Animação infantil feita no Recife explode na internet e quer virar série na TV

Empresa Mr. Plot, que começou desenvolvendo aplicativos, leva animação infantil 'Bita' até ao Netflix em busca de reconhecimento

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Por Murilo Roncolato
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RECIFE – O pernambucano Chaps Melo se tornava pai em 2011 e não encontrava produções brasileiras que considerasse com qualidade o suficiente para sua filha. Reclamando sobre o assunto com seu sócio Felipe Almeida, a conversa descambou para como os tablets se tornavam a nova TV para as criaças, e dali surgiu a ideia de eles mesmos um conteúdo do gênero. Nasci ali a Mr. Plot produções.

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Melo, que já havia criado o personagem Bita para estampar o papel de parede do quarto da filha, veio com a história e as canções. A empresa que estava acostumada a fazer apenas software desde quando era uma das incubadas pelo Porto Digital, em 2008, deu o pontapé à animação com o aplicativo freemium O Circo Mágico de Bita, em forma de e-book.

O aplicativo foi muito bem recebido, tendo mais de 300 downloads por dia. Com o lançamento da segunda edição do app, desde vez pago, os empreendedores de Recife logo perceberam que “brasileiro tem muita dificuldade em pagar por conteúdo em aplicativo” e, para ter algum tipo de retorno com o novo negócio, era preciso ir além.

Na mesma época, a Galinha Pintadinha, criada em Campinas, no interior de São Paulo, explode na internet e se torna um fenômeno infantil. Bita deveria então seguir o mesmo caminho, decidiram. E o sujeito redondo vai para o YouTube com o clipes de Bita e Os Animais e atinge um público enorme.

Foi questão de tempo para seus vídeos passarem de 1 milhão de visualizações – número 16 vezes maior nos dias de hoje. O sucesso os encorajou a procurar apoio na produção de um DVD, que sairia pelo selo da Sony, e se tornaria um dos seus produtos mais vendidos.

“Até hoje, foram quase 50 mil cópias. Isso deve ser visto como um sucesso, se você entender que não somos o Roberto Carlos, mas sim um produto novo, de entrada”, defende Almeida.

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A produção chegou até as mãos da representação da Discovery Kids no Brasil e um acordo foi feito: os pequenos clipes da marca, que agora ganhava mais uma coleção com “Bita e as Brincadeiras”, passariam entre os programas da grade do canal infantil. “Foi quando de fato nos profissionalizamos”, lembra.

O rosto de Bita, com sua cartola, e todos os demais personagens da franquia começaram então a gerar nova fonte de receita à startup recifense, por meio da venda de produtos licenciados, que iam de escova de dentes às pelúcias. Não demorou muito e começaram a surgiram a surgir peças e shows com a marca infantil.

 

“Mas toda a receita gerada, por tudo que vendíamos, não pagava nem a metade do custo de produção total”, conta Almeida. Foi quando o sonho de todo dono de startup aconteceu para a Mr. Plot. Um fundo de investimento propôs de aplicar capital na pequena empresa do bairro de Coelhos (há menos de 4 km do Porto Digital). “Não caímos na tentação, diz”.

“Tivemos muito trabalho em levantar a empresa e, com o investimento, perderíamos uma boa parte da empresa por um valor menor do que a gente acredita que ela pode ter”, explica.

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Desde janeiro, a primeira série de Bita está no Netflix, serviço de streaming cada vez mais popular no Brasil e no mundo. Seu problema, para quem produz, é o baixo retorno. “O Netflix paga muito, muito pouco. Estamos lá mais para marcarmos presença, porque já sabemos que não é algo que vá nos gerar receita.”

Hoje, a equipe se apressa para concluir, com a ajuda de um fundo setorial, um curta-metragem que deve apresentar a origem de Bita em uma produção mais bem acabada que os clipes anteriores. O objetivo é usar o curta para abrir mais portas e realizar mais sonhos. O maior deles, ao menos por enquanto, é de receber sinal verde para a produção de uma série para a TV, o que lhes exigirá a criação de 52 episódios a serem exibidos de forma ininterrupta.

 
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