Em corrida tecnológica; fabricantes de televisão apostam em novas telas

Teste da USP aponta tecnologia Oled como superior às alternativas LED e Quantum Dot; o mercado, entretanto, mostra estar em fase de adaptação, já que as televisões de LED ainda representam a principal fatia de vendas

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Por Redação Link
Atualização:

REUTERS

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por Renato Cruz

Desde a saída de cena dos aparelhos de tubo, os televisores entraram num ritmo acelerado de evolução tecnológica. Os fabricantes apresentam novos modelos a cada ano, de um jeito muito parecido com o que acontece com os celulares inteligentes. E o mercado passa, atualmente, por um momento de transição tecnológica.

“O Oled é um novo paradigma em tecnologia de telas”, afirma o professor Marcelo Zuffo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Ele fez um estudo, com apoio da LG, em que comparou três modelos da fabricante: um de LED, um de pontos quânticos (Quantum Dot) e outro de diodo emissor de luz orgânico (Oled). Os testes mostram desempenho superior do Oled em sete de oito parâmetros analisados.

A TV de pontos quânticos (também chamada de Nano Spectrum) obteve um resultado melhor em luminância (brilho da cor branca). A Oled ficou na frente das outras em luminância angular (a partir de certo ângulo de inclinação), Gamma 2.0 (escala de cinza), uniformidade (brilho ao longo do painel), reflexão à luz ambiente, contraste, interferência RGB (de cores) e gama de cores (quantidade de cores exibidas).

A tecnologia de pontos quânticos é uma evolução do LED, em que uma película de nanocristais de semicondutores é usada para corrigir distorções de cor. Ambas são telas de cristal líquido (LCD). No Oled, os pontos que formam a imagem são gerados por filmes de moléculas orgânicas, o que melhora a cor e a taxa de contraste.

Segundo Zuffo, o fato de o estudo ter recebido apoio da LG não interfere no resultado. A fabricante sul-coreana emprestou o televisor Oled para o laboratório. “Comparei aparelhos da mesma empresa”, explicou Zuffo. “O estudo não diz que uma empresa é melhor que a outra.”

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CONEXÃO

As vendas de televisores caíram 40% entre janeiro e julho, quando comparadas ao mesmo período do ano passado, segundo a empresa de pesquisa GfK. Os efeitos da crise se somam ao fato de este ser um ano pós-Copa, o que reduz a demanda por aparelhos de TV. Em 2014, foram vendidos 15 milhões de televisores, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

O principal destaque de vendas, do ponto de vista tecnológico, foram os aparelhos conectados à internet, que representaram 40% do mercado. Apesar da queda do mercado em geral, as TVs conectadas tiveram um crescimento de 10% até julho. “Essa demanda tem a ver com o crescimento de serviços como o Netflix”, disse Rui Agapito, responsável pelo área na GfK. A empresa também tem verificado um aumento do tamanho de telas, com uma demanda maior por aparelhos de 39 a 43 polegadas.

Atualmente, mais de 90% dos aparelhos vendidos no Brasil têm tecnologia LED. O Oled ainda nem aparece nas estatísticas. A LG acabou de lançar sua linha de aparelhos com a tecnologia. A Samsung chegou a lançar aparelhos Oled no Brasil em 2013, mas a aposta atual é o Quantum Dot. A Sony foi pioneira no Oled, tendo lançado no final da década passada, um aparelho com tela de 11 polegadas na tecnologia. Atualmente, a Sony não oferece aparelhos Oled no Brasil.

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DEFINIÇÃO

A grande aposta da indústria é a ultra-alta definição (UHD), também chamada de 4K. Esses televisores têm resolução que equivale a quatro vezes a alta definição que temos na TV aberta. Isso quer dizer que a quantidade de pontos que formam imagem é multiplicada por quatro. O problema, atualmente, é a disponibilidade de conteúdo em 4K.

Séries do Netflix, como House of Cards e Narcos, estão disponíveis em ultra-alta definição, se o consumidor tiver uma conexão de internet suficientemente boa. Também existem conteúdos 4K no YouTube e no aplicativo Globosat Play 4K. Ainda não existe previsão, no entanto, para o lançamento de canais em ultra-alta definição no Brasil, fora dos serviços sob demanda.

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Apesar de os televisores em 4K estarem na entrada das lojas de eletrônicos, as vendas no Brasil ainda são pequenas. Elas representam cerca de 3% do total de unidades comercializadas no País. Em valores, correspondem a 7% do mercado total, de acordo com a GfK.

Uma TV de ultra-alta definição pode ter tela LED, Quantum Dot ou Oled. Isso quer dizer que a qualidade da imagem de uma TV 4K pode variar de um aparelho para outro. “Temos tecnologias em nossas TVs de LED que as diferenciam das concorrentes”, disse Marcelo Gonçalves, gerente de comunicação e marketing da Sony Brasil.

A grande novidade da empresa é a Android TV, aparelho que roda o sistema operacional do Google, o mesmo usado nos celulares. Os desenvolvedores de aplicativos precisam adaptá-los para a televisão, mas, segundo Gonçalves, essa adaptação é simples.

DIFERENÇA

A nova linha de televisores da Samsung usa a tecnologia Quantum Dot. “Existem ganho de imagem em relação ao LED”, disse João Paulo Rezende, gerente de produtos da Samsung. “A intensidade do brilho é até duas vezes e meia a do LED. O modelo de painéis de nanocristais (Quantum Dot) tem 64 vezes mais cores.”

Segundo Rezende, a Samsung resolveu retirar o Oled do mercado brasileiro porque a tecnologia ainda não está pronta para ser usada em TVs. “Principalmente por causa da durabilidade”, explicou. “Ela tem um terço da vida útil da TV de LED. Os pixels (pontos) começam a apagar.”

De acordo com a LG, esse problema já foi resolvido. “Por meio de uma tecnologia proprietária, conseguimos produzir Oled com durabilidade nos mesmos padrões das TVs convencionais”, informou a companhia.

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USP QUER CRIAR LABORATÓRIO DE TESTES PARA TECNOLOGIAS DE TV

O professor Marcelo Zuffo, da Poli/USP, planeja dar continuidade aos testes de telas no Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi). O próximo passo seria verificar como os parâmetros técnicos analisados na comparação entre LED, Quantum Dot e Oled se refletem na percepção dos espectadores.

O húngaro Balázs Nagy, professor visitante da Psicologia da USP, quer participar dos testes. Ele é especialista em instrumentação e visão humana de cores. Dois dos parâmetros medidos foram o brilho. “Mas nossa visão percebe principalmente o contraste, que pode ser espacial ou temporal”, disse Nagy.

Segundo Zuffo, os testes feitos por seu grupo na Poli são pioneiros. “Quando fizemos os testes, poucas pessoas tinham acesso ao Oled”, disse o professor. Nagy concordou. “Existem poucos grupos que trabalham nessa área em todo o mundo.”

Zuffo explicou que a tela de cristal líquido (LCD) funciona como várias janelas que abrem e fecham, e por isso precisam de uma luz de fundo. Antes, eram usadas microlâmpadas fluorescentes, e agora é usado o LED, o que permitiu reduzir a espessura dos aparelhos.

No Oled, cada pixel (ponto) é um microled orgânico, de quatro cores. Ele não tem luz de fundo. “O Oled permite um melhor balanceamento de cores, com alto brilho e contraste”, disse Zuffo. A tecnologia começou a ser empregada em telas pequenas, como celulares e controles de avião.

No início, havia um problema de instabilidade, pois a tela oxidava rapidamente. Atualmente, existem técnicas para resolver esse problema, o que garante a durabilidade dos televisores.

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Iniciativa. Renato Almeida, gerente de TV da LG, afirmou que a iniciativa de fazer um teste comparativo entre as tecnologias foi uma iniciativa local, da subsidiária brasileira. “Queríamos ter um conteúdo mais educativo para oferecer ao consumidor”, disse o executivo.

Os aparelhos com tecnologia Oled lançados pela LG neste ano são de segunda geração. “A tecnologia estão em nossos aparelhos topo de linha”, explicou Almeida. “Os televisores são mais finos que um smartphone.”

Segundo o executivo, o grande crescimento neste ano está na linha de TVs conectadas. “2015 deverá ser o primeiro ano em que as vendas de TV Smart, as televisões conectadas, irão ultrapassar, em valor, as vendas de televisões convencionais” afirmou.

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