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4. O inimigo: John Sculley

Jobs nunca foi infalível, como é venerado. Ele nem sempre foi o “melhor CEO do mundo”, como o chama o presidente do Google, Eric Schmidt. Por um tempo, nem CEO ele foi.

Por Redação Link
Atualização:

Depois da abertura de capital na bolsa em 1980 e do início da expansão, o conselho administrativo da Apple quer instalar um gestor com mais experiência de chefia. Alguém que mostre a Jobs como se deve dirigir uma empresa: com seriedade.

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Jobs não se defende, mas quer participar da escolha e quer um homem: John Sculley, da Pepsi-Cola, especialista em marketing e nenhuma noção de computadores. Por 18 meses ele assedia Sculley e finalmente diz: “Você quer passar o resto da vida vendendo água açucarada ou quer uma chance de mudar o mundo?” Sculley aceita e Jobs gosta dele. Eles passeiam juntos e a imprensa os chama de a “dupla dinâmica”. Mas, dois anos depois, entram em conflito. Quem tem o poder? O fundador ou o diretor? O visionário ou o sólido? O conselho administrativo decide por Sculley. Em 1985 Jobs abandona a Apple, seu bebê, sua vida.

Sculley fica. Por mais oito anos. “Creio ter sido um enorme erro”, diz Sculley, em 2010, durante uma notória conferência em Nova York. Atrás dele, as janelas para o Central Park. “O conselho deveria ter nomeado Steve”, diz.

Por que dizer algo assim? Qual presidente executivo diminui seus desempenhos? Não deveria ele contar como a empresa sob o seu comando cresceu de um faturamento de US$ 16 milhões para US$ 8 bilhões? “Deveriam ter me deixado fazer o marketing, um cargo na diretoria ou algo assim”, diz Sculley. “Não teríamos nos separado nunca”.

Jobs nunca mais falou com Sculley. “Acho que ele nunca vai me perdoar e eu o entendo”, diz. Aos 71 anos, sócio de um fundo de investimento, ele aparenta cansaço cruzando as ruas de Manhattan. E mesmo após todos esses anos, sofre com a perda do afeto de Steve Jobs.

Ele talvez não tenha tido o talento suficiente “em conceber produtos e conseguir ver o futuro como Steve”. E em 1993, ele também precisa deixar a Apple, a empresa está em uma rua sem saída, sem ideias, sem comando e, por isso, sem chances contra a nova estrela do mundo da computação: a Microsoft.

“Por sorte, o Steve está novamente aí”, diz Sculley em 2010. O que determina um gênio, explica, é a capacidade de ver, 20 anos antes de todos os outros, o que se tornará padrão no futuro distante. “E é exatamente isso que o Steve sabe. Ele provou isso com o iPod, com o iPhone.”

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É verdade. A arte de Steve Jobs consiste em reconhecer necessidades ou o potencial de ideias prematuras e criar produtos perfeitos. Foi assim quando ele viu o protótipo do computador pessoal de Wozniak.

Isso se repetiu quando a indústria fonográfica não encontrou meios contra a troca de arquivos ilegais. A Apple se tornou a maior comerciante de música do mundo. E quando a indústria de celulares se mostrou incapaz de ter um celular para navegar na internet, veio o iPhone.

As gravadoras não se sentem bem, mas são indefesas perante a empresa que determina quanto seu produto – a música – pode custar. Abrir mão de todo o controle é o preço a ser pago pela salvação, criada por Steve Jobs. /TRADUÇÃO DE HARALD WITTMAACK

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