A era do Facebook

Clara Shih, participante do Digital Age nesta quarta-feira, fala sobre as possibilidades de negócios no Facebook

PUBLICIDADE

Por Carla Peralva
Atualização:

As empresas perceberam o grande potencial das mídias sociais e já marcam forte presença nas redes mais usadas do mundo. O Twitter tem feito constantes atualizações para melhor comportar as ações comerciais dentro do site: tweets e trending topics patrocinados e o @earlybird, uma conta oficial que reúne ofertas das companhias que possuem um perfil no serviço de microblogging. As páginas do Facebook têm substituído os sites oficiais de diversas empresas de pequeno e médio porte e mais de um milhão de sites já usam o botão “Like” em suas páginas.

PUBLICIDADE

Para discutir essas e outras mudanças no jeito de se fazer publicidade e de ser pensar o relacionamento com os clientes, o mercado publicitário estará reunido no Digital Age 2.0, em São Paulo, nesta quarta e quinta-feira, dias 18 e 19, para discutir as novas estratégias de relacionamento com o público, principalmente via redes sociais.

Um dos grandes nomes do evento é Clara Shih, eleita pela revista norte-americana Fast Company uma das mulheres mais influentes do mundo da tecnologia. Clara já trabalhou na Microsoft e no Google e hoje é CEO da Hearsay Labs, empresa de software que criou para ajudar empresários a gerenciar e mensurar a presença de suas marcas nas redes sociais.

 Foto:

Foto: divulgação

Mas o que a tornou realmente reconhecida foi seu livro The Facebook Era (A Era Facebook, em tradução livre, sem edição em português), de 2009. Já no ano passado, a americana percebia o potencial comercial e de compartilhamento do Facebook. Suas previsões se mostraram tão certadas que o livro, como diz a própria Fast Company, “é atualmente usado como livro didático na escola de negócios de Harvard e é uma bíblia para todos os empresários que querem aumentar suas vendas e sua base de consumidores usando mídias sociais”.

Clara acredita que o Facebook mudou o jeito de as pessoas compartilharem informações sobre suas vidas e a forma como as empresas lidam com seus consumidores. Veja abaixo a íntegra da entrevista que ela deu ao Link.

Qual é a importância do Facebook e das outras mídias sociais para quem tem um negócio e quer estabelecer contato com seus consumidores?

Publicidade

A coisa mais importante que devemos ter em mente é que as pessoas estão gastando um tempo incrivelmente grande no Facebook. São 500 milhões de usuários ativos, ou seja, que não apenas se registraram, mas estão postando coisas por lá. Além disso, na média, as pessoas passam mais de uma hora nele por dia. Então, para as empresas que querem ampliar seu contato com os consumidores, ele é uma grande oportunidade. É uma nova mídia, um novo canal que deve ser incorporado ao repertório das empresas.

Há etapas que as empresas devem seguir para estabelecer sua presença nas redes sociais?

Sim. A primeira coisa é ouvir. E ouvir envolve usar ferramentas como a busca do Facebook e as buscas abertas que contemplam os resultados do Facebook. Antes de falar por si, você deve ouvir e tentar descobrir o que os consumidores já estão falando sobre você, sua marca, seus produtos e seus concorrentes. Uma vez que exista esse contato, o primeiro passo de uma empresa é estabelecer sua presença no Facebook, o que, frequentemente, é feito abrindo-se uma página na rede social.

O importante é ouvir o público e não só disparar mensagens sem prestar atenção em nada ou sem responder aos seus clientes. Porque essa é a diferença essencial entre as mídias sociais e as formas de contato que tínhamos antes.Há empresas que ainda estão com medo de se expor e de correr riscos. Mas o que elas têm de entender é que, na realidade, as pessoas já estão falando sobre elas, seus concorrentes, sobre tudo. Então estar nas redes sociais é uma grande oportunidade.

PUBLICIDADE

Há diferenças entre a postura que deve ser adotada por grandes e por pequenas empresas?

A grande diferença é que as grandes empresas normalmente já possuem um site, um programa de aperfeiçoamento de buscas e uma estratégia de mídia. Mas elas podem ter dificuldade para atrair tráfego para seus sites. Então, para essas empresas, as páginas do Facebook são um elemento complementar: algo que eles podem usar para gerar tráfico para o site original, lançar campanhas, divulgar promoções, alcançar públicos que de outro jeito não poderiam atingir, ver o que seus clientes estão falando.

Nas empresas pequenas, o cenário é bem diferente. Elas penam para conseguir que as pessoas acessem seus sites. E, normalmente, não conseguem lidar com linguagens de programação, não sabem comprar anúncios do Google, têm dificuldades para monetizar o site e isso fica muito caro se você não sabe o que está fazendo.

Publicidade

Então, em vez de montar um website, muitas empresas pequenas estão criando páginas no Facebook e usando-as como seus sites oficiais, porque é mais fácil de montar e de operar. E, assim, eles podem se conectar com seus clientes e ver o perfil deles, descobrir de onde eles são, ver quem são as pessoas que estão vindo até a página deles e mantendo contato.

E o Facebook é a melhor rede social para as empresas investirem?

Isso tudo depende do seu público-alvo. Por exemplo, se você tem um negócio na área de música, seus público deve estar no MySpace. Mas se você está focando em serviços para o consumidor ou quer fazer promoções em tempo real, não há nada melhor do que o Twitter para isso. Então, é preciso pesquisar como os consumidores usam o tempo deles e aí ter certeza de que está investindo na rede correta.

As empresas já estão tratando as mídias sociais estrategicamente e criando cargos para pensar nisso? Sim, crescentemente. E, de novo, depende se é uma empresa grande ou pequena. Se for uma empresa pequena, possivelmente não terá recursos extras para contratar uma pessoa que só se dedique a isso, mas o empresário pode ele mesmo ou ela mesma se educar e incorporar as mídias sociais às suas estratégias gerais de mercado.

É melhor ter uma página do Facebook ou usar os anúncios direcionados?Isso é interessante, porque páginas do Facebook e anúncios direcionados andam lado a lado. Quando um usuário clica em um anúncio, pode ser levado para um site externo ou para uma página do próprio Facebook. Normalmente, as pessoas não continuam na oferta de compra se são enviadas para uma página estranha, porque elas odeiam ser tiradas do ambiente do Facebook. Então, o que muitos publicitários estão fazendo no Facebook é enviar tráfego para suas páginas na rede social. E aí as pessoas se sentem muitos mais à vontade para se engajar.

Você escreveu, no ano passado, um livro chamado The Facebook Era. Gostaria de saber se você acredita que o Facebook mudou nosso jeito de lidar com as mídias sociais. Estamos compartilhando informações de outra forma?

Sim. A base para a mudança no jeito de entender o compartilhamento e a privacidade é o perfil do Facebook. Por ele, as pessoas estão compartilhando mais informações sobre elas mesmas.Tudo: idade, religião, visões políticas, o que eles fizeram ou querem fazer na universidade, no que eles estão trabalhando agora. As pessoas nunca compartilharam tantas informações tão livremente antes e, agora, elas estão colocando isso em seus perfis do Facebook. Então, isso está verdadeiramente mudando a dinâmica e a velocidade em que as pessoas se conhecem.

Publicidade

E você acredita que as pessoas já entendem bem como a rede social funciona e os limites do bom compartilhamento?

Algumas pessoas entendem, mas a maioria tem dificuldade para compreender esse novo modelo. Elas criam um perfil no Facebook e realmente não entendem que ele vai ser visto por muitas pessoas a não ser que ela mesma o restrinja. O Facebook, como empresa, enfrenta um grande desafio que é entender o que é privacidade. De um lado, eles estão ampliando os limites do que as pessoas se sentem confortáveis de compartilhar, então, estão redefinindo as normas sociais que nós temos de compartilhamento e privacidade. Por outro, eles querem ter certeza que os usuários se sentem confortáveis ao usar a rede social.

É positivo para as empresas o fato de as pessoas compartilharem cada vez mais informações sobre elas? Isso pode ajudá-las a construir um perfil melhor de seus consumidores?

Sim, isso é extremamente valioso. Antes de as pessoas terem um perfil, era muito mais difícil para as empresas coletarem informações e entenderem seu público. Eles fazem pesquisas, entrevistas, mas essas técnicas só chegam a uma aproximação de quem é o público. Hoje, as páginas do Facebook e os anúncios direcionados são ótimos agregadores de informações. As empresas podem ver a divisão de público por gênero, idade, localização geográfica, interesses. E podem realmente repensar suas estratégias.

Você acredita que o Facebook ainda tem potencial para crescer e atingir o bilhão de usuários como acredita seu criador?

Ele está crescendo cada vez mais rápido, mais do que a própria internet. É importante dizer que isso não vai durar para sempre e que as pessoas precisam se sentir seguras para continuar no Facebook. Ele está entrando forte na plataforma móvel e apostando na geolocalização.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.