Cai o número de incubadoras em SP

Levantamento da USP mostra que falta de recursos fez o número de instituições cair de 75 para 34 em três anos

PUBLICIDADE

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Levantamento da USPmostra que falta de recursos fez o número de instituições de apoio à empresas iniciantes cair de 75 para 34 em três anos

SÃO PAULO – As incubadoras de novas empresas de base tecnológica do Estado de São Paulo têm na falta de recursos o seu principal gargalo. Um mapeamento inédito feito pela Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP) à pedido da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo identificou que atualmente 34 incubadoras operam no Estado, apoiando 461 novas empresas. Em 2009, eram 75. Uma queda provocada pela redução dos repasse de recursos para essas instituições.

 
 

PUBLICIDADE

O estudo, divulgado nesta quinta-feira, 31, durante a II Expocietec, será usado pelo governo do Estado como base para definir políticas públicas para o setor nos próximos anos.

Um dos principais motivos que causou a mortalidade dessas instituiçõesfoi o fim do convênio do Sebrae com as incubadoras paulistas em 2010, após perder uma ação civil pública por terceirizar serviços de consultoria e treinamento, o quecolocou as incubadoras em dificuldades financeiras. “Nós esperávamos um número maior de incubadoras. A retirada do Sebrae do custeio foi devastadora.Nosso desafio agora é suprir essa carência”, disse o subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo Marcos Cintra.

Segundo o mapeamento, atualmente as incubadoras tentam se manter com a contribuição mensal paga pelas empresas incubadas. O restante do orçamento vem de fontes diversas, que variam de repasses recebidos da prefeitura municipal ouassociação comercial, a serviços prestados tanto para incubados quanto para a comunidade em geral.

As incubadoras, no entanto, foram unânimes em afirmar que entre seus principais desafios futuros estão a sustentabilidade financeira e a prospecção de recursos para incrementar o processo de incubação. “Elas ainda não criaram um modelo de sustentabilidade financeira como em Israel, onde há capital privado”, diz Cintra.

ModeloSérgio Risola,diretor-executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), apontada como destaque no estudo por apresentar números acima da média – enquanto cada incubadora tem uma média de 10 empresas incubadas, o Cietec conta com 121 associadas –, diz que mesmo as incubadoras com gestão mais severas sobrevivem com grande dificuldade. “Nós temos que acabar com o mito que as incubadoras são todas fundações ligadas a universidade e não têm caráter privado. Temos que transformar incubadoras em organizações sociais.”, diz.

Publicidade

Entre as 461 empresas incubadas, a obtenção de recursos também é um problema. Fapesp (36,8%), Sebrae (19,7%) e CNPq (19,7%) são as principais fontes de recursos. Mas quase metade das empresas de base tecnológica incubadas (42,1%) nunca buscou financiamento em nenhuma fonte privada ou pública. O problema seria causado pela burocracia e desconhecimento sobre as fontes de financiamento. “Eles não tiveram informação. Muitas dessas empresas são feitas por cientistas e não por administradores de empresas. E eles não querem perder tempo com burocracia”, diz Cintra.

O relatório sugere que algumas das soluções para amenizar a falta de recursos para as incubadoras são orientar essas instituições para a área de negócios, com direito a participação em fatia do faturamento das empresas e obtenção de receita com cursos e consultorias, criação de um marco regulatório para o setor e tratamento fiscal diferenciado entre os municípios para atração de empresas de base tecnológica.

As empresas incubadas, por sua vez, apontaram como medidas necessárias para fortalecê-las a realização de ações em rede entre incubadoras, a criação de um concurso estadual entre as instituições e de uma rede governamental para atrair parceiros, entre outras.

PerfilAs 34 incubadoras paulistas de base tecnológica possuem 461 empresas incubadas, com uma média de 10 empresas por instituição.Até o fim de 2012 essas empresas faturaram R$ 155,3 milhões. Mais da metade (57,6%) estão a menos de 160 km da capital, na região Metropolitana e nas cidades de Campinas e São José dos Campos.Metade delas tem atuação estritamente nacional (51,3%). Entre os ramos de negócio com mais empresas estão Tecnologia da Informação (64,3%), Automação (57,1%) e Software (57,1%).

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Os gestores dessa empresas apresentam um perfil profissional mais maduro. A idade média dos empreendedores é de 47,5 anos, com uma experiência profissional média de 22 anos.Todos possuem formação universitária – a maioria em engenharia, administração ou economia – e grande parcela é formada por pós-graduados. A maioria ainda não possui faturamento (39,5%), enquanto 25% faturam entre R$ 100 mil e R$ 500 mil, e 22,4% recebem até R$ 100 mil. Apenas 5,3% passaram da marca de R$ 1 milhão de faturamento anual.

Enquanto a maioria das incubadoras oferece uma infraestrutura de informática considerada boa pelos incubados, além de serviços como assessoria para captação de recursos não-reembolsáveis, cursos, consultorias e infraestrutura para reuniões e eventos, o estudo identificou que faltam programas de desenvolvimento de carreira, serviços de elaboração de estudos e pesquisas de mercado, laboratórios, suporte para acesso a investimento privado, ajuda de custo para viagens e feiras e assessoria contábil.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.