Lei não basta para baratear aparelhos

Além de vários impostos, custos com segurança, transporte e valor da marca contribuem para manter preços altos

PUBLICIDADE

Por Redação Link
Atualização:

Além de vários impostos, custos com segurança, transporte e valor da marca contribuem para manter preços altos

PUBLICIDADE

Anna Carolina PappLigia Aguilhar

SÃO PAULO – Falar que o Brasil é o País dos impostos já é um chavão. Difícil mesmo é entender por que tudo é tão caro por aqui, especialmente os eletrônicos. “A estrutura tributária no Brasil é realmente complexa, os impostos são mais altos do que em outras partes do mundo”, diz Carlos Lauria, diretor da divisão de smartphones da Abinee. “É como um círculo vicioso: ela é complexa, então é difícil de mudar, e aí continua complexa.”

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter, no Facebook, no Google+ no Tumblr e no Instagram

 

Nos últimos anos, o Brasil tenta incentivar a indústria de tecnologia local, com isenção de impostos a produtos produzidos no País.

No entanto, há setores da indústria que são particularmente afetados por essas barreiras tarifárias. “Tecnologia é uma das áreas que mais sofrem com isso, pois os produtos têm um ciclo de vida muito curto”, diz Marcel Campos, diretor de produtos da Asus. “Quando há imposto muito alto em um produto com ciclo de vida curto, não é possível fazer planejamento.”

A forma mais comum de os brasileiros driblarem os preços altos é comprar eletrônicos no exterior, como tablets, computadores e smartphones – uma vez que, lá fora, eles podem custar menos da metade do valor.

Publicidade

Na plataforma Cabe na Mala, site que facilita encomendas do exterior organizando quem procura produtos e quem pode comprá-los lá fora, os três itens mais pedidos são iPhone 5, iPad Mini e Nexus 4.

Este último, smartphone do Google fabricado pela LG no Brasil, foi lançado no País em março. Aqui, a versão de 16 GB chegou por um preço sugerido de R$ 1.699, o que representa uma diferença de quase 140% em relação ao valor cobrado nos Estados Unidos – US$ 349.

A chamada Lei do Bem, criada em 2005, surgiu com o objetivo de amenizar a diferença brutal de preços entre aparelhos nacionais e importados, concedendo a empresas isenções fiscais em projetos de inovação tecnológica no País. Os tablets passaram a ser beneficiados em 2011, juntando-se a PCs e notebooks. Seguindo este caminho, o governo decretou a desoneração de smartphones em abril.

No entanto, os impostos não são os únicos vilões dos preços. Mesmo descontadas as taxas, os produtos vendidos aqui ainda são mais caros. E aí entra o chamado custo Brasil, que considera uma série de entraves que afetam o preço final. Além da margem de lucro e do próprio valor da marca atrelado à sua imagem, toda a cadeia produtiva para o transporte e montagem dos aparelhos é muito custosa. Há gastos com transporte, liberação de carga, segurança e escolta. No Brasil, esse processo é consideravelmente mais lento do que em outros países, o que implica a crescente desvalorização dos produtos enquanto estão parados.

PUBLICIDADE

Por isso, para Marcel Campos, remover uma taxa que representa apenas 9,25% do preço do aparelho é apenas a ponta do iceberg. “Se você realmente quer fazer um smartphone ser acessível para as pessoas, PIS/Cofins é cafezinho”, afirma.

Para o vice-diretor de smartphones da Abinee, os impostos foram escolhidos por serem federais e, portanto, exigirem menos negociações. “O ICMS, que é o imposto mais alto, é estadual. Alterá-lo exigiria fazer um acordo com cada Estado, que têm interesses e estruturas diferentes”, afirma. Lauria lembra que está sendo discutida no Senado a medida provisória para unificar o ICMS. “Espera-se que seja encontrada uma solução razoável para que o usuário não tenha de pagar tanto imposto num serviço tão importante, que é o de inclusão digital”, afirma.

Site denuncia preço da Apple

Publicidade

Fãs da marca criam página para protestar contra os valores praticados no Brasil

 

Em um fórum da revista online MacMagazine, os fãs da Apple Gustavo Jaccottet Freitas, Gabriel Hoffmann e JoeD resolveram criar o site “Abuso Apple” para demonstrar sua insatisfação com os preços da empresa no País. Assim, eles convocaram usuários a assinar uma carta aberta. Com dados estatísticos, eles questionam a disparidade de valores entre os produtos vendidos nos EUA e aqui.

Em altaLink
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

O estopim para a indignação do grupo foram os lançamentos de outubro, sobretudo o iMac. “O preço estava estável em torno de R$ 3.999, e, de uma hora para outra, saltou para R$ 6.200. Nos EUA, o aumento foi de apenas US$100”, disseram. “Levamos em consideração o dólar, impostos, taxas e afins. Só pudemos concluir que houve aumento totalmente desproporcional.” O grupo afirma que o problema não são os preços, mas a falta de explicação sobre sua composição. “Todos falam de custo Brasil, mas ninguém sabe dizer exatamente do que se trata.”

O trio defende a reforma tributária e não se mostram satisfeitos com os benefícios da Lei do Bem: “Fizemos um comparativo, e, em todos os produtos, o Brasil possui os mais caros!”

Com mais de 5 mil assinaturas, a carta foi entregue à empresa em dezembro do ano passado. Em abril, as cartas foram endereçadas aos executivos da Apple no Brasil. Ainda não houve resposta.

—-Leia mais: Smartphone barato ainda é dúvidaLink no papel – 6/5/2013

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.