Na mira: Brasil; África e Índia

“Web 2.0 é rascunho do que virá”, diz o criador da Wikipédia

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Por Rafael Cabral
Atualização:

LOGIN | Jimmy Wales, empresário, criador e garoto-propaganda da Wikipédia

 

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FOTO: WIKIMEDIA COMMONS/DIVULGAÇÃO

O empresário norte-americano Jimmy Wales não gosta de um termo muito usado pela imprensa de tecnologia hoje em dia para definir projetos de colaboração em massa como o Linux ou a sua Wikipédia – o tal do crowdsourcing.

“Termos pomposos como crowdsourcing supostamente se baseiam na participação de todos, mas são apenas uma desculpa para fazer as pessoas trabalhar de graça”, diz Wales, em entrevista por telefone ao Link. “Pensar assim é desrespeitoso com as pessoas. Elas simplesmente usam plataformas para construir e fazer as coisas que gostam, da música à programação – e se divertem com isso.”

Ouvindo o discurso e vendo sua conversão à cultura livre, não dá para adivinhar que foi meio por acaso que o fundador do site se envolveu com o “poder das comunidades organizadas”.

Antes ligado a sites como o Bomis, um portal de entretenimento adulto, o investidor só iniciou o projeto da Wikipédia para tentar alavancar o número de artigos da enciclopédia que tocava com o filósofo Larry Sanger, a efêmera e incompleta Nupedia. Nem de longe eles imaginavam que os wikis renderiam mais do que alguns tópicos para a página principal, que ganhava dinheiro com anúncios.

Mas a ferramenta 2.0, lançada com discrição, logo já tinha um grupo organizado de colaboradores fiéis. Eram os primeiros wikipedistas, muitos deles identificados com o movimento do código livre como o próprio Wales, que decidiu usar aquele monte de gente para construir uma enciclopédia “livre” (em código aberto, gratuita e com conteúdo sem copyright).  Para garantir a independência, criou uma fundação – a Wikimedia – e decidiu que não veicularia propaganda, confiando em doações dos próprios usuários.

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Dez anos depois, a tática nunca deu tão certo, inclusive na parte financeira. Com uma campanha pedindo doações finalizada no começo de 2011, o grupo conseguiu que mais de meio milhão de pessoas juntassem cerca de US$ 16 milhões para a manutenção da organização sem fins lucrativos.

Para o seu criador, isso mostra que a Wikipédia é não só feita, mas também mantida pelos seus próprios escritores, editores e leitores.

A segunda década Wales acredita que, “nos próximos dez anos de existência da Wikipédia”, o foco deve estar em melhorar as versões nas línguas dos países em desenvolvimento, como as nações africanas, a Índia e o Brasil. “Esses países puxarão o crescimento do site nesta nova fase. Acho que é a mudança mais importante que deve acontecer. Queremos aumentar o número de colaboradores e reforçar nessas bases nesses lugares”, afirma o empresário, que acredita que a cultura 2.0 iniciada por projetos como o dele é apenas rascunho do que pode surgir do elemento “social” da web.

“A colaboração pode atingir patamares ainda muito maiores – a política e a ciência, por exemplo. Ainda estamos no começo de tudo isso”, acredita o empreendedor. “Quanto mais diversas forem essas ideias, melhor para todos. As pessoas pararam de achar a tecnologia um mistério e estão a usando de maneira muito mais casual. A imagem de que apenas um geek especialista em computadores pode editar a Wikipédia ou participar de algo assim é cada vez mais falsa”, finaliza.

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APELO PESSOAL

A Wikipédia testou uma estratégia agressiva para pedir doações de seus usuários – colocou banners com a cara de Jimmy Wales em cima de todos os artigos do site, linkando-os com um “apelo pessoal” do fundador. Ele pedia US$ 16 milhões em favor da gratuidade do serviço.

A onipresença de Wales, olhando a tudo e a todos por meses, não foi perdoada e virou meme.

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Primeiro foi o criador do 4chan, Moot, que também estampou sua cara no topo do fórum, pedindo um troco para seu site. Depois, centenas de imagens foram produzidas, a maioria com Wales exigindo dinheiro – e logo!

Walepedia Versão mais radical da proposta da Wikipédia: Jimmy Wales em todas as partes do site.

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—- Leia mais:Link no papel – 10/01/2011Uma década colaborativaPersonal Nerd: 10 anos de Wikipédia

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