PUBLICIDADE

O futuro da internet na Campus Party

"Pais da internet", Al Gore e Tim Berners-Lee participaram da abertura da feira nesta terça

Por Rafael Cabral
Atualização:

Quando pensou em criar a World Wide Web, o inglês Tim Berners-Lee, na época empregado da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN), imaginava a futura rede como um espaço aberto e de colaboração contínua, mas não poderia prever a proporção que ela tomaria quando a maior parte da população estivesse conectada. A plataforma pensada por ele – já potencialmente transformadora desde a ideia de descentralização – se tornaria revolucionária apenas quando as pessoas começaram a usá-la para criar mais e mais inovação. Quando nasceu, a rede parecia impressionante por si só, mas era só o começo.

PUBLICIDADE

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter e no Facebook

“A coisa mais interessante sobre a web é que ela se tornou a base para milhares de outras invenções tão importantes quanto ela. Várias tendências interessantes estão sendo lançadas agora, como o HTML 5 (que não é apenas uma linguagem nova para criar sites), ou a mobilidade, que levou a web até gente que não conseguia comprar um computador. Vemos indivíduos trabalhando sozinhos e outros colaborando com pessoas que conheceram na rede. As pessoas não param de criar coisas na internet”, disse ele na sua fala de abertura na quarta edição da Campus Party, nesta terça-feira, 18.

Para ele, o próximo passo na evolução da internet é a aprimoração dos sistemas democráticos. Entusiasta da liberação de dados de governos e criador do site Data.gov.uk (em parceria com o governo britânico), Berners-Lee acredita que a transparência através dos meios digitais pode ajudar a melhorar a governança dos países abertos. Os dados produzidos pelo governo, pagos por impostos, devem ser abertos. Isso possibilita que as pessoas peguem os dados brutos e conectem os pontos de uma maneira nova, criando novos sentidos para entendermos melhor como o mundo funciona. Tudo tende a funcionar melhor dessa maneira”, argumenta.

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ecologista-modelo Al Gore, que dividia o palco com ele, concordou e foi bastante aplaudido. Também apresentado como um dos vários “pais da internet”, o democrata pode não ter parte no lado técnico da rede, mas foi um dos mais importantes apoios políticos para a sua disseminação e consolidação nos Estados Unidos.

“Podemos construir uma verdadeira democracia, com mercados que de fato são abertos. A internet deve ser usada pelas pessoas para que o governo funcione como deveria. O governo não é eficiente porque ainda nao se adaptou às possibilidades da internet e da web, e os cidadãos podem levar a essa revolução”, disse, para depois soltar um slogan que o fez ser ainda mais aplaudido pela plateia, que antes fazia olas (como as de estádio de futebol) para saudá-lo. “Defenda a internet, não a deixe ser controlada por governos ou grandes corporações! É uma rede de pessoas!”, bradou.

No entanto, a empolgação de ambos cessou quando o mediador do debate, o editor da Wired inglesa Ben Hammersley, fez uma pergunta um pouco mais difícil: O WikiLeaks, o polêmico site de liberação de documentos, também se insere nesse contexto de democratização e transparência? Tanto Gore quanto Berners-Lee deram voltas e voltas argumentativas, mas não responderam a pergunta. Dados privados são outra história, disseram.

Publicidade

O programador e cientista da computação Vint Cerf — outro “pai da internet” — participou da apresentação com um vídeo gravado.

FRASES

“A internet deve poder ser usada para qualquer coisa. A web não deve ser usada apenas para veicular boa poesia, até porque isso é subjetivo, mas deve ter literatura de todo jeito. A diversidade é fundamental. A web só funciona porque é descentralizada.” — TIM BERNERS-LEE

“Informação é poder. Governos livres não deveriam temer o poder das pessoas, mas infelizmente muitos deles tentam controlar e censurar a internet. Eu achei por muito tempo que seria impossível que eles conseguissem, mas várias nações estão conseguindo barrar o fluxo de informação que circula pela internet.” — AL GORE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.