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Escolas e clubes ensinam crianças a programar

Aulas de computação ganham força no Brasil; argumento é que habilidade hoje é tão importante quanto ler ou fazer contas

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

SÃO PAULO – Com os dedos em pinça, o aluno Artur Suda, de 8 anos, segura um pequeno fio vermelho conectado a uma banana, que está presa a uma placa e conectada a um laptop. Cada vez que toca na banana, os caracteres na tela do computador respondem aos comandos, como em um mouse. A cada clique Artur ri, maravilhado com a façanha recém-aprendida em uma aula de programação na escola onde cursa o ensino fundamental.

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A Escola Bakhita, onde Artur estuda, reúne semanalmente alunos de 8 a 13 anos para aprender programação e robótica em aulas práticas. Oferecidas como atividade extracurricular, as aulas seguem uma tendência mundial que ganha força no Brasil, o incentivo ao ensino da linguagem da computação em escolas. A ideia, defendida por pedagogos e executivos de tecnologia, é de que em um mundo cada vez mais digital, saber interpretar e escrever códigos e tão importante quando ler, escrever e fazer contas.

Outro elemento reforça a tese. No Brasil e em boa parte do mundo há déficit de profissionais preparados para trabalhar em áreas como programação e TI. Segundo a Associação para Promoção da Excelência do Software (Softex), o Brasil pode chegar em 2020 com um déficit de mão de obra qualificada em TI de 408 mil profissionais se não forem criados programas para reverter este quadro.

 

Na escola de Artur o ensino foi dividido em três partes. Primeiro, os alunos aprendem a usar o Scratch, que dá a base para a linguagem Phyton. Na segunda fase, usam o computador educacional Raspberry Pi e placas Arduino e Makey Makey para programar hardware e criar, por exemplo, o circuito que transforma a banana em um mouse. Por último, lidam com drones e impressoras 3D.

O projeto, intitulado “CLWB – Community for Learning With Bits” (Comunidade para Aprender com Bits, em português), é liderado por Mike Lloyd, um inglês que há 30 anos pesquisa a integração entre educação e tecnologia. “As crianças aprendem muito mais criando tecnologia do que usando”, explica ele, que pretende desenvolver o lado empreendedor dos alunos.

Imediatistas O coordenador de tecnologia da escola, Rafael Martins, diz que o aumento do interesse dos alunos pela escola é notável. “A tecnologia é a linguagem dessa geração, o brincar deles”, diz.

Matheus Zuniga, de 12 anos, um dos alunos do projeto, conta que entendeu o que um professor tentava explicar nas aulas de matemática sobre plano cartesiano quando precisou usar o conteúdo para programar um jogo no Scratch. “Não via sentido em aprender aquilo. Quando fiz o jogo, mudei de ideia”, diz.

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No Colégio Internacional Ítalo Brasileiro foram os próprios alunos que pediram para formar um clube de programação. No ano passado, o grupo formado por jovens de 13 a 15 anos participou da campanha “Hour of Code”, liderada pelo Code.Org, instituição apoiada por empresas como Facebook e Microsoft e oferece cursos gratuitos de programação para leigos. A ideia é que qualquer um pode aprender a programar praticando uma hora semanalmente.

Para este ano, os alunos colocaram como meta criar jogos e programas que possam ser úteis para o colégio. “Com o tempo, isso pode fazer parte da grade curricular, porque a linguagem de programação é útil para trabalhar o raciocínio lógico e criar novas maneiras de pensar”, diz Marco Rossellini, coordenador de tecnologia educacional do colégio.

 

Outras iniciativas que buscam democratizar o ensino de programação também estão sendo realizadas no Brasil fora dos colégios particulares. A principal delas é liderada pelo Code Club, grupo criado em Londres por designers e programadores que dão aulas voluntariamente em escolas. O grupo chegou ao Brasil no meio do ano passado e já possui 176 voluntários cadastrados e 36 clubes em nove Estados. Em todo o mundo são 1.931 clubes.

A iniciativa foi trazida ao Brasil pelo engenheiro Everton Hermann, que de Paris dá aulas por Skype para alunos na escola onde estudou, no Rio Grande do Sul. À frente do Code Club daqui está Felipe Fernandes, que criou um grupo na escola Afonso Várzea, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

O Code Club quer desvincular a ideia de que o ensino de programação é interessante apenas para quem sonha em seguir carreira na área de TI. “A programação desperta muito a criatividade”, diz Fernandes. Segundo ele, muitos colégios apresentam resistência diante da iniciativa.

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