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O Hobbit; 48 quadros por segundo

Tecnologia de alta velocidade é a mais recente aposta da indústria do cinema para atrair o público em queda

Por Redação Link
Atualização:

Richard Verrier, do Los Angeles Times

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Tecnologia de alta velocidade usada na nova saga O Hobbit, de Peter Jackson, é a mais recente aposta da indústria do cinema para atrair o público em queda

Wendy Aylsworth fixou seus olhos na tela do cinema Landmark em West Los Angeles, estudando cuidadosamente a cena de hobbits se preparando para um generoso banquete. “Tem bons detalhes e uma riqueza nos personagens”, disse Aylsworth. “Está perfeito.”

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A vice-presidente sênior de tecnologia da Warner Bros. estava analisando uma projeção de teste do filme O Hobbit: uma Jornada Inesperada, que tem uma nova técnica que exibirá o muito esperado filme do diretor Peter Jackson em 48 quadros por segundo (fps, na sigla em inglês).

A controvertida nova tecnologia poderá revolucionar o cinema tradicional que, por quase 90 anos, se baseou na projeção convencional de 24 quadros por segundo. A Warner Bros. será o primeiro grande estúdio de cinema a lançar um filme importante de Hollywood filmado e reproduzido em 48 quadros por segundo quando o Hobbit estrear no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países no fim desta semana.

O estúdio tem feito exibições de testes em centenas de salas de cinema pelo mundo, de Los Angeles a Tóquio e Madri, para se assegurar de que as salas estão prontas para a nova tecnologia.

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A Warner também está protegendo sua aposta: a versão em alta velocidade de O Hobbit só será exibida em 450 das estimadas 4 mil telas nos Estados Unidos e no Canadá que passarão o filme. Até o fechamento da edição, a Warner não soube dizer em quantas salas ele será exibido no formato no Brasil, mas ele estará nos cinemas de algumas redes no País (veja ao lado).

“Quando se tem uma coisa nova, queremos ter a certeza de que ela funcionará”, disse Dan Fellman, presidente de distribuição da Warner nos EUA. “Isso é único, é diferente, e temos que ver como as pessoas vão se adaptar a este novo formato.”

A reação do setor tem sido uma mistura de apreensão e entusiasmo. “Alguns donos de cinemas ficaram decepcionados por não ganharem mais exibições”, disse John Fithian, presidente da Associação Nacional de Donos de Cinemas dos EUA. “A diferença é óbvia e dramática. A questão é se isso é o tipo de novidade que levará o público ao cinema.”

Peter Jackson e o colega diretor James Cameron – que pretende lançar continuações de Avatar na velocidade ainda maior de 60 quadros por segundo – não têm dúvida de que os filmes no formato terão mais audiência. Eles alegam que ver mais imagens por segundo é mais natural porque é mais próximo do que o olho humano efetivamente vê, proporcionando uma imagem mais nítida, mais semelhante à vida e reduzindo o estresse visual causado pelos filmes em 3D.

“Agora, na era digital, não há razão nenhuma para ficarmos usando 24 quadros por segundo”, escreveu Jackson em sua página do Facebook.

Os defensores de uma alta velocidade de quadros dizem que ela proporciona muito mais informação visual e torna a imagem em movimento supernítida e detalhada. Mas o público acostumado ao visual mais suave do cinema tradicional pode ter de se ajustar.

Numa amostra de 10 minutos que Jackson exibiu na feira comercial CinemaCon em abril, alguns espectadores acharam as imagens extremamente hiper-realistas e diferentes demais de um filme tradicional.

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Executivos da Warner disseram que isso era injusto porque se tratava de uma filmagem básica que ainda não havia passado por uma correção de cores. “Não era realmente representativa de como ela parece hoje”, disse Fellman. “Acredito que o filme causará um grande impacto no setor.”

Alguns importantes executivos de empresas proprietárias de salas de cinema concordam. Eles veem as velocidades de projeção mais altas – junto das telas maiores, o 3D e os sistemas melhorados de som – como uma maneira de continuarem importantes para o público jovem que está se voltando cada vez mais para formas de entretenimento dentro de casa.

Apesar das previsões de arrecadações recordes de bilheteria neste ano e dos preços mais altos dos ingressos, durante boa parte da última década o cinema perdeu público e há uma tendência decrescente no número de pessoas que frequentam as salas.

“Nós sempre nos empolgamos quando surge uma nova tecnologia em nosso negócio que aumente a distância entre o que acontece em casa e em uma sala de cinema”, disse Amy Miles, presidente-executiva do Regal Entertainment Group, a maior cadeia de salas de cinema dos Estados Unidos.

A rede do Regal exibirá O Hobbit em 48 quadros por segundo em mais de 100 de suas 6.607 telas. Segundo Miles, as vendas antecipadas de ingressos sugerem que muitas dessas salas estão gerando mais receita por tela do que cinemas 3D normais.

“Acredito muito nisso”, disse Tim Warner, presidente executivo da rede Cinemark nos Estados Unidos, que exibirá O Hobbit em 48 quadros por segundo em 160 de suas 5.207 telas em todo o mundo. “É uma experiência muito mais imersiva, nítida e envolvente. Tem-se a impressão de estar dentro da tela.”

Segundo ele, a Cinemark pretende aumentar a quantidade de salas compatíveis com o formato. “Eu preferiria ir ainda mais rápido, mas a Warner quer primeiro sondar o terreno, o que é compreensível.”

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O Hobbit será exibido em 2D tradicional, 3D tradicional e em 3D a 48 quadros por segundo. Por enquanto, nos Estados Unidos os cinemas não cobrarão taxas extras nas exibições em alta velocidade, que serão incluídas na categoria dos ingressos mais caros de 3D.

O custo de exibição em 48 quadros para maioria das salas de cinema varia entre US$ 1 mil e US$ 2,5 mil por tela. Os cinemas que já dispõem dos projetores digitais mais modernos normalmente só precisam de um upgrade do software ou de um novo cartão de vídeo.

Muitas cadeias de cinemas, porém, preferem adotar uma postura de esperar para ver. “Achamos a iniciativa interessante. Mas, até vermos como o público reage e o que isso significa, é realmente difícil dizer (se será uma grande mudança)”, disse Bud Mayo, CEO da Digital Cinema Destinations, de Nova Jersey, cuja cadeia de salas de cinema Digitex exibirá O Hobbit em 48 quadros em oito de suas salas.

“A primeira vez em que assisti ao filme fiquei um pouco desorientado”, disse Patrick Lee, vice-presidente de cinema digital da Barco North America, que fabrica projetores digitais. “É mais nítido, mais claro e o filme fica melhor, mas levará tempo para o público em geral aderir.” / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

—-Leia mais:Link no papel – 10/12/2012

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