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Apoio polêmico

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Start-Up Brasil, programa do governo que quer estimular empreendedores de tecnologia com bolsas de R$ 200 mil, chega à sua segunda fase, mas levanta críticas por não resolver problemas crônicos como a burocracia e os altos custos para abrir empresas

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SÃO PAULO – O governo federal divulgou na última quinta-feira, 21, a segunda etapa do Start-Up Brasil, programa que pretende acelerar o desenvolvimento de novas empresas de tecnologia. O objetivo é fomentar 100 startups inovadoras com R$ 200 mil em bolsas para cada uma. Nove aceleradoras selecionadas vão oferecer apoio e investir outros R$ 36 milhões nessas empresas em troca de participação societária. Ao final do programa, as que tiverem melhor desempenho terão acesso a outros R$ 100 milhões na forma de investimento-anjo.

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A iniciativa, que integra o Programa Estratégico de Software e Serviços de Tecnologia da Informação (TI Maior), se baseia em iniciativas internacionais bem-sucedidas, como o Startup Chile e o Startup America, e tenta resolver dois velhos problemas brasileiros: a informalidade e a falta de capacitação do empreendedor. Ao mesmo tempo, oferece capital para tentar reduzir o atraso tecnológico e ampliar a competitividade do País em um mercado em que o custo do crédito é alto.

 

O programa gerou muita expectativa, mas os dois últimos editais foram motivo de polêmica. Quem é do mercado diz que o modelo adotado é semelhante ao de outras iniciativas públicas que tiveram baixo impacto. “Ao definir que qualquer empresa formalizada com menos de três anos seja uma possível candidata, o governo permite que se misturem pequenas empresas e startups. Se a banca avaliadora não distinguir esses negócios, o programa ficará parecido com outros”, diz o investidor-anjo Yuri Gitahy.

O modelo de aceleração associado à injeção de recursos, no entanto, foi escolhido pelo governo justamente após o fracasso de negócios beneficiados por programas de fomento como o Primeira Empresa Inovadora (Prime). “Sempre que fazemos chamadas para empresas de pequeno porte, a efetividade é baixa”, afirma o coordenador do Start-Up Brasil no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Rafael Moreira. “As empresas desenvolvem boas ideias, mas não conseguem colocar o produto no mercado. Não adianta distribuir bilhões para startups. É ineficiente.”

No fim de fevereiro, foram selecionadas nove aceleradoras que vão aproximar as startups do mercado – o edital previa apenas seis. Aceleratech, 21212, Start You Up, Papaya, Pipa, Wayra, Fumsoft, Outsource Brazil e Acelera Brasil (da Microsoft) foram as escolhidas entre 23 concorrentes. Três delas são pouco conhecidas no mercado, o que gerou desconfiança. “Tentamos listar as melhores e vamos acompanhar de perto o desempenho delas”, diz Moreira.

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A concentração geográfica foi outro problema. Das nove, cinco são do Rio de Janeiro. As demais também têm sede na região sudeste, em São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.

Com CNPJ. O empreendedor Matheus Montenegro, de 26 anos, que desenvolveu uma plataforma para organizar aulas presenciais na internet, mora em Belo Horizonte, mas ainda não sabe se vai concorrer a uma vaga no Start-Up Brasil, já que a única aceleradora com presença física na sua cidade não tem interesse na área de educação. “Nossa expectativa sempre foi a regionalização do programa. Se você considerar o custo de vida nas cidades selecionadas, vai perceber que o valor das bolsas não é o suficiente para bancar a mudança dos aprovados”, diz.

A divulgação da segunda e última etapa do programa, na semana passada, trouxe mais questionamentos. O principal é a obrigatoriedade de CNPJ para participar da seleção. Para construir um negócio rentável e de baixo custo, é comum as startups esperarem ter um modelo validado e uma carteira de clientes antes de arcar com a formalização.

Para o governo, obrigar as startups a se formalizar é uma forma de regular o mercado. O empreendedor Rodrigo Prior, dono de duas startups no litoral de São Paulo, concorda. “É um excelente passo para a educação do ecossistema e obriga as empresas a aumentar o nível. O empreendedor brasileiro é muito sedento por atalhos”, diz.

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A expectativa do governo é iniciar o primeiro grupo de aceleração, com 50 negócios, em julho. Das startups selecionadas, 25% poderão ser de fora do País. Elas terão visto de trabalho facilitado e, se decidirem permanecer no Brasil, terão apoio para abertura do CNPJ e obtenção de visto de permanência. Desburocratização. Parte dos empreendedores defende que reduzir a burocracia para abrir e fechar empresas e criar incentivos fiscais seriam medidas mais assertivas por parte do governo.

O Chile, por exemplo, aprovou este ano uma lei que permite a abertura de uma empresa pela internet em um dia a custo zero. No Brasil, a única iniciativa semelhante, o programa Microempreendedor Individual (MEI), permite apenas a contratação de um funcionário, deixando startups que precisam de uma estrutura maior de fora. Um projeto de lei que prevê a isenção de impostos para startups está em tramitação no Congresso.

Em meio às polêmicas, o único consenso no mercado é que o Start-Up Brasil é um programa importante, mas que ainda precisa ser aprimorado. Por outro lado, pode ser também uma ferramente para ajudar os empreendedores a repensar suas estratégias. “Startups nem sempre precisam de apoio. Precisam é de receita, de um negócio definido. A valorização excessiva do capital cria dependência de um fator externo e transfere o sucesso do empreendedor para algo que está fora do controle: ser escolhido por um investidor, ou receber seu sonhado aporte do Start-Up Brasil”, diz Gitahy.

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COMO É EM OUTROS PAÍSES 

Chile. O programa Startup Chile oferece bolsas de US$ 40 mil por startup sem contrapartida ou local de trabalho e facilita vistos para estrangeiros

Estados Unidos. O Startup America investiu US$ 2 bilhões em parceria com a iniciativa privada em startups do setor de energia limpa

Israel. O Startup Nation criou consórcios entre empresas e instituições acadêmicas para desenvolver tecnologias competitivas

Coreia do Sul. O ICT New DealPlan investiu US$ 38 bilhões do governo e da iniciativa privada para estimular o setor de TI

—-Leia mais:MCTI define aceleradoras do Start Up Brasil • Startup BrasilNegócios entre amigosLink no papel – 25/3/2013

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