?As tecnologias de comunicação são neutras?

Não use o termo “distúrbios do BlackBerry” para explicar a revolta popular em Londres

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Por Redação Link
Atualização:

Não use o termo “distúrbios do BlackBerry” para explicar a revolta popular em Londres

Por John C. Abell

FOTO: ANTHONY DEVLIN/REUTERS 

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Lá vamos nós outra vez: jovens nas ruas, contra a liderança, usando o celular para tapear a polícia, apanhada com a guarda baixa pela astúcia de garotos descolados naquilo que seria o roteiro de um filme B se não estivesse acontecendo em tempo real.

Mas, desta vez, não é em algum distante país do Oriente Médio. É na terra natal de Sir Thomas Moore, Winston Churchill e Kate Middleton. E, para variar um pouco, a tecnologia que tem recebido a culpa/o crédito por jogar lenha na fogueira não é o Facebook ou o Twitter. É o serviço de mensagens do BlackBerry – um dos mais antigos meios de troca de mensagens entre celulares, mais conhecido entre os aficionados como BBM (BlackBerry Message Service).

Trata-se, é claro, de uma distinção que não diferencia. Os celulares não iniciam distúrbios. Às vezes, pessoas com celulares que o fazem. Infelizmente, parece que ainda estamos longe do momento em que o meio escolhida para se comunicar será irrelevante.

Nas palavras de Ben Rooney, do Wall Street Journal: “As mídias sociais não podem receber o crédito pela ‘Primavera Árabe’ nem pelo ‘Verão Londrino’. Talvez tenham um papel nesses movimentos, mas isso se deu apenas porque são a ferramenta de comunicação do momento. As tecnologias de comunicação são moralmente neutras.”

O fato de BlackBerries serem os celulares preferidos entre os jovens britânicos pode parecer ao observador casual um factoide peculiar. O Ofcom, autoridade britânica reguladora das comunicações, diz que cerca de 37% dos jovens britânicos têm BlackBerries.

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Mas há outro detalhe: as mensagens BBM são muito difíceis de rastrear. Como destaca minha colega Olivia Solon, do wired.co.uk, esse aspecto torna o aparelho popular em locais onde há, digamos, menos reverência aos aspectos formais dos processos legais do que na Grã-Bretanha: “O BlackBerry criptografa automaticamente a mensagem, que não pode ser interceptada pelo governo e nem por uma rede celular. Isso fez que o serviço ficasse muito popular no Oriente Médio, onde é usado para criticar governos, o que explica por que Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos tentaram bloquear o BBM e outras funções do aparelho no ano passado.”

Seja como for, é má notícia para o BlackBerry, que tem recebido más notícias já há algum tempo agora que Apple e Google fizeram dele um participante marginalizado. Para a Research In Motion (RIM), isso já é um duro desafio para sua imagem: com justiça ou não, sua marca está sendo criticada por facilitar os distúrbios.

Em mensagem no Twitter eles tentaram mostrar posição cuidadosa, expressando compaixão por “aqueles afetados pelos distúrbios em Londres” e se dizendo “envolvidos com as autoridades na tentativa de ajudar da melhor maneira possível”.

O último trecho pode voltar para assombrá-los caso consumidores ainda leais que valorizam a flexibilidade e a tranquilidade proporcionadas pelo BBM reajam negativamente se essas características forem alteradas.

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É preciso começar a ignorar a cortina de fumaça que é toda a atribuição de responsabilidade pelo comportamento ruim à tecnologia. Isso é algo digno de governos opressivos saídos de Fahrenheit 451. Vamos torcer para que não seja pedida a abertura de inquéritos parlamentares envolvendo o papel da tecnologia nos distúrbios, e nem intimações, obrigando a RIM a revelar o conteúdo das mensagens. É isto que Churchill teria desejado.

CONTROLE ONLINE O governo britânico anunciou que estuda a possibilidade de derrubar redes sociais e bloquear serviços de troca de mensagens entre aparelhos celulares diante de novas revoltas, como as que tomaram diversas cidades britânicas na semana passada.

O premiê britânico David Cameron anunciou a criação de um grupo de trabalho integrado, formado por membros da polícia e agentes do serviço secreto do país, para desenhar uma estratégia de autação online, como monitoramento e corte de comunicações em redes sociais e mensagens de celular. “O dispositivo seria colocado em ação quando as autoridades tiverem informações de que estão planejando violência, desordem e criminalidade”, afirmou o premiê.

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O anúncio gerou polêmica imediatamente, fazendo lembrar medidas como o corte da internet do Egito nas manifestações que derrubaram Mubarak ou a constante censura sob a qual vivem chineses, iranianos e sírios, entre outros.

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O estudante malásio Mohd Asyraf Haziq foi atacado em Londres por um grupo de pessoas que parecia o estar ajudando e, por isso, ficou conhecido como ‘maus samaritanos’. O ataque foi gravado e postado no YouTube, onde o vídeo rapidamente se espalhou pelo mundo.

—- Leia mais: • Link no papel – 15/08/2011

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