O digital já é padrão no cinema. Mas e a preservação?

Júlia Machado

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Por Redação Link
Atualização:

A realização do último filme em película pela Nordisk Film, uma das mais antigas companhias cinematográficas do mundo, no final do ano passado, foi o marco do fim mas também do início de uma nova era. É o que diz Thomas Christensen, curador do Instituto do Filme Dinamarquês.

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A Nordisk Film começou há 106 anos na cozinha do fundador, Ole Olsen. O laboratório foi responsável por enormes sucessos comerciais nos início do século 20, quando a Nordisk Film era então uma das cinco maiores companhias do mundo e produzia mais de 100 filmes de longa-metragem por ano – marca impressionante, especialmente se compararmos aos números atuais (em 2011, por exemplo, 33 filmes foram produzidos em toda a Dinamarca).

Há dez anos, a Dinamarca esteve entre os primeiros países a incorporar o digital na fase de pós-produção. Isso porque, quando a produção e a exibição ainda se davam em formatos analógicos, o digital já começava a ser usado na fase de edição e tratamento de imagem. O material registrado em película era convertido e, depois de trabalhado em digital, era então passado novamente para a película para ser exibido.

O cineasta Lars von Trier, por exemplo, foi um dos que se beneficiou largamente do método, fazendo uso da tecnologia já em sua série de televisão Riget (1994), filmada em 16mm e editada digitalmente em Avid.

Ainda que o processo de atualização dos cinemas em algumas partes do mundo esteja acontecendo lentamente, como no caso do Brasil, o digital tornou-se irreversivelmente o novo paradigma tecnológico tanto da produção quanto da exibição cinematográfica. Mas, em se tratando, contudo, do arquivo cinematográfico, o analógico continua a ser a forma mais confiável de se preservar um filme ao longo do tempo, segundo Christensen.

A dúvida em relação ao padrão digital na preservação de filmes está no fato de que a tecnologia se modifica com grande velocidade, o que faz que os arquivos em acervo exijam uma constante atualização com o risco de se tornarem obsoletos.

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Além disso, computadores e bases de armazenamento têm durado menos de uma década. Portanto, é emblemático que o filme de 35 milímetros permaneça como o pilar para a então existente herança cinematográfica, uma vez que permite ser tranquilamente preservada por séculos sob condições adequadas.

Com o fim da era analógica, entretanto, somente os filmes históricos vão permanecer em seus rolos nos arquivos de cinematecas e de estúdios. A necessidade de se estabelecer formas confiáveis de armazenamento dos filmes já nascidos em formato digital é um desafio para os próximos anos. Isso significa que será preciso demonstrar, basicamente, que esses formatos atuais serão capazes de migrar para os padrões inventados no futuro, sem perda no processo de atualização tecnológica e permanecer, assim, também como parte integrante da história do cinema.

*É doutoranda em cinema na Aarhus University, na Dinamarca

—-Leia mais:Link no Papel – 4/3/2013

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