Games brasileiros ganham loja própria

A Splitplay quer ser a central dos jogos independentes criados no País

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Por Bruno Capelas
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SÃO PAULO – Fã dos jogos da Nintendo, o carioca Rodrigo Coelho cresceu com o sonho de muitos jovens de sua geração: ganhar a vida fazendo games. Mas, após se formar na faculdade de design e se dedicar nas horas vagas a criar seus jogos, o rapaz de 25 anos percebeu a dificuldade que desenvolvedores no Brasil têm para fazer seus projetos chegarem ao público.

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Em vez de aceitar o game over, Coelho se juntou a dois amigos de faculdade, o engenheiro Henrique Bejgel e o designer Eric Salama, para tentar resolver esse problema. Após R$ 10 mil de investimento de cada sócio e um ano dedicado à concepção do projeto, o trio criou a Splitplay, a primeira loja digital de games dedicada a jogos tupiniquins.

Lançada comercialmente há cerca de dois meses, a Splitplay oferece aos jogadores 20 títulos diferentes, todos desenvolvidos no Brasil. A loja é inspirada no modelo da norte-americana Steam, a maior distribuidora digital de games do mundo (veja box). “Queremos incentivar o mercado nacional e criar uma central onde as pessoas possam encontrar jogos brasileiros, algo que às vezes até a mídia especializada tem dificuldade em fazer”, explica Coelho, que adianta que há mais vinte jogos para serem lançados até o fim do ano.

Lojas como a Steam e a Splitplay têm sido de grande valia para desenvolvedores independentes (os “indies”), para quem marketing e distribuição física pesam no orçamento. Com as plataformas, qualquer um pode tentar vender seu jogo pela rede, em um canal direto com o público – que depois de adquirir os jogos, baixa-os para o computador.

Desenvolvedores e lojas costumam dividir os ganhos com as vendas – a Splitplay, por exemplo, fica com 30% da receita obtida, administrando as operações bancárias, em jogos que podem ser gratuitos ou pagos, com preços entre R$ 6 e R$ 25.

Próxima fase

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Com dois meses de vida, a Splitplay mostra números relevantes para uma empresa jovem. Até agora, mais de 100 mil pessoas usaram o serviço de alguma forma, seja para pesquisas ou mesmo para baixar algum título gratuitamente, e 4 mil usuários já se cadastraram.

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Para começar a empresa, Coelho e seus sócios investiram R$ 10 mil cada um. Hoje, a Splitplay participa de dois programas de startups: o carioca Startup Rio, que ofereceu ao trio um aporte de R$ 80 mil, e o Start-Up Chile, com investimento de US$ 40 mil. Por causa da presença no programa chileno, Coelho, que está morando em Santiago, já traça metas para os próximos meses.

“O mercado de games é muito forte no Chile e cresce bastante na América Latina. Queremos também abrir esse horizonte em breve”, diz ele. Entre as metas da empresa para o futuro, estão também criar uma plataforma para jogos mobile e a SplitplayUni, espécie de escola virtual para quem quiser aprender a fazer seus próprios jogos.

Índio gamePara os desenvolvedores brasileiros, a Splitplay tem sido uma boa oportunidade para aparecer. É nisso que crê a Duaik, produtora paulistana de Aritana e a Pena da Harpia, um game inspirado na cultura indígena. “Fizemos um jogo para os brasileiros, mas não sabíamos como chegar no público. A Splitplay apareceu na hora certa”, conta o economista Pérsis Duaik, que criou a produtora com seu irmão, Ricardo.

Produzido durante três anos, Aritana é o primeiro game da Duaik. Para Pérsis, a Splitplay evidencia a mudança que vem ocorrendo no País, tradicionalmente um grande consumidor de games, mas com pouca produção própria e investimento. “Quem sabe agora não tem um espacinho para a gente mostrar que vale a pena investir em um game nacional?”, aposta ele.

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Outro time presente na Splitplay e que investe em temas nacionais é a Sertão Games, de Teresina, responsável por Cangaço, um game de estratégia que remete ao universo de Lampião. “Jogos sobre cowboys ou zumbis são interessantes, mas é difícil se destacar fazendo mais do mesmo”, diz Erick Passos, fundador da produtora, que acredita que o País ainda não formou uma receita para criar games com sucesso. “Ainda não existe conhecimento sobre como as coisas funcionam na prática, e todos aprendem com seus erros”, avalia.

Para Guilhes Damian, da produtora paulistana QUByte Interactive, o maior mérito da Splitplay é o de ser uma vitrine de jogos brasileiros. “Está todo mundo ali”, diz ele, que é um dos responsáveis pelo HTR+, um game que traz para os PCs o universo alucinante e nostálgico dos autoramas.

Presente também na Steam graças a uma parceria com uma publicadora alemã, a equipe da QUByte acredita que quanto maior o número de canais de distribuição, melhor. “Queremos colocar o jogo até na geladeira das pessoas”, resume Guilhes Damian.

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Americana Steam inovou com modelo de venda digitalLançada em 2003 pela Valve, produtora de jogos como Half-Life, a norte-americana Steam é sinônimo de loja online de games no mundo todo.

Com 65 milhões de usuários cadastrados, 3 mil games disponíveis na loja e 75% das vendas de games em downloads digitais para PCs, a loja virou referência ao se tornar um canal para desenvolvedores indies.

Em janeiro, a empresa lançou as Steam Machines, consoles com configurações customizáveis e próximas às de um PC, para competir com Sony e Microsoft

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