Festa mais madura

Mais organizada e silenciosa, Campus Party se firma como um ponto de encontro de entusiastas para novas ações e negócios

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Por Vinicius Felix
Atualização:

Mais organizada e silenciosa, Campus Party se firma como um ponto de encontro de entusiastas para novas ações e negócios

É preciso desconfiar de quem disser que tem uma avaliação precisa do que foi a sexta edição da Campus Party, durante a semana passada. Em uma festa tão descentralizada, as experiências podem variar muito. É como uma versão física da internet.

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Era fácil se perder entre as tantas atividades disponíveis para os oito mil inscritos. Fliperamas, games, filmes e até os antiquados tabuleiros de xadrez e mesas de pebolim chamavam a atenção. Não eram raros os momentos em que dez eventos oficiais ocorriam ao mesmo tempo – às vezes até sobre o mesmo assunto.

Mas alguns preferiram ficar em suas máquinas, fazendo download, checando o Facebook, vendo animes e jogando. Tamanha imersão gerou cenas curiosas, como o rapaz que assistia a um vídeo do fantoche Marcelinho no YouTube e nem reparou que o próprio fantoche e seu criador circulavam ao lado tirando fotos e falando com fãs. “Tento acompanhar a Campus inteira”, disse o estudante de informática Edilson Boneto, que assistia, pela internet, a um dos eventos que ocorria na própria feira.

A festa foi além de interessados em jogos ou nas palestras de nomes como Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na lua, e Nolan Bushnell, o criador da Atari (mais informações na pág. ao lado). Pelas mesas, além de ações de marketing e campanhas do Partido Pirata, muitos participantes tentavam emplacar um projeto, exibindo seus cases. Eles sabiam que por ali passavam olheiros e gente interessada em investir em uma boa ideia – seja a da pessoa que tem seu programa de rádio online, a da que faz stickers ou a da que tem uma pequena empresa de equipamentos de informática na garagem.

“O evento mudou. Muita gente vem para vender o peixe, buscar a sorte e abrir portas para um negócio”, diz Carlos Alexandre Duarte, curador da área de hardware e modding (prática de montar computadores com peças avançadas e gabinetes elaborados). Duarte diz que em 2013 os participantes ficaram mais ligados no conteúdo técnico.

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Até quem não tinha projeto mostrou seu lado empreendedor. Um grupo de amigos trouxe pacotes de macarrão instantâneo e um fogão elétrico. Na madrugada, com as lanchonetes oficiais fechadas, eles eram a opção mais prática para matar a fome – e, de dia, concorriam com as lanchonetes caras da Campus.

Sem ôôô. Esses são sinais de um evento mais maduro e com gente acostumada à sua rotina – uma maturidade que se viu no silêncio. Foi o que reparou Pena Schmidt, ex-executivo musical, que esteve em todas as edições. “Na primeira tinha algo acontecendo a cada 15 minutos, manifestações ou então todo mundo batucando na mesa. Vi gente reclamando que essa geração não é de nada. Entre um ano e outro já chamam de geração”, brinca.

Pena não se preocupa com o fato de debates com temas mais sérios, como Marco Civil e a neutralidade de rede, tenham ficado praticamente vazios. “Aqui não é a hora, mas muitos aqui são politizados”, diz. Marcelo Branco, que foi diretor-geral de três edições da Campus Party concorda. “Já tivemos tempos de mais mobilização, quando estávamos ameaçados”, afirma. Lá, ele pediu que o Marco Civil fosse batizado de “Lei Aaron Swartz”. Branco foi um dos poucos que citaram o hacker ativista, morto em 11 de janeiro, a quem a feira foi dedicada.

Durante o dia, o silêncio era quebrado pelas mesas diárias promovidas pela dupla Jovem Nerd e Azaghal e por eventos como os talk shows do blog Jacaré Banguela, campeonatos de games da Intel Extreme Masters e os duelos entre sagas (Harry Potter vs. Crepúsculo e Star Wars vs. Star Trek).

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Sem sede. Ao contrário das edições anteriores, desta vez o evento teve poucos problemas de infraestrutura. “Este ano temos água”. brincou Mário Teza, diretor da feira, na abertura. Alguns participantes reclamaram da falta de transporte grátis entre a rodoviária, onde fica o metrô, e o Anhembi. E durante a semana ratos foram vistos perto de um dos restaurantes da arena principal.

Pensando na analogia entre a Campus Party e a internet, onde tudo acontece ao mesmo tempo, não parece fazer sentido pedir um evento mais concentrado para que os temas – técnicos ou de entretenimento – sejam mais bem aproveitados pelos participantes. A tendência é que tudo fique mesmo maior, diverso e aberto. O que fazer com tanto conteúdo é com eles.

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