A empresa que criou o BlackBerry — ainda um telefone dominante entre executivos — acredita que os consumidores corporativos ainda terão espaço na maleta para pelo menos mais um aparelho: o PlayBook.
A Research in Motion (RIM) — fabricante do BlackBerry — mostrou o seu tablet nesta segunda-feira, 27, pela primeira vez e promete o início das vendas nos EUA para 2011, com um lançamento para outros países durante o ano que vem. Com ele, a RIM aposta em um aparelho menor e mais leve do que o iPad da Apple, que praticamente inaugurou o mercado de tablets no mundo quando começou a ser vendido em abril.
O PlayBook terá uma tela de 7 polegadas, metade do tamanho do iPad, e um peso de 400 gramas (o iPad tem 700 gramas). E ao contrário do tablet da Apple, o PlayBook terá duas câmeras, uma frontal e outra traseira.
Ele poderá servir como um segundo telefone BlackBerry, com tela maior, para os consumidores, usando uma rede segura de curto alcance do próprio telefone. Quando a conexão é cortada — por exemplo, quando o usuário anda para longe do PlayBook com o telefone — nenhum dado importante, como e-mails da empresa, fica armazenado no tablet. Fora do alcance do Wi-Fi, o PlayBook pode se conectar usando um BlackBerry e a rede da operadora de celular.
Mas o tablet também pode ser usado sozinho. Jim Balsillie, um dos executivos chefes da RIM, disse que o objetivo é que o PlayBook ofereça uma experiência completa de um computador, incluindo a exibição de sites em Flash. Isto significa que o tablet vai depender menos de aplicativos de terceiros, disse Balsillie.
“Você não precisa baixar um aplicativo do YouTube se o YouTube já está na web”, disse Balsillie, que lidera a compania junto do outro co-CEO Mike Lazaridis.
O CEO da Apple, Steve Jobs, tem resistido usar o Flash nos aparelhos da empresa, argumentando que o software tem muitas falhas e consome muita bateria.
“Grande parte do mercado tem sido definida em como adaptar a web à mobilidade”, disse Balsillie. “O que estamos lançando é o primeiro aparelho móvel criado para ser fiel à web.”
Em parte, o PlayBook é um passo para a RIM proteger sua posição como principal fabricante de aparelhos corporativos. Balsillie diz que teve encontros com responsáveis pela área tecnológica de empresas e “era o que eles estavam procurando”.
Analistas concordam que a relação próxima da RIM com clientes corporativos pode ajudar a empresa a estabelecer um nicho confortável no mercado de tablets apesar da liderança da Apple.
“Acreditamos que a RIM tem uma aceitação destes consumidores porque criou uma relação com tantas empresas, e sua tecnologia já está profundamente integrada com os departamentos de TI (tecnologia da informação)”, disse a analista do IDC Susan Kevorkian.
A RIM vai usar um novo sistema operacional, criado pela QNX Software Systems, comprada pela empresa no início do ano, para garantir o poder do tablet, mas Balsillie disse que o sistema também vai rodar os atuais aplicativos para BlackBerry.
A consultoria IDC prevê que o mercado corporativo de tablet vai crescer, tomando uma parte significativa das vendas deste tipo de aparelho, nos próximos anos. A previsão é de que 11% das vendas de tablets (6,5 milhões de unidades) sejam para empresas, governos e escolas em 2014. Neste ano, eles devem ser 2%, ou 300 mil unidades. E a conta da consultoria não inclui os consumidores que compram os tablets por sua conta, para o trabalho.
A RIM não quer que o PlayBook seja só para o trabalho — a empresa convidou a produtora de games Electronic Arts para ajudar o PlayBook no lançamento nesta segunda-feira em São Francisco –, mas está claro que suas vantagens são para os clientes corporativos.
Depois do iPad, houve uma chuva de concorrentes, então a RIM não vai competir sozinha neste mercado. A Dell começou a vender o Streak em agosto, e a Samsung planeja lançar o Galaxy Tab no mês que vem nos EUA.
/ Andrew Vanacore (ASSOCIATED PRESS)