Olhos de quem vê

Brasileira partiu do design gráfico para a visualização de dados, estudou no MIT e tem trabalho no acervo do Museu de Arte Moderna de NY

PUBLICIDADE

Por Carla Peralva
Atualização:

Vida Digital – Fernanda Viegas

PUBLICIDADE

Quando a revista Fast Company listou Fernanda Viégas entre as mulheres mais influentes do mundo da tecnologia, seu nome repercutiu no mundo todo, principalmente aqui no Brasil. Paulista com sotaque carioca, Fernanda trabalha com visualizações de dados, disciplina que busca organizar informações de forma que elas possam ser lidas visualmente. Na época em que listas de e-mails e salas de bate-papo eram as ferramentas mais usadas na internet, ela começou a criar visualizações de e-mails pessoais.

Nelas, era possível ver com quais pessoas você mais conversou e a evolução dos temas tratados com cada uma. O projeto que a consagrou, no entanto, é mais que uma visualização. O Many Eyes, feito em parceria com Martin Wattenberg, é uma plataforma onde qualquer pessoa pode subir um banco de dados, personalizar um modelo de visualização e compartilhar o que foi criado. Esse sistema é usado pelo New York Times para fazer muitos de seus infográficos. É a própria Fernanda que nos conta sua trajetória, seus projetos e suas convicções em relação à visualização de dados.

Indecisa “Eu comecei a universidade no Brasil. Tentei engenharia química na UFRJ, fiz um pouco de linguística na UERJ, mas não me achava. Fiquei sabendo que, nos EUA, eu poderia estar indecisa e trocar de curso quando quisesse e me interessei. Consegui uma bolsa de estudos, vim para cá e me formei em design gráfico e história da arte.

Mas comecei a ver que não queria ficar fazendo as coisas tradicionais da profissão. Quando ouvi falar do Media Lab, do MIT, um centro de pesquisas interdisciplinar, achei muito legal e fui para lá fazer mestrado e doutorado. Aprendi a programar e me apaixonei por visualização de informações. Meu interesse sempre foi usá-la para tentar entender as comunidades online.

Em 2005, virei pesquisadora da IBM e foi nessa época que fiz o projeto Many Eyes com o meu colega Martin Wattenberg. Em abril deste ano, decidimos sair da IBM e montar nossa própria empresa, a Flowing Media.”

Espelho “A Flowing Media oferece serviços de estratégia, design e implementação de visualização de dados. Por enquanto, estamos fazendo só consultoria e aproveitando esse período para entender em que tipos de projeto e dados as pessoas estão interessadas para, mais tarde, criarmos um produto, uma ferramenta.

Publicidade

A gente está muito interessado no mercado do Brasil. Eu vejo muita oportunidade de fazer projetos legais que tenham a ver com mídia e redes sociais. Um dos nossos grandes focos é se voltar para o Brasil e pensar o que podemos fazer de novo no País, o que o Brasil pode mostrar para o mundo. Por exemplo, eu reparei como no último Big Brother Brasil a galera foi à loucura no Twitter, um absurdo. E não tem nenhuma forma legal de você capturar, mostrar essa conversa. A gente está muito a fim de pegar justamente esse burburinho que está acontecendo naturalmente e mostrar para a sociedade, criar um espelho.”

Ver para democratizar “Uma das grandes razões pelas quais visualização é atraente para mim é o fato de ela ser realmente um canal poderoso para colocar pessoas em contato com assuntos que geralmente são muito complexos. A partir do momento que você consegue mexer com determinadas informações, você se transforma em um consumidor muito mais sofisticado desse tipo de mídia.

Então, quando o governo fala que tem dados abertos ou que tal indicador está subindo ou descendo, você vai olhar aquilo de uma forma muito mais crítica. Vai parar e pensar: “Será que esse gráfico é a melhor maneira de isso ser representado ou será que há uma agenda por trás disso?”. A ideia da Flowing Media é justamente democratizar tecnologia de visualização de dados para que isso vire parte do dia a dia das pessoas. Para que elas entendam que vivem em um mundo cada vez mais rico em dados e que várias decisões a respeito da vida e do país delas são tomadas a partir desses dados. Com certeza, as pessoas entenderem o que está acontecendo à sua volta e saberem como consumir este tipo de informação é de extrema importância para mim.”

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.