Na trilha de quem sabe

Em 2010 começamos a entender como criar usar conteúdo georrefereciado. E em 2011, a tendência é que planos de dados mais baratos façam que mais pessoas criem esse tipo de conteúdo

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:
Abrindo caminhos. Valverdes cria rotas online para guiar ciclistas por São Paulo Foto: Estadão

O carro de Leandro Valverdes foi roubado há oito anos. Desde então ele só usa a bicicleta para se locomover pela cidade. Hoje diretor da ONG Ciclocidade, Valverdes ajuda iniciantes a encontrar caminhos melhores para adotar a bike como meio de transporte. Quando dá, ele mesmo os acompanha por rotas alternativas mais tranquilas; quando não pode, desenha mapas no Google Maps com trajetos seguros para pedaladas.

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“A escolha dos caminhos faz toda a diferença”, explica. Para quem anda de bicicleta, é fundamental planejar o roteiro antes de ir para a rua para evitar subidas e avenidas movimentadas. Ao sair de casa, os mapas do Google ajudam, sim, com rotas para carros e transporte público. Mas não para ciclistas – pelo menos no Brasil. E é aí que entram as pessoas. O que era um desenho da cidade ganha vida e, principalmente, utilidade.

“O dado georreferenciado tem aquele prazer do ‘eu conheço a minha vizinhança’, ‘sei recomendar a melhor rota’”, arrisca Marcelo Quintella, gerente de produtos do Google para América Latina. Para ele, 2010 foi o ano em que começou com mais força a tendência da criação de conteúdos georreferenciados por parte dos usuários.

Valverdes recebe pedidos via Twitter e por meio de listas como a Bicicletada e ajuda os iniciantes a traçar rotas mais seguras desenhando no Google Maps. “Há muita solidariedade. O que está por trás é o raciocínio de ‘pô, se tem mais alguém pedalando, é melhor para todo mundo’”. Ele já criou mais de uma centena de rotas na cidade. Agora, está em busca de patrocínio para reunir os mapas já traçados, testar as rotas e criar um grande mapa seguro de bike para toda a cidade.

“Como não temos ferramentas que mostrem com precisão o relevo, é preciso contar com a ajuda dos ciclistas. É uma maneira inclusive de unir a pessoas”, diz o músico Ricardo Bocci, responsável por criar vários mapas no Google Maps e em ferramentas como o Bikely. E há muitos outros projetos: dois grandes mapas que mostram as bicicletarias e bicicletários da cidade são referência para quem pedala por São Paulo. “Não é o ‘meu mapa’, mas o ‘nosso mapa’”, diz o criador desses guias, o ciclista Marcelo Mig. Para ele, a vantagem de ter um mapa aberto é reunir “informações confiáveis, isentas, dinâmicas e atualizadas”.

Colocando no mapa E quando as pessoas não só criam marcos sobre um mapa – mas, sim, fazem a própria carta? É isso que propõe o Open Street Map, serviço que funciona como a Wikipedia dos mapas.

O projeto foi criado em 2004 por Steve Coast, desenvolvedor britânico que queria trabalhar com mapas mas se deparou com os preços altos dos serviços de cartografia na Inglaterra. “Resolvi fazer por mim mesmo”, disse ele ao Link. De bicicleta e com GPS na mão, começou a mapear a vizinhança. Além dos dados cartográficos, coletou os nomes das ruas, placas. Hoje o projeto tem 320 mil colaboradores no mundo.

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A diferença do Open Street Map para o Google Maps é que, assim como a Wikipedia, o primeiro é totalmente editável pelos usuários. “Tudo no Open Street Map está sob uma licença livre. Isso quer dizer que as minhas contribuições poderão ser utilizadas por outros usuários para qualquer fim”, explica Vitor George, engenheiro que cuida o Mapas Livres, site criado para reunir a comunidade brasileira.

O plano de mapear o mundo todo de maneira livre até parece distante, mas vale registrar: em toda a Índia e em parte da América do Sul, por exemplo, os mapas do Google Maps foram feitos com o mapeamento dos usuários, que marcaram ruas, estradas e sinalizações com a ferramenta Map Maker.

E o projeto deve crescer. Steve Coast acaba de ser contratado para trabalhar no Bing Maps, o serviço de mapas da Microsoft. O que poderia ser contraditório para uma comunidade open-source foi recebido com comemoração. “O meu trabalho é basicamente encontrar maneiras para que o Bing possa ajudar com dados cartográficos”, explica Coast, agora arquiteto principal do Bing Mobile. A parceria já rendeu: a Microsoft cedeu ao projeto imagens aéreas em alta resolução.

Por ser aberto, o OpenStreetMap tem várias versões – inclusive uma cicloviária, o OpenCycleMap. Mas ainda não tem o tamanho e a penetração do Google, e é por isso que a ferramenta favorita para traçar rotas ainda é a do gigante de buscas.

Para o Google, a tendência é que os mapas passem a ser uma ferramenta de visualização do conteúdo gerado pelos usuários. E, para quem usa, os mapas vão além dos caminhos. São plataformas para desenhar cidades mais amigáveis, com rotas e pontos recomendados por pessoas de carne e osso.

—- Leia mais:Link no Papel – 20/12/2010

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