PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Inovação e Tecnologia

Comida 2.0: testei os alimentos criados em laboratório por startups

Carnes feitas de vegetais e uma vitamina que tem todos os nutrientes que um adulto precisa são as apostas das empresas de tecnologia para a mudar a forma como vamos nos alimentar no futuro

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Ligia Aguilhar

 

PUBLICIDADE

Uma série de startups nos EUA estão apostando suas fichas em produzir uma nova categoria de alimentos baratos, saudáveis e que eliminam os impactos ambientais da criação de animais para abate. São shakes que prometem substituir uma refeição por conter todos os nutrientes que uma pessoa precisa e carnes à base de vegetais como soja, ervilha e trigo que são produzidas a partir de uma tecnologia que reproduz a textura e o sabor de um pedaço de carne animal.

Os objetivos são oferecer conveniência no preparo de refeições, uma alternativa suculenta para àqueles que querem uma alimentação mais natural e uma opção para atender à crescente demanda por alimentos em todo o mundo, que pode superar a nossa capacidade produtiva. Os investidores do Vale do Silício estão injetando milhões de dólares nessas startups que pretendem mudar a forma como vamos nos alimentar no futuro.

::Siga-me no Twitter::::Curta a página do blog no Facebook:: 

Aqui nos EUA é bem fácil encontrar esses produtos nas prateleiras do supermercados, especialmente em redes focadas em alimentação natural, como a Whole Foods, onde eles já são destaque há alguns anos. Resolvi testar alguns produtos que encontrei aqui em Chicago para relatar a experiência de comer essa comida 2.0.

Publicidade

Minha avaliação será com base apenas no sabor e textura. O objetivo não é avaliar o valor nutricional ou fazer um julgamento sobre a validade ou não de comer carne, mas contar apenas sobre as impressões ao experimentar esses alimentos que ainda não são comuns na mesa da maioria das pessoas.

Para quem quer saber mais sobre o processo de desenvolvimento desses alimentos, recomendo essa matéria publicada no ano passado, no Estadão, que dá mais detalhes.

Ligia Aguilhar

 

As tirinhas de "frango de mentira"

Minha primeira aventura foi com as tiras de frango feitas com proteína vegetal da marca Beyond Meat, do sul da Califórnia. Paguei cerca de US$ 4 dólares por um pacote com 340 gramas.

Publicidade

A Beyond Meat usa uma tecnologia criada na universidade do Missouri para reproduzir a textura de carne de verdade. A marca foi uma das primeiras a inovar no ramo e conseguir resultados expressivos. Diz a lenda que uma vez, por engano, a rede de supermercados Whole Foods colocou à venda algumas saladas de frango preparadas com o frango da empresa e que nenhum consumidor percebeu a troca.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Decidi preparar o produto de diferentes formas para sentir o resultado. Testei inicialmente no microondas, aquecendo por alguns segundos, de acordo com as instruções da embalagem. Ah, se arrependimento matasse! A textura e o gosto de borracha logo me deixaram chateada pelas calorias ingeridas sem prazer.

Microondas, porém, não costumam fazer jus ao sabor de nenhum alimento. Fiz, então, um segundo teste, seguindo outro modo de preparo mencionado pelo fabricante. Fritei as tirinhas em um fio de óleo em uma frigideira e... voilá! A mudança foi impressionante e só então pude perceber o verdadeiro potencial do produto.

Uma casquinha fininha se formou em volta das tirinhas, como em um frango grelhado de verdade. Por dentro as tirinhas estavam fibrosas e se desfizeram em fiapos grossos, bem similares ao de um peito de frango tradicional. Uma certa textura borrachuda, porém, permaneceu. E ficou evidente que é importante temperar bem esse tipo de produtopara um resultado gratificante. O gosto natural não agrada.

O último teste foi incorporar as tirinhas a outros alimentos para ver o resultado. Primeiro acrescentei as tirinhas a uma sopa. Nada feito! A artificialidade ficou ainda mais evidente. Mas em um segundo teste, no qual fiz um sanduíche e misturei as tirinhas com salada e molho, o resultado foi bem melhor.

Publicidade

No geral, achei o aspecto visual e a textura interessantes, mas ainda não são uma imitação perfeita de um pedaço de carne animal. Para quem simpatizar com o sabor e textura, é umas opção válida. Para mim, faltou um sabor a mais que me motivasse a querer comprar o produto de novo no supermercado.

Bacon vegetal

O segundo teste foi com o bacon da marca Upton's Naturals, daqui de Chicago, especializada em produzir carne vegana/vegetariana. Paguei US$ 5.45 em pacote de 141 gramas de bacon.

O visual não é lá grandes coisas, mas, ao contrário do frango, o resultado foi positivo desde a primeira mordida. O sabor bastante fiel ao de um bacon logo se espalha pela boca e surpreende. O problema, porém, está na textura. Mesmo fritando as tirinhas, elas não adquirem a crocância do bacon original.

Outro fator é que a gordura é um dos componentes que faz o bacon ter o sabor de bacon que agrada a tantos paladares. A ausência dela na versão vegetal torna impossível uma cópia fiel do sabor. A parte boa foi que o bacon ajudou a dar um pouco mais de gosto às tirinhas de frango que mencionei acima. Para quem não come carne e deseja sentir de novo o gostinho do bacon é uma boa opção.

Publicidade

Divulgação

 

A bebida que vale por uma refeição

Testei o Soylent na incubadora da universidade onde estudo, a Northwestern University, onde o produto está sendo amplamente divulgado, já que estudantes universitários e startups são os principais consumidores da marca. A bebida ganhou popularidade no Vale do Silício entre a turma da tecnologia por ser um shake que substitui uma refeição inteira, prometendo ter os nutrientes necessários para o corpo humano funcionar bem. Cada garrafinha tem 400 calorias e 20% dos nutrientes necessários para um adulto por dia. Há também uma versão em pó para misturar com água.

Aqui nos EUA, muitos profissionais usam o Soylent como substituto de uma refeição para economizar tempo, cortar a hora do almoço e aumentar a produtividade. Algo que eu, particularmente, não acho muito saudável. Nos corredores da universidade, a divulgação do produto ressalta o preço baixo (US$2,42), mais barato do que a maioria das opções disponíveis na praça de alimentação do campus.

A textura e o sabor são similares aos de um mingau de aveia. O gosto é bem suave porque os criadores queriam reduzir as chances de que os consumidores possam enjoar do produto e aumentar as possibilidade de customizar o sabor adicionando uma fruta, por exemplo. Em algumas propagandas a empresa diz que o produto permite que ninguém precise voltar a comer se não quiser.

Publicidade

De fato dá para se sentir saciado após tomar o Soylent, mas eu não consegui me sentir satisfeita. Para mim, comer não é só uma forma de adquirir nutrientes, mas também, digamos, um ato de prazer. Senti falta do sabor de diferentes alimentos, com diferentes texturas durante a refeição. E definitivamente senti falta de ingerir algo sólido e não apenas líquido.

Mas concordo que o Soylent tem seu lado positivo e que pode ser mais saudável que um pedaço de pizza ou outra comida de fast food que acabam sendo a opção em dias mais corridos (nutricionistas de plantão, opiniões sobre o assunto? Comentem!).

Na internet há relatos de centenas de pessoas que decidiram fazer um teste radical e só se alimentar com o produto durante 30 dias. Algumas dizem que tiveram um resultado melhor no exame de sangue depois do período de consumo exclusivo de Soylent. Por outro lado, um deles relata como a bebida mudou sua relação com a família, já que ele parou de participar do jantar, e como ele e a esposa perceberam a importância de fazer essa refeição juntos todas as noites e falar sobre a vida.

Veredito

Eu ainda prefiro consumir vegetais em si e pratos vegetarianos/veganos criados a partir deles do que consumir esses alimentos à base de vegetais que tentam imitar carne de verdade. Acredito que para que mais pessoas possam aderir a esse tipo de produto por causa da semelhança com a carne ainda é necessário aprimorar um pouco mais a tecnologia.

Publicidade

Já sobre o shake, eu posso até tomar um dia ou outro, como tomaria qualquer outra bebida, mas não gosto da ideia de trocar a maioria das refeições pelo Soylent e abrir mão da pausa, do sabor, da interação e de todas as experiências que envolvem preparar e consumir um alimento. Seja como for, a experiência me fez pensar muito sobre alimentação, as formas não saudáveis que tratamos nosso corpo com alimentos industrializados de baixa qualidade e desperdício de comida.

Os avanços no desenvolvimento desse produtos devem continuar rápidos e a tendência é que o sabor e as opções só melhorem. Certamente, ainda vamos ouvir falar muito sobre essa comida 2.0.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.