Pergunte aí

Jonh Weschler é o criador do Formspring.me, site em que qualquer pessoa pode fazer perguntas anônimas

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Por Fernando Martines
Atualização:

Foi de repente. Em algum momento do fim do ano passado, sem aviso prévio. Quando fomos dormir, a nossa vida digital era um mundo conhecido: Orkut, Facebook, MSN, Gmail e Twitter. Quando acordamos, um novo elemento já havia se espalhado e estava presente em todas as partes: o Formspring.me.

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A nova febre era um site em que você criava seu perfil e aguardava as pessoas fazerem perguntas. Até aí, tudo igual ao que já existia. O grande diferencial era a opção do anonimato.

A partir de então você podia perguntar àquela garota com qual menino da sala ela gostaria de sair ou ao seu chefe quais as características que ele gosta em um funcionário. Sem o risco de levar um fora. Sem o risco de parecer puxa-saco.

Do mesmo jeito que veio, foi. Também de repente todos deixaram as contas abandonadas. Pelo menos essa é a impressão que ficou para muitos usuários. Mas essa impressão está errada.

O Formspring.me é atualmente o 32º site mais acessado do Brasil – país onde o Formspring está mais bem colocado no ranking do Alexa. O Brasil representa a segunda fonte de tráfego ao site, atrás apenas dos Estados Unidos. “No fim do ano passado, o Formspring.me gerou uma certa histeria em todos os lugares e também no Brasil. Todos usavam, todos falavam e o serviço cresceu muito. Agora ele se estagnou, por isso essa impressão”, explica John Wechsler, que criou o site com o sócio Ado Olonoh.

Diferente de Biz Stone, Evan Williams e Jack Dorsey (Twitter), de Mark Zuckerberg (Facebook) e do Sr. Orkut, Wechsler e Olonoh não tinham nenhuma intenção de criar um ambiente social dentro da internet. Até julho do ano passado, eles eram apenas donos do Formspring.com, um site que facilitava a criação dos chatos formulários usados por empresas. Mas naquele mês eles repararam que as pessoas estavam criando formulários para elas mesmas e postando em seus blogs, com o título de “Formspring Me” (algo como “Pergunte para mim”).

“Vimos que cerca de 30 mil pessoas estavam fazendo isso e pensamos: temos que dar um jeito de as pessoas fazerem isso de forma muito mais fácil”, contou Wechsler em entrevista ao Link. “Assim nasceu o Formspring.me, que na verdade não era nada mais do que as pessoas já estavam fazendo, incluindo o nome.” Ele e o sócio lançaram o serviço como o conhecemos no dia 25 de novembro do ano passado.

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Mais um perfil? O Formspring.me tem uma tarefa ingrata: convencer as pessoas que já usam Facebook, Twitter, Orkut e MSN a gastarem mais tempo do seu dia em outra rede social. A seu favor, conta com o elemento do anonimato, que estimula conversas que não são comuns quando os interlocutores são identificados.

Confrontado com esse argumento, no primeiro momento Wechsler discorda: “Formspring.me é um microcosmo do mundo que vivemos. As pessoas falam dos mesmos temas de que falam na vida real, não acho que no site fale-se mais ou menos sobre qualquer assunto”. Jura? “Tudo bem, o anonimato realmente encoraja as pessoas e facilita conversas sobre tópicos de que elas não falariam de outra forma”.

A relutância de Wechsler em constatar o óbvio é reflexo de uma campanha forte que vem sendo feita contra o Formspring.me. Com a mesma velocidade que o site se alastrou, também gerou rejeição de pais e mães. O site é o ambiente perfeito para ataques covardes: sem sair de casa e de forma anônima, é possível fazer qualquer pergunta ou brincadeira maldosa. O receio com o potencial negativo foi elevado ao status de março, quando a garota Alexis Pilkington, de 17 anos, suicidou-se, ao que tudo indica, após ler mensagens ofensivas em seu perfil no Formspring.me. Uma reportagem do New York Times de 5 de maio define o site como “a nova porta de banheiro das escolas”, onde os jovens insultam uns aos outros.

Wechsler se defende: “No mundo online e offline, temos que viver sob regras. Se você for um bom cidadão, nada lhe acontecerá. Mas se você cometer um crime ou algo ilegal, terá de ser punido. Nós temos uma política muito clara de contribuir com as autoridades de todas as formas possíveis quando um crime é feito usando o Forsmpring.me, passando todos os dados e informações e de forma rápida”.

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Livre arbítrio. A ferramenta nasce das mãos e da mente de um criador, mas quem direciona o seu uso é o público. Após certo tempo, o criador passa a ser (por muitos) responsabilizado pelo uso da ferramenta – algo que na verdade já não está mais no seu controle (ou melhor, nunca esteve, desde o momento que foi criada). O Google passou por isso na Itália: executivos da empresa foram condenados à prisão porque usuários postaram vídeos em que adolescentes insultavam um colega num site da empresa. No Brasil, a empresa dona do maior site de buscas da web foi condenada a pagar R$ 15 mil a um padre que foi difamado por anônimos no Orkut.

Como contraponto aos aspectos negativos, Weschler cita outros usos de seu site. “Temos casos como o de uma instituição que conversa com pessoas que estão com câncer mas não querem revelar seus nomes para confortá-los e um rabino em Nova York que usa o Formspring.me para conversar sobre religião com as pessoas que não querem se identificar”.

Em português. O Formspring.me não gera lucro. O site sobrevive apenas do investimento de US$ 2,5 milhões feito por investidores do Vale do Silício em janeiro e conta com dez funcionários. O próximo grande passo é abrir a API e permitir que desenvolvedores façam aplicativos do Formspring.me “tanto para iPhone e iPad, quanto para Android e desktop”, afirma Wechsler. Além disso, eles estão considerando colocar publicidade “mais para frente”.

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Quanto ao Brasil, Wechsler conta que pretende traduzir o site para português e integrá-lo ao Orkut, mas “não tão em breve”. Caso você tenha uma pergunta para ele, é fácil: basta procurar por John Wechsler no Formspring.me. Ele atualiza de forma muito constante seu perfil. E você ainda pode fazer isso de forma anônima.

Espeto de ferro no lar do ferreiro

Em seu perfil, Wechsler passa por uma sabatina – principalmente de usuários anônimos – que perguntam sobre temas que vão desde privacidade e insultos no site até qual o melhor sushi de São Francisco (EUA). Aqui estão algumas das perguntas (e respostas) mais interessantes e aprovadas por ele nesta grande entrevista coletiva online.

O que você tem a dizer sobre aqueles que dizem que o Formspring.me aumenta a perda de privacidade na web? Todas as perguntas são confidenciais, até você respondê-las. As pessoas também podem deletar dados, que assim nunca serão públicos. Nada é publicado sem a permissão do dono da conta. É como um blog: você decide o que é deletado e o que é publicado.

O que fazer quando há algum ataque pessoal covarde? Se você conhecer a pessoa, você pode conversar com ela e dizer que não gosta disso. Se você souber qual o perfil dela no Formspring.me, pode nos avisar, pois ela está violando um dos termos de uso e vamos agir. Se você acha que é um crime, fale com as autoridades de sua cidade.

Quais são suas considerações sobre pessoas que postam insultos no Formspring.me? Felizmente é apenas uma parte muito pequena da nossa comunidade de 135 milhões de pessoas que já visitaram o site, que fazem isso. A melhor coisa a se fazer é não responder. Lembre-se: nada é público até você responder a questão. Além disso, todos podem habilitar o modo em que ficam proibidas questões anônimas.

Vocês têm meios de identificar qual perfil escreveu as mensagens? Sim. E estamos assumindo uma postura agressiva na cooperação com as autoridades para aplicar a lei contra pessoas que usam nosso serviço para criar problemas.

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Pergunte o que quiser ao governo. Mesmo.

No Formspring.me você não encontra uma profusão de celebridades, políticos e esportistas como no Twitter. Mas não é difícil apontar qual o perfil mais funcional do site – pelo menos aqui no Brasil. É o do Governo do Estado de São Paulo (/governosp), que responde às perguntas mais específicas que se possa imaginar. Veja só:

A Rota é exclusiva da cidade de São Paulo ou ela opera em outras cidades do Estado? A Rota só existe na Capital, mas sua jurisdição é estadual. Conforme determinação do Comando da Polícia Militar, ela é deslocada para o interior e para o litoral.

Pode-se ter spray de pimenta para uso defensivo? O spray de pimenta é uma arma não-letal, projetada para ser usada na incapacitação de pessoas, sem gerar lesões permanentes. A utilização é permitida apenas às Forças Armadas e as entidades policiais civis e militares.

Perdi o número de um processo de falência de uma empresa e preciso desse número. Tem algum site que dê para eu achar esse número? Se você tiver o nome das partes e a localização exata do processo (1ª ou 2ª Instância e local onde tramita), é possível fazer a busca no site www.tj.sp.gov.br, no campo “Consulta de Processos”. Contudo, os resultados da busca sem o número podem trazer informações de mais de um processo.

Por que a estação Consolação fica na Paulista e a Paulista fica na Consolação? O Metrô possui um código normativo que estabelece critérios quanto às características, conteúdo e forma dos nomes de suas estações. Um dos critérios utilizados para a denominação de estações é o da referência urbana. Como a referência mais importante para os usuários da Linha 2-Verde, do Metrô, na Estação Consolação, é a Rua da Consolação, a escolha de outro nome não seria adequada. O sistema deve ser visto como um todo e a programação de uma viagem leva em conta as referências urbanas: primeiro o nível metropolitano, depois o distrital, em seguida o bairro, e por fim, local.

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