que o impacto da ação foi maior do que o esperado. “Reunimos 15 pessoas em um domingo pela manhã para agir pela cidade. Isso mostra que não podemos continuar no papel de vítimas. Podemos mudar nosso contexto sem esperar ou culpar o outro.”

Negócio. No início deste ano, a Shoot the Shit ganhou um CNPJ e um plano de negócios. A empresa se transformou no principal projeto dos organizadores, que deixaram seus empregos para se dedicar exclusivamente aos problemas das cidades.

Publicidade

O objetivo é que a receita seja obtida a partir de cursos e do desenvolvimento de projetos customizados para empresas, relacionando a solução de um problema público com uma marca.

Os fundadores também querem continuar o que chamam de ativismo 2.0. “A nossa filosofia é criar ações que não precisam de crédito ou autorização para serem replicadas”, diz Gomes.

Em altaLink
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

A Shoot the Shit já desenvolveu outros oito projetos financiados pelos fundadores ou de forma colaborativa. Um dos primeiros foi o “Salve uma vida, apague um cigarro”, lançado no Dia Nacional de Combate ao Fumo. Eles colaram 100 adesivos em pequenos postes de calçadas para que parecessem com cigarros de ponta cabeça, apagados no chão.

O uso de adesivos, aliás. é recorrente nos projetos. Uma outra campanha sinalizou uma movimentada passarela de Porto Alegre com setas para que as pessoas pudessem ir e vir de forma ordenada. “Adesivos são bacanas porque podemos retirá-los a qualquer momento se houver algum problema”, explica Gomes.

O próximo projeto, porém , nada tem a ver com colagem. Do ponto de ônibus, os jovens prometem ir às ruas e criar um novo modelo de transporte coletivo.

—-Leia mais:• Link no papel – 18/3/2013

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.