Garoto prodígio

Aos 14 anos, ele já irritou a Apple e tem emprego garantido. Profissão: desenvolvedor

PUBLICIDADE

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

Aos 11 anos, Ludwig van Beethoven, compunha suas primeiras peças. Aos 12, Einstein dominava cálculo diferencial e integral. Pablo Picasso, aos 14, destacava-se na academia de arte La Lonja em Barcelona. Pedro Franceschi, aos 12, distribuía para o mundo o desbloqueador (ou jailbreak) do então super protegido iPod Touch 2G da Apple.

PUBLICIDADE

O garoto deve ter deixado Steve Jobs decepcionado com sua equipe. A prática de desbloqueios de aparelhos Apple já era algo comum, por isso a empresa encheu a então nova versão de seu iPod Touch de proteções, achando que assim dificultaria o trabalho dos jailbreakers. Não demorou muito para um furo ser descoberto, mas era preciso executar uma série de códigos complexos para o desbloqueio.

Pedro Franceschi estava cansado de ficar repetindo o procedimento nos aparelhos dos seus amigos (cobrando R$ 50 de cada um), então pensou: “Por que não criar uma programa simples que resuma tudo isso a dois cliques?”. E em cinco horas a sua invenção, o Quick2gPwner, estava pronta. Após ser lançado, o programa foi baixado 17 mil vezes em menos de cinco dias.

O grupo online de desbloqueio ao qual Pedro pertencia chegou a receber uma carta da Apple, sugerindo-lhes que era melhor pararem de brincar com a segurança dos seus aparelhos. Mas a gigante não foi além disso.

O garoto, ainda com 12 anos, criou outro aplicativo, chamado QuickOiB, que tornava mais seguro e fácil substituir o sistema operacional original do aparelho Apple (iOS) pelo livre Linux. Este obteve 25 mil downloads em duas semanas.

Franceschi ficou então famoso, dentro e fora do País. O sucesso fez o menino receber propostas de trabalho – enquanto ainda não tinha idade suficiente nem para trabalhar como aprendiz – e ganhou o reconhecimento dos pais, que finalmente passaram a levar o menino a sério.

Em sua casa no Rio de Janeiro, Pedro, ainda aos 8 anos, mexia no então potente Macintosh do pai, que trabalhava como editor de imagens. “Em casa sempre tivemos ótimos computadores, mas só usava Windows quando o Mac ou o Linux estava quebrado”, diz rindo. Nesse ambiente começou a aprender linguagens de programação, que o ajudariam a criar aplicativos que funcionassem nos seus dois sistemas operacionais.

Publicidade

 

A cultura do desbloqueio o atingiu pela primeira vez quando ganhou um iPod Nano. Ele queria muito que o aparelho também rodasse vídeo. Pesquisou e encontrou a fórmula. A partir disso não parou mais.

“Eu percebi que o hardware podia oferecer muito mais ao usuário do que o software permitia”, explica. Pedro acredita que os aparelhos pertencem a quem os possui, discurso que legitimaria o desbloqueio. “Se eu jogar meu celular no chão eu não estou quebrando a propriedade da Apple, eu estou quebrando algo que é meu”, argumenta.

Franceschi foi chamado para participar do TEDx Sudeste em 2010 (para o qual fez um aplicativo com informações, palestrantes, vídeos e notícias) e recentemente tem agido como uma espécie de consultor na área de games. Em um evento em fevereiro no qual se discutiam propostas a serem levadas ao Ministério de Ciência e Tecnologia visando alavancar a indústria de jogos eletrônicos no País, Pedro pegou o microfone e deu aula. “Se a gente pode melhorar o setor de games no Brasil eu sugiro que isso seja feito primeiramente pela área mobile. Quatro em cada 10 brasileiros jogam; desses, 29% jogam jogos de celular. Games é a categoria de aplicativos mais usada e eles só existem há cinco anos. Nem os videogames com mais de 20 anos tem essa audiência. Pensem nisso”.

—-Leia mais:Link no papel – 14/03/2011

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.