Além das compras coletivas

Plataforma de crowdfunding no Brasil vai além das compras coletivas e oferece consumo 'alternativo'

PUBLICIDADE

Por Murilo Roncolato
Atualização:

SÃO PAULO – Na madrugada de quarta da semana passada, ingressos do festival Planeta Terra começaram a ser vendidos. Em 14 horas, acabou tudo. Marcella Franco e suas amigas ficaram sem. Mas em vez de xingar muito no Twitter, criaram um evento no Facebook, o NoticketsNofun, e decidiram que elas – e quem quisesse colaborar – fariam o próprio festival usando crowdfunding.

 

PUBLICIDADE

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter e no Facebook

Partindo da ideia do Queremos (veja quadro), ela viu que a frustração poderia virar um evento real. Assim, estrutura, dia, local, bandas e tipo de comida serão definidas colaborativamente. Crowdfunding é um modelo de negócio que ganhou força a partir do Kickstarter, site americano criado em 2009 no qual donos de projetos exibem a sua ideia, colocam a quantia necessária e o prazo para concretizá-la, e, se o objetivo for atingido, oferecem recompensas (um CD, um show, um jantar) aos doadores.

Deu muito certo. Em dois anos, a movimentação do Kickstarter passou de US$ 600 mil para US$ 7 milhões. No total, circularam ali US$ 53 milhões.

Aqui no Brasil, desde o início do ano, já são pelo menos 20 sites desse tipo. O Catarse é um deles. Criado em janeiro pelos estudantes de administração Diego Reeberg e Luis Ribeiro, hoje, tem 20 projetos concluídos, o que gerou R$ 150 mil para os autores e quase R$ 8 mil para o site.

A Banda Mais Bonita da Cidade é um desses projetos. Eles “vendem” músicas que deverão fazer parte do primeiro CD do grupo. Assim, além de levantar o dinheiro, podem medir a popularidade de cada faixa do disco. “Para o empreendedor é um baita teste, porque ele tem a oportunidade de checar se o seu produto terá demanda”, diz Reeberg.

O atual momento lembra o fenômeno das compras coletivas. Mas a diferença de apelo e de lucro é gritante. Diego Reeberg explica que a aventura deles é bem mais arriscada: “A porcentagem de lucro deles sobre cada oferta bem sucedida é de 30% a 40%. A nossa é 5%, senão a gente mata o projeto e eu quero que ele aconteça”, diz. Quem entrar nesse negócio esperando grandes lucros “vai se iludir”, diz.

Publicidade

Paulo Monte, sócio do Embolacha, voltado para projetos musicais, acha que os sites de hoje foram beneficiados pelos de compra coletiva ao familiarizar o público com o comércio eletrônico. “O crowdfunding é uma compra coletiva, mas com outra proposta de consumo, pois as pessoas apoiam ideias ou os autores das ideias. Só há produto se o público quiser comprar.”

Bruno Pereira é quem toca o Movere. Ele se orgulha do projeto mais bem sucedido do site, a gravação de um CD em homenagem a Nelson Cavaquinho pelo grupo Sururu na Roda. Eles conseguiram R$ 35 mil, mais do que a meta estabelecida. Houve até quem fizesse doações em cheque de R$ 3,5 a 5 mil, em troca de shows ou CDs. “Há uma inteligência coletiva que escolhe um projeto. Elas não estão comprando a recompensa, mas a concretização de algo”, diz Pereira. “O Sebrae não sabe, mas estamos ajudando a popularizar o conceito de empreendedorismo.”

Sites de crowdfunding ganharam até segmentação. Existem sites só para projetos de pequenas empresas ou com fins sociais, como o Senso Incomum, criado por Eduardo Sangion. “Isso está surgindo por necessidade. São as pessoas resolvendo os problemas de outras pessoas”, acredita.

Os donos das plataformas apontam que esse tipo de negócio deve passar por quatro momentos: conhecimento da ferramenta, uso pelos artistas e adoção pelo público. “A gente está no primeiro e não há como precisar qual é o hiato entre eles”, comenta Paulo Monte. —-Leia mais:O cinema é todo seuLink no papel – 13/06/2011

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.