Grandes empresas de olho nas startups

Companhias investem em concursos para premiar ideias das novatas da tecnologia

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Por Ligia Aguilhar
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SÃO PAULO – O que Mastercard, Coca-Cola, Ford e Mercado Livre têm em comum? As marcas fazem parte de um amplo grupo de empresas que no ano passado foi à caça de negócios inovadores. Em busca de ideias “fora da caixa” para seus negócios, que a rotina de trabalho por vezes inibe de serem criadas dentro de casa, e interessadas em associar suas marcas à ideia de inovação, elas se abriram para uma nova geração de empresas e potenciais fornecedoras: as startups.

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O ano de 2014 foi marcado por concursos e competições promovidos por grandes companhias para premiar startups. “Muitas empresas fazem isso como branding, para se posicionar como uma marca que busca inovação. Outras querem gerar novos negócios dentro da sua área e fecham parcerias ou até criam fundos de investimento para colocar dinheiros nesses negócios”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Guilherme Junqueira.

A tendência continua em 2015. A montadora Ford, por exemplo, lançou recentemente um programa global de aceleração (como são chamadas as iniciativas que funcionam como uma espécie de escola para empreendedores, oferecendo dinheiro e educação para o negócio avançar) em parceria com a TechStars, uma bem-sucedida aceleradora americana.

A ideia do “TechStars Mobility, driven by Detroit” é apoiar o desenvolvimento de projetos inovadores que tenham como objetivo resolver desafios da mobilidade urbana. “Estamos vendo o surgimento no mercado de produtos de consumo e serviços emocionantes, criados por startups. Será ótimo ajudar a trazer esse novo pensamento para a indústria automotiva”, declarou o presidente do conselho da empresa, Bill Ford.

Outra grande empresa que abriu as portas para startups foi o Bradesco. A empresa lançou o concurso InovaBra, que no início do ano escolheu nove startups para desenvolver um serviço ou produto inédito no mercado e integrar sua tecnologia com a do banco. “Há dois, três anos, paramos para nos questionar se nosso modelo de inovação era o mais eficiente. Estruturamos processos e metodologias para a inovação fechada, mas como estamos cada vez mais digitais e precisávamos de um conceito mais de ruptura, achamos que talvez a inovação fechada não fosse suficiente para a gente”, diz o diretor vice-presidente do Bradesco, Maurício Minas.

Competição A Mastercard escolheu se unir às aceleradoras 21212, Circuito Startup e Wayra para premiar inovações no setor bancário. O objetivo era incentivar o crescimento de novos fornecedores de tecnologia para esse mercado e se mostrar como uma marca ligada ao conceito de inovação. “A Mastercard tem deixado de ser uma empresa de meios de pagamento e cartão de crédito para virar empresa de tecnologia. Para isso, precisamos estar perto de novos mercados”, diz o diretor de produtos digitais da MasterCard, Marcelo Theodoro.

O concurso MasterCard Digital Commerce Shift teve mais de 240 empreendedores inscritos. A empresa vencedora foi a BoxBuy, um carrinho de compras interativo e multiplataforma que permite que as lojas online ofereçam seus produtos por meio de aplicativos de mensagens instantâneas.

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O prêmio foi R$ 10 mil em dinheiro e um iPhone 6. “Este é o primeiro prêmio que recebemos e foi um grande incentivo para nossa empresa crescer mais”, diz Gabriel Monteiro, CEO da Box Buy.

O Mercado Livre sempre trabalhou com APIs (um sistema para troca de informações) para que desenvolvedores pudessem criar soluções para a empresa a partir do seu sistema. No ano passado, decidiu ir além e financiou três startups vencedoras de um concurso por meio de um fundo criado pelo grupo argentino em 2013 – o Mercado Libre Commerce –, com orçamento de US$ 10 milhões.

Uma das startups participantes, a 00K, diz que o retorno do concurso foi positivo. “Nosso faturamento cresceu cerca de 30% com a parceria, em menos de seis meses”, diz Cyllas Elias, fundador da 00k. “Você passa a ter um contato que não tinha com a empresa antes, a receber apoio e começa a se enxergar de outra forma. Dinheiro tem no mercado, não é o problema, mas quando o dinheiro vem acompanhado de conhecimento, esse é o melhor dinheiro que existe.”

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Crítica Do lado do empreendedor, no entanto, é importante avaliar qual o ganho real de participar desses concursos, já que as premiações variam de grandes investimentos até pequenas quantias de dinheiro. “Não adianta um banco fazer um concurso para startups e continuar dificultando o acesso à crédito para pequenos empreendedores”, diz um o cofundador de uma startup, que não quis ser identificado.

“É importante a startup ter cuidado com o nível de exposição que vai ter e perceber se o concurso vai gerar um ganho relevante e uma exposição positiva”, diz Junqueira, da ABStartups. “Não adianta ganhar um concurso e fechar contrato com uma grande empresa se tiver que vender a alma e mantê-la como seu único cliente”, diz.

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