Empreendedores do Vale do Silício renovam filantropia

Executivos acreditam que engenhosidade dos novos negócios pode ajudar a reduzir desigualdade

PUBLICIDADE

Por Agências
Atualização:

Reuters

 

PUBLICIDADE

Alessandra Stanleado The New York Times

No Vale do Silício persiste a crença de que seu objetivo fundamental é a inovação, e não o dinheiro, e que num mundo em transformação a tecnologia dá sua verdadeira medida do valor. A riqueza é considerada um subproduto prazeroso, algo como perder um pouco de peso depois de uma viagem em busca de aventuras selvagens.

Leia também:“Já fiz dinheiro suficiente”, diz criador do FacebookCEO da Apple, Tim Cook doará todo seu patrimônio

O mundo da tecnologia abriga alguns dos empreendedores mais ricos e dos filantropos mais dinâmicos, os herdeiros de Carnegie e Rockefeller do século 21 que acreditam poder aplicar a mesma engenhosidade e zelo graças aos quais enriqueceram, para tornar o resto do mundo menos pobre. A cidade de San Francisco, berço do Vale do Silício, tem também um dos níveis mais elevados de desigualdade de renda da nação, e a distorção da riqueza está mais concentrada entre as próprias pessoas que conduzem a economia como um todo.

Um paradoxo parecido verifica-se também na filantropia. Os empreendedores da tecnologia julgam que o fato de doarem a instituições beneficentes constitui um ato maior e, inclusive, mais baseado em dados do que em qualquer outro campo – e pode-se dizer que isto é verdade em vários sentidos. Mas apesar de seu faro pela ruptura, eles não estão mais interessados na mudança radical do que seus antecessores mais conservadores. Eles não fazem lobby pela redistribuição da riqueza; ao contrário, veem a pobreza e a desigualdade como um problema de engenharia.

Marc Andreessen, o capitalista que investiu, entre outras coisas, no Twitter e no Airbnb, postou no Twitter a seguinte mensagem: “Graças ao Airbnb, qualquer pessoa que tenha uma casa ou apartamento pode alugar um quarto. Desse modo, reduz-se a desigualdade de renda”.

Publicidade

Porém, as personalidades mais idealistas deste campo constatam que estão retribuindo a um mundo que se queixa de que eles ganharam demais. O ceticismo magoa mais porque alguns luminares da tecnologia estão convencidos de que suas empresas podem solucionar os males sociais.

A reflexão no Vale do Silício é algo inevitável e ao mesmo tempo inoportuno. Como Mark Zuckerberg afirmou numa conferência de tecnologia da Vanity Fair, em San Francisco, em outubro: “Basicamente, tudo o que se quer fazer com impacto gera alguma controvérsia”.

No Vale do Silício, há um desdém profundo por certas formas de dar, mais como exibicionismo de Wall Street, tendo em vista obter status. “O motivo fundamental pelo qual eu e minha esposa fazemos caridade é empreender alguma mudança no mundo”, disse Elie Hassenfeld, que deixou o emprego num fundo hedge para criar o GiveWell, um serviço de avaliação da beneficência com sede em San Francisco que orienta as opções filantrópicas de executivos como Dustin Moskovitz, um dos fundadores do Facebook. “Não participamos de espetáculos de gala nem fazemos doações para a minha universidade.”

Talvez estes não sejam grandes méritos. “Há um pouco de ilusão no Vale do Silício, de que eles não são como os outros ricos porque sua filosofia consiste em ‘tornar o mundo um lugar melhor”, disse Steve Hilton, ex-assessor do primeiro-ministro David Cameron da Grã-Bretanha e um dos fundadores da Crowdpac.com, uma startup política. “Mas o McDonalds e o Walmart também acham que seus negócios ajudam a sociedade. A Walmart diz que contribui para reduzir o custo de vida das famílias pobres. Todas as corporações acreditam que sua ação tem resultados positivos.”

PUBLICIDADE

Zuckerberg doa para causas como o projeto das escolas de Newark e para experiências de reforma da educação por intermédio da Fundação da Comunidade do Vale do Silício, uma das mais ricas da nação; grande parte do dinheiro que ela administra é dado por empreendedores da área de tecnologia que economizam nos impostos fazendo grandes doações às vésperas de vender suas companhias ou abrindo seu capital.

“A filantropia da Costa Oeste se caracteriza pela inovação. Ela diz respeito à ruptura, à mudança”, disse o diretor executivo da fundação, Emmett D. Carson. Estes doadores “estão dispostos a encarar o fracasso em suas ações ousadas, e a ver o fracasso como bom resultado”.

O empreendedor Michael Birch fundou um clube de doadores para membros que querem pesquisar as causas antes de fazer suas doações. “É assim que o Vale do Silício questiona a atual maneira de fazer as coisas em filantropia.”

Publicidade

/TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.