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A web não morreu""

Tim Berners-Lee veio ao Brasil e disse que, para que a web continue livre, ela deve permanecer aberta

Por Rafael Cabral
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Foi passeando em uma banca de revistas que o físico Tim Berners-Lee, o criador da web, encontrou um obituário que, ainda que improvável, o deixou “irritadíssimo e desconfiado”, pois falava que a invenção à qual ele dedicou sua vida não faria mais sentido dali para frente. “A web está morta”, anunciava a capa da Wired, em letras pretas garrafais. O artigo comemorava o sucesso dos apps para smartphones e tablets (pagos, quase todos) e o suposto declínio do acesso a websites (gratuitos).

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“A matéria é péssima e eles deveriam ter vergonha de publicá-la”, diz Berners-Lee, em entrevista ao Link durante a Campus Party, em que foi um dos palestrantes. “Mas vi que havia um ponto ali”, Por mais viva que a rede estivesse, havia muita gente que queria mesmo vê-la enterrada – e ganhar mais dinheiro com isso.

Berners-Lee chegou a ser banido de usar os computadores da universidade de Oxford por ser pego “hackeando” e batalhou anos para entender códigos complexos e chegar ao CERN, o instituto suíço que investiu para ver a web no ar. A internet já existia antes dela, mas como uma série de redes militares e universitárias independentes. Sua ideia foi fazer todos os computadores conectados do mundo se comunicarem por meio de uma linguagem comum (HTML), criando uma rede descentralizada por natureza e sem dono, pois ele abriria mão da patente para deixá-la “aberta”, ao contrário das lojas de aplicativos que hoje ameaçam sua liderança. Era visionário, utópico e uma maluquice. Mas, a partir do dia 6 de agosto de 91, quando Berners-Lee subiu o site do CERN na web, era também realidade.

E agora, vinte anos depois, as pessoas queriam trocar tudo isso pela comodidade de programinhas na tela do celular ou pelos “jardins murados” do Facebook.

“Eu entendo porque as pessoas estão fazendo isso”, diz, “mas ainda assim acho alarmante”. Sua principal crítica, lançada em um artigo-resposta para a Scientific American (Longa vida à web), é que a troca prejudica a inovação.

“Você até pode ver coisas novas surgindo em sistemas fechados, mas, no longo prazo, nos beneficiamos muito mais com a descentralização. Assim, as invenções não dependem especificamente de nenhum site, empresa ou pessoa – e isso é ótimo”, explica.

Para isso, diz ele, temos de garantir que a web continue sendo construída com padrões abertos, que todos podem alterar se quiserem.

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“A importância da web não está tanto nela mesma, mas no fato de ela ser uma plataforma que serve como base para mais e mais invenções”.

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