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No SXSW, Obama pede ajuda para ter ‘governo digital’

Em evento de tecnologia, música e cinema, presidente americano defendeu flexibilidade nas discussões sobre privacidade e segurança

Por Bruno Capelas
Atualização:

EFE

 

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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, abriu ontem o South by Southwest (SXSW), festival de tecnologia, música e cinema que acontece em Austin, no Estado americano do Texas, até o próximo dia 20. No primeiro discurso de um presidente dos EUA no evento, que completa três décadas em 2017, Obama pediu ajuda à comunidade de tecnologia para tornar o governo mais digital e eficiente. “Estou aqui para recrutar todos vocês para resolver os grandes problemas que temos hoje. Só podemos resolvê-los com ajuda dos cidadãos”, disse Obama, em conferência transmitida via internet.

Conhecido por ser um político de contato intenso com a tecnologia – sua primeira campanha para presidente, em 2008, teve nas redes sociais um de seus principais trunfos –, Obama discursou por pouco mais de uma hora sobre como a tecnologia pode melhorar a sociedade americana, já que pode tornar processos mais eficientes, como pagamento de impostos, abertura de empresas ou até mesmo as eleições.

“Somos a democracia mais velha do mundo, mas hoje é mais fácil pedir uma pizza do que votar”, disse Obama. “As tecnologias que existem hoje para comprar coisas precisam ser usadas para votarmos melhor.” Obama usou seu discurso para estimular os presentes a se engajarem politicamente por meio da tecnologia. “Não sou engenheiro de software, não tenho o conhecimento que vocês têm, mas não há problema que não podemos resolver.”

Em ritmo de despedida, Obama demonstrou que quer deixar um legado digital em seu governo. “Estou me preparando para deixar a Casa Branca. Depois desses anos, o governo sabe que só pode resolver seus problemas se trabalhar com a ajuda do talento dos cidadãos.”

Privacidade. Entrevistado pelo editor-chefe do jornal Texas Tribune, Evan Smith, o presidente americano também foi questionado sobre um dos principais temas da atualidade no mundo da tecnologia: o embate entre privacidade e segurança no mundo digital, marcado por episódios como o dos vazamentos do informante Edward Snowden e a disputa entre a Apple e o FBI sobre o desbloqueio do iPhone dos responsáveis pelo tiroteio de San Bernardino.

Ao comentar o tema de forma geral – Obama disse que não queria se pronunciar sobre a questão Apple versus FBI –, o presidente norte-americano disse acreditar que a vigilância do governo é “superestimada” pela sociedade. “O caso Snowden levantou inúmeras suspeitas, mas nossas agências são muito cuidadosas (em relação a essa prática)”, declarou.

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“O governo não quer invadir o celular de ninguém, assim como não queremos entrar na casa dos cidadãos e fazer uma busca em sua gaveta de cuecas sem um mandado judicial”, explicou o presidente, querendo aproximar as questões digitais de práticas tradicionais da Justiça. “Foi assim que a sociedade dos EUA foi construída.”

Para o presidente, a discussão se a privacidade digital ou a segurança devem prevalecer “não pode ser tomada em absoluto”. “Se criarmos um sistema ou dispositivo impenetrável, como poderemos prender um pedófilo ou investigar um caso de terrorismo? Deve haver uma forma de poder cuidar dessa questão”, afirmou.

Aberto ao diálogo, Obama pediu aos presentes para se aproximarem do debate sobre o assunto. “Precisamos da ajuda de vocês para continuarmos a ter as melhores leis do mundo”, declarou. “Esse assunto será discutido e, se a comunidade da área de tecnologia não se engajar, podemos ter, no futuro, leis ruins ou ineficientes sobre o mundo digital.”

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