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Olha! Sem a Microsoft!

O Kinect só tem 12 jogos, mas ganha funções infinitas com a criatividade dos hackers

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Imagine um Super Mario controlado pelos seus movimentos: quando você pula, ele pula. Ou uma air guitar que produz um som de verdade. E imagine um game pornô em que o personagem é controlado não por um mouse ou teclados, mas pelo corpo do jogador. Essas possibilidades existem – e são só alguns exemplos de como o Kinect, sensor de movimentos do Xbox 360, pode ser usado – de forma extraoficial. Desde seu lançamento, ele despertou cobiça entre quem trabalha com computação: dá para ir além dos 12 games já lançados?

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A corrida pelo primeiro driver open source para Kinect (a chave que possibilitaria a ligação do dispositivo a outros aparelhos, como um PC comum) começou no dia do lançamento, 4 de novembro de 2010. A Adafruit , empresa criada por um aluno do MIT, lançou o concurso: o primeiro a criar um driver para Kinect embolsaria US$ 3 mil. Passaram-se apenas quatro dias até que Hector Martín, um espanhol de 20 anos, conseguisse ligar o Kinect a um PC e gerar imagens RGB. Detalhe: ele nem sequer tinha um Xbox.

Martín inaugurou ali um mundo de possibilidades. Os drivers open source começaram a ser usados para finalidades tão díspares quanto comandar o mouse em um PC equipado com Windows 7 ou embarcar no mundo do sexo virtual. “Com os drivers, em poucos dias conseguimos criar uma funcionalidade ao nosso game”, conta o norte-americano Brad Adams, vice-presidente da Thrixxx, empresa especializada em jogos pornô. Foram eles os primeiros a aplicar a tecnologia de detecção de movimentos para fins adultos – e, segundo Adams, a demo divulgada teve dois milhões de views no dez primeiros dias de divulgação. “Foi mais interesse no ‘game sexual para Kinect’ do que na própria demo do driver open source”, diz.

O joguinho da Thrixxx simula sexo virtual entre dois avatares. Só que, com o Kinect, em vez de movimentar os personagens com controles, usa-se o próprio corpo. “Nossas vendas já dobraram desde que anunciamos o suporte ao Kinect”, diz o executivo, lembrando, porém, que a nova versão do jogo ainda não está à venda. A empresa diz que disponibilizará a API da tecnologia desenvolvida por eles para mais aplicações – como sites de namoro por webcam.

Saindo da área adulta, o hack que usa o Kinect para controlar o Super Mario World é um dos mais legais. Feito para celebrar os 25 anos do personagem, o game roda em um PC com um emulador de Nintendo e transforma o corpo no controle para o Mario. “Eu poderia ter feito um teclado simulado para pressioná-lo com as mãos, mas acho que movimentos de corpo inteiro estariam mais no espírito do Kinect. Mas, claro, o Mario não foi feito para jogar desse jeito, então é bem difícil”, explica o hacker, que se apresenta apenas como “Yankean”.

Mas os hacks vão além dos games. Tem gente fazendo arte ou usando o Kinect para, por exemplo, controlar apresentações em Power Point – basta um movimento com as mãos no ar para avançar para o próximo slide. O Kinect também pode servir de controle para o Windows 7. Braços e voz tomam o lugar do mouse e teclado para abrir e fechar janelas. A tecnologia ainda é multitoque. Também já foram apresentadas as integrações do Kinect com o Adobe Flash e com o Silverlight.

“Isso prova que há um interesse genuíno em usar o Kinect ou sensores similares para além dos jogos”, disse ao Link Joshua Blake, programador e fundador da comunidade OpenKinect. Hoje eles têm mais de 1,6 mil pessoas na lista de discussão, entre aqueles que colaboram com os software ou só assistem a evolução do projeto (leia entrevista ao lado), que acontece sobre uma biblioteca aberta. Estima-se que já tenham sido criadas mais de 200 novas aplicações para o sensor da Microsoft – tudo isso em apenas dois meses.

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E a Microsoft? Brad Adams, responsável por levar o Kinect ao mundo da pornografia, se preocupa com o que a Microsoft pode fazer em relação aos drivers do Kinect. Proibir, para ele, seria “ridículo”. “É como se a Microsoft dissesse que você não pode usar um PC com Windows para explorar pornografia”.

A Microsoft diz que o “Kinect não foi hackeado”. “O que aconteceu é que alguém criou drivers que permitem que outros dispositivos mostrem os dados brutos produzidos a partir do Kinect”, diz comunicado da empresa. Os executivos estão “confortáveis com as pessoas que têm a tecnologia como hobby aproveitando esses dados brutos para explorar as possibilidades do Kinect”.

Os hacks, porém, são uma prévia da própria estratégia que a Microsoft adotará com o acessório. Durante a Consumer Eletronics Show (CES), em Las Vegas, o presidente da empresa, Steve Ballmer, disse que o Kinect estará disponível para PCs em breve, mas ainda não há data – especula-se que seja apenas no lançamento do Windows 8, provavelmente em 2012. “Estamos buscando ir além dos jogos para incluir também o mundo da socialização, filmes, TV e música. Queremos oferecer essa experiência de usuário a todos na família, não só aos jogadores tradicionais”, disse o presidente da empresa.

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