Desejo de preservar é essencial para acabar com amnésia digital

Apesar das iniciativas para preservar os conteúdos digitais, muita coisa importante já se perdeu

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Por Redação Link e Edmundo Leite
Atualização:

Edmundo Leite*

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Até pouco tempo atrás, quando algo publicado num jornal ou revista interessava muito a alguém era comum a pessoa destacar a página para guardar com outros recortes do assunto. Com a chegada da internet, esse trabalho foi facilitado pelos bookmarks dos navegadores. Em apenas um clique é possível guardar o link e ainda organizar em pastas temáticas.

Mas a facilidade proporcionada pelos marcadores de favoritos logo se transformou num grande susto quando, tempos depois, esses usuários descobriram que aquele link com informações importantes não funcionava mais. Com a internet já na maioridade, são milhões de sites que desapareceram e não deixaram rastro de sua existência.

Isso também poderia acontecer quando as publicações em papel deixavam de existir. Mas se o colecionador de recortes perdesse sua pastinha era possível ir aos arquivos e bibliotecas encontrar os jornais e revistas. No caso da internet, muitas vezes só resta chorar.

Apesar das iniciativas para preservar os conteúdos digitais, muita coisa importante já se perdeu. A despeito de seu desenvolvimento tecnológico, a internet ainda não resolveu como irá se preservar para o futuro.

Paradoxalmente, é mais fácil encontrar uma informação publicada num jornal de 200 anos atrás do que achar a cobertura online do 11 de setembro de 2001. Publicações exclusivamente digitais que deixaram de existir, como o memorável NoMínimo, não contam com bibliotecas ou arquivos digitais para guardar seus conteúdos para a eternidade. O mesmo vale para sites institucionais, como o do IBGE.

Nada garante que os dados estejam disponíveis daqui cem anos como acontece com os primeiros censos manuscritos. Aqui no Brasil, a lei do depósito legal, que manda que toda publicação “em suporte físico” envie uma cópia à Biblioteca Nacional, ignora completamente a internet, apesar de sancionada em 2004. A solução, assim como já acontecia para conteúdos em papel, não é fácil.

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É necessária uma grande infraestrutura de banco de dados. Além disso, há vários obstáculos técnicos a serem superados. Se não houver um desejo do próprio produtor do conteúdo digital em preservá-lo, ninguém o fará. Enquanto a solução não vem, a internet vai se virando como aquele personagem do filme Amnésia (2000), que fotografava com uma Polaroid, escrevia bilhetes e tatuava o próprio corpo para se lembrar de fatos recentes dos quais se esquecia logo em seguida.

* É coordenador do Acervo Estadão

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