Informação livre; só para o Facebook

Vilão ou visionário, Zuckerberg se aproveita daquilo que publicamos, sem nos preocupar

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Por Carla Peralva
Atualização:

Vilão ou visionário, Zuckerberg se aproveita daquilo que publicamos, sem nos preocupar

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Mark Zuckerberg, criador e CEO do Facebook, sempre deixou claro que acredita que um mundo em que as pessoas compartilham livremente é um mundo melhor. Ele tem certeza que as pessoas estão cada vez mais dispostas a publicar informações.

Foi essa crença que o motivou a incentivar usuários do Facebook a divulgar cada vez mais dados. E isso nem sempre é compreendido como um movimento de vanguarda, como seus defensores o classificam. Muitas vezes, é visto como uma tentativa de fazer que sua rede detenha mais dados pessoais para, então, vendê-los a anunciantes.

A acusação diz respeito ao modelo de negócios do Facebook, baseado em publicidade direcionada, muito semelhante ao adotado pelo Google. A maior rede social do mundo é gratuita para os usuários e para os sites que usam seus plugins sociais, mas rende um bom dinheiro – alguns analistas estimam que a companhia vá gerar US$ 1 bilhão em receita neste ano.

Tecnicamente, o Facebook não vende informações pessoais de seus usuários, mas as usa para direcionar propagandas para consumidores em potencial. O Facebook usa tudo aquilo que você posta para traçar seu perfil.

Esse modelo é especialmente atraente para os anunciantes a partir do momento em que o botão “Like” (“curtir”) está em mais de 100 mil sites e é clicado mais de 100 milhões de vezes por dia, pois a plataforma de identificação dos gostos dos usuários foi ampliada em proporções que ultrapassam o limite da rede social: agora tudo é “gostável”.

Para Ana Laura Gomes, que presta consultoria de internet para o Senac, o mecanismo de publicidade direcionada é, sim, uma invasão de privacidade do usuário, mesmo que traga o benefício de exibir apenas o que é teoricamente interessante para a pessoa.

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O problema, segundo ela, é o mapeamento dos interesses de consumo de cada um baseado no que eles dizem para os outros.

No entanto, a consultora ressalta que o procedimento não é ilegal se o usuário souber dele antes de entrar na rede social.

David Kirkpatrick, autor de The Facebook Effect, lembra que é responsabilidade do usuário saber as regras da rede em que está entrando e que, se ele permite que um aplicativo acesse seu perfil, está aceitando o recolhimento dos dados.

O psicanalista Jorge Forbes afirma que não temos mais controle sobre as informações que circulam sobre nós na web. Ele acredita que o conceito de privacidade mudou muito nos últimos anos e, por isso, não dá para legislar sobre a internet seguindo os moldes do passado. Se antes privado era o que poucas pessoas podiam saber e público era o que muitas pessoas podiam saber, hoje, tudo que pode ser expressado pela linguagem é público. E privado é apenas o que a linguagem não descreve. Helen Nissenbaum, autora do recém-lançado livro Privacy in Context: Technology, Policy, and the Integrity of Social Life (‘Privacidade em Contexto: Tecnologia, Políticas e a Integridade da Vida Social’ em tradução livre), define privacidade como “o respeito pelas normas sociais que governam o fluxo das informações pessoais”. Para ela, o entendimento do que é privacidade não mudou, pois essa transformação cultural é muito complexa. O que mudou, para ela, foi a forma de lidar com as informações.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Com a popularização de câmeras de segurança, banco de dados integrados e redes sociais, é muito mais fácil gerar e espalhar informações e, por isso, também é mais fácil invadir a privacidade de alguém. “Talvez por causa disso as pessoas se tornaram mais conscientes de sua privacidade e mais preocupadas com ela”, disse Helen em entrevista ao Link.

Quebra de contrato. O pensamento jurídico também segue essa concepção. De acordo com o jurista Tércio Sampaio, no Brasil, o direito à privacidade é garantido pelo artigo 5º da Constituição, que não pode ser alterado. O que é necessário é criar novos mecanismos de proteção à privacidade dos indivíduos adequados à internet, já que as formas de circulação da informação são outras. De qualquer forma, continua sendo do indivíduo a prerrogativa de decidir o que pode ser falado sobre ele e o que é abusivo.

Independentemente de a privacidade ter mudado ou não, o que é aceito por todos os ramos do conhecimento é que, se um grupo de pessoas compartilha regras explícitas sobre a privacidade, como é o caso das redes sociais, qualquer quebra ou alteração indevida nessas regras é uma violação da privacidade.

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Seguindo essa lógica, esse foi o erro de Zuckerberg, ao impor sua forma de entender a privacidade e tirar dos usuários o controle integral sobre seus dados

SAIBA QUEM TE VÊ

RECLAIM PRIVACY

O Reclaim Privacy é um Bookmarklet, ou seja, uma espécie de script adicionado ao navegador como um link no favoritos. Quando clicado, ele analisa e avalia se suas definições de privacidade no Facebook são seguras o suficiente. Caso seus dados estejam muito expostos, o programa avisa e ajuda você a configurar as opções de privacidade

1. NO SITE

Comece entrando no site do projeto ReclaimPrivacy.org

2. NO BROWSER Arraste o botão ‘Scan for Privacy’ para a barra de Favoritos do seu navegador

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3. NO FACEBOOK Entre na rede social e procure as Configurações de Privacidade. Clique no botão e veja os resultados

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