‘Na internet das coisas, Brasil e EUA estão iguais’

Após faturar licenciando chips para celulares, britânica ARM vê filão na internet das coisa

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Por Bruno Capelas
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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À primeira menção, a empresa britânica ARM pode não ser reconhecida por muita gente. No entanto, a tecnologia pela qual ela é responsável tem uma chance bastante alta de fazer parte do dia a dia de milhões de brasileiros. Usou um smartphone hoje? Está lendo este texto em um tablet ou um computador? Mais tarde, pretende ver um vídeo do YouTube na sua smart TV? Então é bastante provável que qualquer um desses aparelhos contenha um chip fabricado a partir da tecnologia que carrega o nome da empresa.

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Em 2015, nada menos que 14,8 bilhões de chips desenvolvidos com a tecnologia da ARM foram usados em diversos aparelhos – de celulares e notebooks até carros e sensores de iluminação pública. No ano passado, a arquitetura ARM fez parte de pelo menos 85% dos smartphones, tablets e notebooks vendidos em todo o planeta.

“Nós construímos os blocos de Lego que são os cérebros da tecnologia; cabe aos nossos parceiros construir as outras partes desse corpo, que formarão o chip ideal para ser usado em um celular, um carro ou uma máquina de lavar”, diz Ian Ferguson, vice-presidente de marketing e alianças estratégicas da britânica ARM, em entrevista exclusiva ao Estado.

Fundada em 1990, a ARM teve seu grande momento de crescimento a partir de meados dos anos 2000, quando a tecnologia desenvolvida pela empresa começou a ser utilizada em larga escala por celulares e notebooks – pouco tempo depois, a explosão do mercado de smartphones deu à companhia britânica mais um impulso.

Em 2006 – um ano antes do lançamento do iPhone, da Apple –, a arquitetura ARM esteve presente em 2,4 bilhões de chips. Sete anos depois, a presença da tecnologia chegou à marca de 10 bilhões de semicondutores. Agora, no entanto, com a estabilização do mercado de celulares inteligentes, a empresa se prepara para atuar em novas áreas. “Vejo um grande potencial para a ARM nas áreas de carros conectados, cidades inteligentes e internet das coisas”, avalia Ferguson.

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Incentivo. É justamente por conta do setor de internet das coisas que Ferguson veio ao Brasil recentemente. Hoje, a ARM busca entender de que forma pode desenvolver as melhores soluções tecnológicas para as criações de desenvolvedores de aplicativos ou dispositivos. Para o inglês, as soluções para os problemas de cada povo podem ser encontradas localmente.

“Com a ajuda dos nossos chips, acredito que os paulistanos saberão qual é o melhor jeito de resolver o congestionamento de São Paulo – e que os agricultores brasileiros vão saber como tornar suas lavouras mais eficientes”, diz.

Apesar da inexpressividade do País na indústria de semicondutores, o executivo inglês acredita que o País tem um grande potencial para aproveitar a internet das coisas para se desenvolver nesse setor.

“Um chip para um sensor da internet das coisas é muito mais barato e fácil de desenvolver que um feito para smartphones. No início, pode-se usar tecnologia estrangeira, mas é possível aprender e desenvolver seus próprios sistemas e indústria”, avalia Ferguson.

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Além disso, o vice-presidente de marketing da ARM acredita que o País pode se beneficiar do momento ainda incipiente no setor. “É um campo em que ninguém tem vantagem ainda: vocês estão, em tese, no mesmo patamar que os EUA e a China.”

Ceticismo. Apesar da alta expectativa quanto ao setor de internet das coisas, Ferguson vê com ceticismo as previsões feitas por empresas do ramo quanto à quantidade de dispositivos conectados que teremos nos próximos anos – a consultoria Gartner prevê 21 bilhões de “coisas” conectadas em 2020, enquanto a empresa de tecnologia da informação Cisco aposta em “mais de 20 bilhões” de aparelhos conectados no mesmo período. Para o executivo, há dois grandes entraves para a popularização da tecnologia: “interoperabilidade” e segurança.

“Seria lindo ter uma cidade inteligente, onde o sistema de iluminação pública se liga aos faróis de trânsito e à área de segurança pública. O que temos hoje, é um sistema de iluminação meio inteligente, mas que não se conecta ao resto das coisas, porque ainda temos muitos padrões diferentes para os aparelhos da internet das coisas”, diz.

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No que diz respeito à área de segurança, Ferguson se preocupa tanto com a possibilidade de grandes incidentes no caso de uma falha – “pense em um hacker se divertindo deixando todos os faróis de São Paulo vermelhos”– quanto com a privacidade dos dados captados – “não quero que o Google saiba como o meu coração está batendo ou se estou em casa”, diz o inglês.

Outra preocupação do executivo da ARM é a manutenção dos sistemas em uma cidade inteligente – que precisa ser muito otimizada para valer a pena.

“Você pode trocar um smartphone a cada dois anos, mas não quer trocar as baterias do sistema de iluminação de uma cidade inteira nesse intervalo. Ele tem que durar pelo menos dez anos”, diz o executivo.

Rivalidade. Ao contrário da Intel – dona de outra famosa arquitetura de chips, a x86, utilizada em computadores de mesa e em processadores como a antiga linha Pentium – a ARM não fabrica os chips que utilizam sua tecnologia.

No lugar disso, ela licencia suas criações para empresas parceiras, como Samsung, Qualcomm ou HTC – e até a própria Intel –, recebendo um pequeno porcentual do valor do chip. “Um chip para smartphones custa cerca de US$ 10, então ganhamos US$ 0,10 para cada venda”, diz Ferguson.

Segundo o executivo, o valor baixo não justifica, por exemplo, uma grande campanha de marketing para tornar a empresa conhecida – como fez a Intel com a marca “Intel inside” nos anos 1990. “Os US$ 0,10 não pagariam nem o selo dizendo ‘ARM inside’”, brinca o inglês.

Para Ferguson, não ser uma empresa conhecida do público – e não almejar isso – tem suas vantagens. “Nós não precisamos fazer inventário com os chips que não fabricamos, nem ter gastos astronômicos com marketing.”

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