Pinterest é um vício; uma plataforma de reforço de estereótipos idealizados e um baú de sonhos

"É sempre a mesma coisa: ligo o computador, entro no Pinterest e me perco no agitado ciclo de interesses, esperança, inspiração, inveja, desespero e depressão"

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Por Redação Link
Atualização:

“É sempre a mesma coisa: ligo o computador, entro no Pinterest e me perco no agitado ciclo de interesses, esperança, inspiração, inveja, desespero e depressão”

Por Petula Dvorak, jornalista e colunista do Washington Post

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Foram 17 tentativas em três dias para escrever esta coluna. É sempre a mesma coisa: ligo o computador, entro no Pinterest e me perco no agitado ciclo de interesses, esperança, inspiração, inveja, desespero e depressão.

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O Pinterest é uma droga digital para mulheres. E ele só cresce. No mês passado, foram 11 milhões de visitantes, segundo a revista Forbes. O mundo da tecnologia está em polvorosa com o fato de ele ter atraído 10 milhões de usuários em menos tempo do que qualquer outro site.

 

É um álbum de esperanças, sonhos e desejos de adultos, principalmente de mulheres. O que leva à questão: será que é saudável que mulheres crescidas percam tempo montando um enxoval de casamento virtual?

As usuárias de Pinterest inventam para si regras típicas de viciados em negação do vício: “só depois das nove da noite”, “só nos fins de semana e nunca no trabalho”. Uma delas comentou no fórum Urban Moms, “sinto ter sido apresentada a este site. Ele vicia muito”.

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O Pinterest surgiu no momento certo: quando o Facebook já não era mais tão novidade assim, já provou que seu ex é medíocre e já transformou sua mãe e seu patrão em seus “amigos”.

Ao contrário do Facebook e do Twitter, em que sempre acaba ficando óbvio que sua foto é de 1987 e suas viagens não têm sido mais exóticas do que uma ida à praça de alimentação do shopping, os murais do Pinterest divulgam apenas seus sonhos, o estilo Bordeaux a que você aspira, em vez da vida Sangue de Boi que você leva.

Em casa, criamos um jogo que sublinha o otimismo das fotos ali. Meu marido diz uma palavra e eu faço a busca.

“Rolos de papel higiênico?” Delicadas esculturas de parede, embalagens de presente de casamento, vasinhos de planta e corujas feitas com eles.

“Pererecas?” Pererequinhas graciosas, um prato de comida japonesa que forma uma rã usando os ingredientes, unhas postiças delicadamente pintadas com imagens desses anfibiozinhos.

“Tampa de garrafa?” Colares, bolsas e decorações de parede. “Caixa de areia do gato?” Bolo de areia de gato (nojento). “Nevasca?” Bucólicos flocos de neve caindo. “Óleo de motor?” Vasos.

O Pinterest é feito de fotos de catálogo e editoriais de revista, um repertório idealizado e estilizado que eu escolhi afastar da minha vida porque inevitavelmente faz que eu me sinta incompetente, desordenada. Um caso perdido.

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O fundador do site, Ben Silbermann, de Iowa, Estado no meio-oeste dos EUA, diz que o alvo do Pinterest são os americanos médios. “As primeiras pessoas que entenderam o site foram principalmente as mulheres em Des Moines, que fica em Iowa, depois Minneapolis, em seguida Houston e Chicago. O Meio-Oeste, e Iowa em particular, estão desproporcionalmente representados na nossa base de usuários”, disse Silbermann à Forbes. Tudo ali é tão menininha que eu quase chego a pensar que o site faz parte de um complô sinistro para envolver as mulheres em trabalhos manuais e desviá-las da ação política. Voltem à cozinha e ao tricô, minhas senhoras!

Mas não se engane, os tentáculos do site são mais longos, vão bem além de Iowa. As mulheres em Nova York, Los Angeles e Washington também já foram enredadas. Quando entrei, vi que um terço das minhas amigas – bem-sucedidas advogadas, executivas, professoras, engenheiras de TI – estão pinando como loucas.

E, no fim, acabei achando que ele pode ser uma boa coisa. Foi graças a Susan Niebur. Ela era uma blogueira e astrofísica em Washington que morreu neste mês, deixando dois filhos pequenos, mais de sete mil seguidores online e uma comunidade online de pessoas em luto por sua morte.

Como tinha poucos anos de vida após o diagnóstico de câncer de mama letal, aos 34 anos, Susan criou seu blog, foi uma boa mãe e viveu forte e grandiosa até o fim.

E ela depositou suas esperanças e sonhos no Pinterest, compartilhando ideias, novas coleções de moda e livros de que gostava até os últimos dias. Sua página, da forma como ela compôs, permanece. Um baú de sonhos e pensamentos para deixar atrás de si. Talvez não seja tão mau.

/Tradução de Terezinha Martino

—-Leia mais:• Pin Ups: conheça o Pinterest • Se for pirata, a culpa é do usuárioLink no papel – 27/2/2012

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