SÃO PAULO – Quando o Google tirou seus óculos inteligentes Google Glass do mercado no início do mês, adotou um tom otimista e disse que o produto continuaria sendo aprimorado dentro da empresa até estar pronto para voltar às lojas.
Na teleconferência de resultados trimestrais de ontem, porém, a empresa foi menos positiva. O vice-presidente de Finanças Patrick Pichette reconheceu grandes problemas com o Google Glass, admitindo que era hora de uma “pausa” e uma estratégia de “reinicio”.
“Quando times não são capazes de superar obstáculos, mas nós pensamos que ainda existe uma promessa, nós pedimos que eles tirem uma pausa e definam uma nova estratégia, como fizemos no caso do Glass”, afirmou o executivo. “Nessas situações, quando projetos não têm o impacto que nós esperávamos, nós tomamos decisões duras”.
InvestimentoA admissão de falhas com o Glass por Pichette foi particularmente notável dado que o produto tem sido defendido pelo presidente de tecnologia do Google, Sergey Brin.
Quando o atual presidente do Google, Larry Page, voltou ao papel de executivo-chefe da companhia em 2011, ele realizou uma série de “limpezas”, que miraram projetos de baixo desempenho, como a enciclopédia on-line Knol e um serviço que permite aos consumidores monitorarem seu consumo de energia em casa.
Sob influência de Page, porém, o Google está gastando bastante em uma variedade de projetos, tais como carros auto-dirigíveis, balões movidos a energia solar que fornecem acesso à internet, robótica e saúde. Muitos desses projetos não devem oferecer retorno por anos, se é que o entregarão em algum momento.
Pichette deixou claro na quinta-feira que o crescimento da receita de 18% em sites do Google durante o quarto trimestre, dão à empresa “licença” para continuar a investir em projetos de longo prazo.
O Glass é um projeto que não tem sido capaz de “superar seus obstáculos” apesar de sua grande promessa, disse Pichette.
MudançasO projeto do Google Glass deve continuar após uma série de mudanças. A atual chefe do projeto, Ivy Ross, continuará à frente do desenvolvimento do Glass, que sairá do laboratório experimental Google X e se tornará uma divisão independente dentro do Google, segundo o Wall Street Journal.
Ross será chefiada por Tony Fadell, chefe do Nest Labs, onde é desenvolvido o termostato inteligente adquirido pelo Google em 2014 por US$ 3,2 bilhões.
Fadell trabalhou com Steve Jobs na Apple e criou o design inicial do iPod. A ideia é que o projeto do Google Glass daqui pra frente siga os passos de inovações de empresas como a Apple, que desenvolvem produtos em segredo e lançam no mercado apenas quando estão totalmente prontos.
O Google suspendeu as vendas aos consumidores do Glass no início deste mês, mas disse que vai continuar a vender o produto para empresas. “O Glass estava na sua infância e vocês aceitaram dar os primeiros passos e nos ensinar a andar. Nós ainda temos trabalho a fazer, mas agora estamos prontos para colocar sapatos na nossa criança e ensiná-la a correr”, diz trecho de um texto publicado na rede social Google Plus pela equipe de desenvolvimento do Google Glass.
/ COM REUTERS