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Os piratas sempre vencem

O cerco a serviços de compartilhamento de arquivos só incentiva as pessoas a procurar outras alternativas

Por Redação Link
Atualização:

O cerco a serviços de compartilhamento de arquivos só incentiva as pessoas a procurar outras alternativas

Nick Bilton, do New York Times*

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Acabar com a pirataria online é como jogar o maior jogo do mundo de Whac-a-Mole (Acerte a toupeira). Você martela um alvo e inúmeros outros aparecem. Rapidamente. E o martelo é pesado e lento.

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Tome como exemplo o YouTube. O site de vídeos oferece gratuitamente uma ferramenta para estúdios de cinema e redes de TV chamada Content ID. Quando um estúdio publica um vídeo de um filme protegido por direito autoral no YouTube, a ferramenta automaticamente localiza e bloqueia as cópias.

Para contornar este obstáculo, alguns usuários começaram a incluir nos vídeos uma foto estática de um gato assistindo a um velho aparelho de televisão. O algoritmo Content ID tem dificuldade para identificar que o vídeo viola direitos autorais; apenas constata que há um gato assistindo à televisão.

Depois existem aqueles – possivelmente dezenas de milhões de usuários – que compartilham e baixam arquivos com o protocolo BitTorrent.

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No início deste ano vários países conseguiram bloquear o acesso ao Pirate Bay. Em retaliação, os piratas liberaram o código-fonte do site. Qualquer interessado poderia baixá-lo. As pessoas começaram então a criar centenas de novas versões do site e a pirataria continua imbatível.

Assim, martelar uma grande toupeira criou centenas de outras menores.

O Pirate Bay e outros estão continuamente um passo na frente. Em março, “Mr. Sock”, um colaborador do site, anunciou que a equipe pretende criar drones que flutuariam no espaço permitindo às pessoas baixarem conteúdo com transmissores de rádio sem fio.

“As máquinas terão de ser desligadas com aviões para o sistema ser desativado. Um verdadeiro ato de guerra.” Alguns sites estudam a possibilidade de armazenar os servidores em caixas fortes de banco. Já propuseram que o Pirate Bay mantenha os servidores embaixo da água.

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“A pirataria não vai desaparecer”, diz Ernesto Van Der Sar, editor do site Torrent Freak. Para ele, as empresas precisam parar de combater a pirataria e começar a testar novos meios para distribuir conteúdo.

Os detentores de direitos autorais acreditam que novas leis vão acabar com a pirataria. Mas, para muitos, qualquer lei só vai incentivar as pessoas a encontrar novas maneiras criativas de obter o conteúdo que desejam.

Acesso. “Os programas de TV mais baixados no Pirate Bay são aqueles que não estão legalmente à disposição online”, disse Holmes Wilson, codiretor de Fight to the Future, ONG que tenta impedir que leis antipirataria afetem a internet.

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A série Game of Thrones da HBO é um exemplo típico. A cada semana o programa é baixado ilegalmente mais vezes do que é assistido na TV por assinatura. Se a HBO colocar o programa online, o valor cobrado seria irrisório em comparação com o dinheiro que ela ganha por meio das operadoras de TV paga. Wilson acha que as grandes empresas de mídia não desejam realmente resolver a pirataria.

“Se cada programa de TV fosse vendido a um preço justo para todos, haveria menos violações de direito autoral”, disse. “Mas diante do monopólio de empresas de TV a cabo e criadores de conteúdo, na verdade eles podem até lucrar menos.”

A maneira como as pessoas baixam conteúdo não autorizado está mudando. No começo da pirataria de música, elas transferiam os arquivos para seus computadores. Hoje há o streaming. Alguns sites permitem downloads automáticos de programas. É um tipo de pirataria sob encomenda muito mais difícil de conter.

E agora a pirataria chega ao mundo físico, com impressoras 3D que produzem objetos. Digamos que você precise de um cabide de parede ou queira substituir uma peça que se soltou de uma mala. Você pode baixar um arquivo e “imprimir” os objetos com impressoras que aplicam camadas de plástico, metal ou cerâmica baseados em um molde.

E as pessoas começam a compartilhar arquivos que contêm diagramas esquemáticos de objetos físicos nos sites de BitTorrent. Os proprietários de conteúdo vão se ver presos às barreiras legais, já que as leis de direito autoral não se aplicam a objetos físicos tradicionais.

Na versão tradicional para fliperama do Whac-A-Mole, quase sempre o jogador perde. Na versão da corrida armamentista da pirataria, não parece haver uma conclusão. Cedo ou tarde, quem acha que é possível acabar com as toupeiras só com um martelo, perceberá que o seu tempo seria melhor empregado para criar um jogo completamente diferente./ TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*É jornalista e colunista do New York Times

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—-Leia mais:Link no papel – 10/09/12

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