Liberdade; ainda que virtual

Museu usa o Google Maps e a internet para misturar o real ao virtual e criticar a prisão de Guantánamo

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Por Redação Link
Atualização:

Museu usa o Google Maps e a internet para misturar o real ao virtual e criticar a prisão de Guantánamo 

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Por Diogo Antonio Rodriguez ESPECIAL PARA O ESTADO

SÃO PAULO – Barack Obama prometeu em sua campanha presidencial de 2008 e cumpriu: fechou a prisão de Guantánamo em 22 de janeiro de 2010. Desativado desde então, o prédio substituiu os antigos moradores de uniforme laranja pelas obras do Guantánamo Bay Museum of Art and History (Museu de Arte e História de Guantánamo), inaugurado em agosto deste ano.

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Parece estranha a história? O Google Maps confirma a localização do espaço. Ainda em dúvida? Visite o site oficial e veja que o horário de funcionamento é das 8h às 20h de terça a sexta, 10h às 20h no sábado e 10h às 18h no domingo. Segunda-feira é o único dia em que o público não pode ver as sete exposições atualmente em cartaz.

O museu existe, mas só na internet. É uma intervenção artística criada pelo artista americano Ian Alan Paul, 27, a partir daindagação: “o que teria que acontecer no mundo para que Guantánamo não existisse? E o que tomaria seu lugar?”

Subversão online. A resposta a essa pergunta é o museu, que com o site e uma marcação no Google Maps, adquirem ar de realidade. “O conceito original era o de que quando as pessoas buscassem a prisão, elas achariam o museu, uma subversão muito sutil”, disse ele ao Link.

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Entre a provocação e o ativismo político, o site pode confundir um internauta desavisado. Além dos horários do museu, ainda há seções como “Planeje sua visita” e “Torne-se membro”. Isso não preocupa a Paul: “Acho que o projeto fornece dicas suficientes e ninguém cometerá esse engano [tentar visitar o museu]”.

Mesmo virtual, a ideia conquistousete artistas (dos EUA e Itália), quatro escritores (entre eles a filósofa Judith Butler) e mais exposições são planejadas para os próximos meses. Em comum, o incômodo que a existência de um local onde pessoas são mantidas presas sem direito a julgamento e as promessas de que um dia iria ser fechado.

 

“Para mim e os muitos que trabalharam no projeto, Guantánamo se tornou uma questão interessante porque sentimos que ela ocupa uma intersecção paradoxal – parecia impossível fechar a prisão, ao mesmo tempo em que parecia completamente possível”, diz o artista.

Museu de verdade. Todas as obras fazem algum comentário sobre Guantánamo ou sobre a questão dos direitos humanos que a prisão implica. Adam Harms criou um vídeo-performance no qual três mulheres cantam (em versão karaokê), as músicas usadas pelos soldados americanos para torturar presos. A obra All The People On Google Earth, de Jenny Odell, traz imagens de prisioneiros americanos capturadas pelo aplicativo em que nada mais aparece, só as pessoas.

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No Centro de Estudos Críticos, textos de ativistas, professores e pensadores analisam os aspectos legais e sociais do penitenciária.

Ian Alan Paul talvez não possa usar de fato o espaço físico de Guantánamo, hoje ocupada por 159 pessoas, mas quer que o museu chegue à realidade: “nós esperamos incluir outros artistas e escritores no futuro e também teremos um programa de residência no ano que vem. Agora estamos no processo de planejar ‘exposições-satélite’ e palestras públicas em espaços físicos reais como continunação da intervenção”.

Assim que tomou posse, em 22 de janeiro de 2009, Obama assinou uma ordem determinando o fechamento de Guantánamo em até um ano. Em campanha pela reeleição, o presidente não toca mais no assunto. Mas o Guantánamo Bay Museu of Art and History permite um breve vislumbre no futuro que poderia ter sido.

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