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Pensando tecnologia com base na biologia, Adrian Bowyer criou a RepRap, impressora 3D open source que imprime suas próprias peças

Por Rafael Cabral
Atualização:

O engenheiro Adrian Bowyer nunca engoliu o método usado para produzir dispositivos eletrônicos. Para ele, os processos de produção usados por organismos biológicos são “muito mais eficientes e elegantes” que os da indústria de tecnologia, que precisa de vários equipamentos diferentes para criar os seus produtos. Se células podem se autorreproduzir, por que não pensar em máquinas que fazem o mesmo?

Foi o que ele fez. Professor de Engenharia Mecânica na Universidade de Bath, na Inglaterra, Bowyer é o criador da RepRap, a primeira impressora 3D autorreplicável – ou seja, capaz de imprimir as próprias peças e criar outra igual. Os desenhos do hardware e do software estão em código aberto. Qualquer um pode entrar no site, adaptar e melhorar o projeto original. Como na teoria da evolução, que há mais de vinte anos ele tenta levar para a tecnologia.

O pesquisador ao lado da sua cria (Flickr / Simon Bradshaw) Foto:

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Seu grupo de pesquisas foca em uma área tão estranha quanto interessante: a Biomimética, que se inspira na Natureza para oferecer soluções inovadoras para várias áreas. As roupas de baixo atrito usadas por nadadores, desenvolvidas após a observação da pele dos peixes e da forma como ela interage com a água, ilustram bem o conceito. Assim como o velcro, idealizado com base em sementes que grudavam na roupa de seu criador, o suíço Georges de Mestral.

Bowyer acredita que a mesma lógica pode ser aplicada em softwares e equipamentos eletrônicos. Conceito estranho? Sim, é. Mas não tão complicado. Da mesma forma que os jatos de tinta das impressoras normais fazem movimentos sequenciais para criar imagens coloridas, as impressoras 3D disparam plástico, metal, cerâmica e outros materiais para criar objetos. E esses objetos podem muito bem ser usados para montar outras impressoras 3D.

Darwin, a primeira RepRap ( Foto: Divulgação)

“Eu queria saber se era mesmo possível. A motivação para criar a RepRap foi a minha curiosidade. Além disso, percebi que o seu potencial poderia ser libertador e benéfico para a tecnologia e para as pessoas”, diz o inventor. Para produzir o primeiro modelo de máquina, batizado de Darwin, ele e seus alunos se embrenharam no laboratório do final de 2005 até o começo de 2008. A primeira coisa que imprimiram? “Um copinho de tequila. Com isso, poderíamos brindar ao nosso sucesso com um vidro que a nossa máquina imprimiu”, brinca. O segundo desenho, chamado Mendel, saiu de uma Darwin.

Mendel em ação (Crédito: Divulgação) Foto:

Por enquanto, a RepRap é uma iniciativa acadêmica, apesar de já contar com financiamentos externos. Hoje, ela é usada apenas por pesquisadores e por uma esforçada base de autodidatas, que produz suas próprias impressoras e colabora com o wiki do projeto. Apesar disso, Bowyer não vê empecilho para a sua popularização. “Consigo ver essa tecnologia se tornando tão comum quanto o computador, em cerca de dez anos. Talvez aí já possamos imprimir objetos comuns em casa, em vez de comprá-los em lojas”, projeta. “Nem todos terão. Assim como nem todo mundo tem uma TV. Mas nada impede que as impressoras 3D se popularizem, já que elas de fato funcionam. Os geeks já gostam dela. E o que os geeks gostam hoje, todos gostam amanhã”.

Para ele, as mudanças causadas pelo uso geral dessas máquinas podem ser profundas, indo do copyright à maneira como as indústrias se organizam. Assim como o compartilhamento de músicas forçou a indústria da música a se reinventar, a impressão 3D revolucionaria a manufatura. “Se esses equipamentos se espalharem, podemos ver tentativas de torná-los ilegais, mas acho que isso não mudaria nada. A analogia é com o compartilhamento de músicas. É ilegal, mas ninguém se importa”, alfineta. “Além do mais, você não pode impedir que as pessoas tenham máquinas para imprimir coisas, principalmente se elas mesmas fazem essas máquinas”.

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