A ficção científica encontra o amor

Dramas humanos básicos tiraram série que mistura eletromagnetismo, fé e ursos polares do gueto nerd

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Por Redação
Atualização:

(Ilustração: Jared Stumpenhorst)

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Não existe alguém que goste só um pouco de Lost. Ou você não tem ideia do que acontece na ilha maluca ou você é tão amalucado (pela série) quanto a ilha. Isso é só um dos aspectos que tornam a série tão importante. “É a franquia de ficção científica e fantasia mais popular desde Guerra nas Estrelas”, explica Rob Bricken, do blog de cultura pop Topless Robot. “Todo mundo assiste, não só nerds. Minha esposa assiste Lost. Minha mãe também. É um programa nerd que de alguma forma transcende essa nerdice e fica interessante para todas as idades, sexos, classes, e isso é bem importante”.

E mesmo entre os nerds, Lost é um fenômeno à parte: “Os mistérios me fizeram seguir fielmente todas as temporadas, todos os episódios. Essa foi a única série que eu acompanhei de verdade, semana a semana”, conta Thiago Borbolla, editor do site de cultura pop brasileiro Judão.

Conflito. Misturar o fator humano à narrativa de ficção científica é o grande trunfo da série. É isso que arrebata tantos fãs de tantas personalidades e gostos diferentes. Lost tem de viagens no tempo e de bolsões de eletromagnetismo, mas também fala de perdão, confiança, superação, ciência, filosofia e religião. Os produtores já disseram uma vez que “Lost é sobre o amor”.

“A série é relevante por uma variedade de razões, mas a que eu acho a mais importante é que eles encontraram a maneira perfeita de combinar o mistério e a mitologia da ilha com o elemento humano. Claro que há monstros de fumaça, ursos polares, mortos que voltam da tumba e viagens no tempo, mas por trás de tudo sempre estiverem os conflitos humanos mais fundamentais: fé versus ciência, livre arbítrio versus destino, bem versus mal e talvez o maior de todos eles: redenção”, opina Crit Obara, que edita o FuckYeahLost.com, um dos mais famosos blogs que publicam material de Lost produzido por fãs.

Eis outra particularidade: a série criou uma mitologia própria que foi ganhando força à medida em que os fãs percebiam que era possível participar dela, seja fazendo fotomontagens, pôsteres, músicas, mashups de vídeos ou recontextualizando ícones desse universo em outras situações. E essas colaborações vêm de todos os países do mundo

Global. E aí temos outro fator importante: o fim das barreiras geográficas fez que Lost se tornasse um sucesso internacional com impacto simultâneo. “O programa é um exemplo significativo do que podemos chamar de uma série ‘global’”, explica David Thorburn, diretor do Communications Forum do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. “Isso se reflete não só no elenco multiétnico como também em suas locações. Lost foi feito para ser este tipo de programa – como muitos reality shows –, que não depende das regras de nenhuma cultura nacional. Apesar de ter o ritmo rápido e a elegância audiovisual de um produto norte-americano, seus personagens e sua ampla saga de aventuras pertencem à aldeia global.”

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Além de agregar valores culturais diferentes, o mistério é enriquecido com o uso de vários idiomas, o que facilita a identificação de quem assiste. Provavelmente, todo fã de Lost já imaginou se puxaria o gatilho contra Libby e Ana Lucia estivesse ele no lugar de Michael, ou se faria o sacrifício de Charlie.

“Saber que Lost vai acabar é como ter um amigo que vai embora para a Lua. Eu estou, é claro, ansioso para saber como termina, mas não estou pronto para dizer ‘adeus’”, diz Obara. Para esses mesmos fãs, é triste se despedir da série. Mas é também a redenção – tanto de Jack, Locke, Sawyer, Kate e companhia, quanto dos fãs, que por tantos anos acompanharam tão religiosamente a série. Todo mundo merece descansar. Em paz. /COLABOROU ALEXANDRE MATIAS

Festa de despedida de Lost

No próximo dia 30, acontece o último Dharma Day, a maior reunião de fãs de Lost, da América Latina. Na Livraria da Vila do Shopping Cidade Jardim, os fãs vão aproveitar para amarrar as últimas impressões sobre a série, cujo último episódio vai ao ar no próximo domingo, dia 23. “As primeiras duas edições foram um sucesso. E fomos cobrados desde o começo deste ano para realizar uma terceira edição”, explica Fabio Hofnik, organizador do evento.

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“Como já não teremos mais teorias para especular, dessa vez a ideia é captar as reações e os pontos de vista dos fãs: o que eles acham quye poderia ser diferente e por quê. Queremos que o evento seja uma grande festa de despedida para os verdadeiros fãs da série”, diz Fabio. A entrada para o DharmaDay é gratuita e não é preciso ser inscrever antes, mas os lugares são limitados.

Banco de dados da ilha

Mais de seis mil artigos, 25 mil usuários, 11 línguas diferentes, 33 mil páginas. Nenhum desses algorismos integra a lista de números malditos de Lost: eles são na verdade os números da Lostpedia, uma wiki sobre a série que foi criada, alimentada e gerida pelos fãs. Com versões em ingçês, português e até em russo e polonês, a Lostpedia foi criada em 2005 pelo programador Kevin Croy e se tornou quase obrigatória em uma série que mistura de viagens no tempo a realidades paralelas, tão cheia de detalhes.

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O nível de mínúcia é tão alto que a página tem transcrições de todos os episódios e registro de praticamente todos os elementos que aparecem em cena, da mais importante reviravolta à mais insignificante aparição de figurante. Esses cuidados ajudaram os fãs a perceberem que nada acontece por acaso em Lost.

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