PUBLICIDADE

Amelia; a pirata do Europarlamento

Em entrevista, a sueca conta que acompanha a política brasileira e está desapontada

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

Em 2006 nascia na Suécia o primeiro Partido Pirata do mundo. Em 2009, o mesmo partido por pouco não foi eleito para cargos do legislativo do país. No mesmo ano, a ativista Amelia Andersdotter, com apenas 21 anos na época, ganhava aval legal para ocupar uma das cadeiras do “congresso” da União Europeia, o chamado Europarlamento, para um mandato de cinco anos.

PUBLICIDADE

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter e no Facebook

A jovem era a segunda da lista de representantes do Piratpartiet, atrás apenas de Christian Engström. Como havia espaço para um, Amelia teve que esperar. Em dezembro do mesmo ano, com o Tratado de Lisboa, que aumentava o número de cadeiras por país no parlamento, estava tudo certo. A pirata, defensora do fim do copyright e liberdade na internet, se tornaria a mais jovem parlamentar da Europa.

Em função da demora dos demais países envolvidos em definir seus representantes, nem ela, nem ninguém pode assumir o cargo para o qual foram eleitos. Hoje, dois anos depois, Amelia se diz esperançosa de que os problemas se resolvam e ela e os demais interessados possam participar efetivamente das discussões sobre o velho continente.

Amelia falou com o Link por e-mail, confira a entrevista:

Esse ano finalmente sai a autorização para assumir os cargos no Europarlamento? Todos os Estados membros exceto a Bélgica já discutiram até agora e definiram datas para ratificar os protocolos de transição que vão permitir que eu meus colegas assumamos os cargos.

Particularmente, nós estamos felizes agora que parece não mais haver nenhum problema burocrático na França; porque o processo todo lá foi agonizante. Na verdade, restam ainda algumas suspeitas de que a França não vá “permitir” que os eleitos pós-Tratado de Lisboa assumam as posições até que eles definam os representantes deles – o que ocorreria possivelmente só nas eleições nacionais do ano que vem (!).

Publicidade

Na Bélgica, eles tem cincos parlamentos e todos precisam aprovar os protocolos. Até agora apenas um dos cinco aprovou; dos demais a gente não ouviu nenhuma palavra, apenas sabemos que eles “começaram a avaliar o assunto”, entenda-se que preparam um dossiê. O processo de transições pelo Tratado é um verdadeiro drama – eu garanto que sei mais sobre as disputas de poder, em função do peso de cada país na União, do que eu gostaria.

Como você vê o progresso dos demais Partidos Piratas espalhados pelo mundo? Os Partidos estão indo bem, principalmente na Suíça, Alemanha e Espanha que elegeram representantes em governos locais, o que é muito legal. Em um nível local, nós estamos envolvidos com redes entre comunidades, softwares livres e abertos em administrações públicas, dados públicos/abertos e outros temas sobre transparência em governos.

O Partido Pirata Sueco não foi muito bem nas eleições do ano passado, mas a nossa organização jovem, Ung Pirat, está avançando. Eu sei que o presidente deles está acompanhando a situação na América do Sul com especial interesse.

Você acompanha? Eu também. Nós estamos desapontados que os esforços por cultura livre sofreram uma regressão depois que a Dilma Roussef foi eleita presidente. Muitas pessoas vinham trabalhando muito, muito arduamente para se buscar uma solução aceitável para o compartilhamento de cultura na internet e fizeram muitas discussões, conversas locais com artistas, usuários de internet. Me parece muito bizarro que o novo governo e, em particular, a nova Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, optasse por ignorar todo essa unidade e trabalho e voltassem a ouvir apenas as empresas privadas.

Como estão as discussões na Europa? Na Europa, infelizmente, todas as conversas sobre licenças são completamente assumidas e governadas por entidades privadas – o que não é nada bom. Licenças coletivas, de compartilhamento, na Europa ainda não tem perspectiva de se tornarem uma solução para a sociedade. Estou decepcionada pela falta de ação de outros partidos políticos por aqui.

—-Leia mais:Partido Pirata.BRLink no Papel – 06/06/2011

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.