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Por Redação
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A crise da dívida pública, nos Estados Unidos e na Europa, ainda está envolta em grandes incertezas e esta será mais uma daquelas semanas "decisivas", depois de tantas que só adiaram e ampliaram a urgência de se encontrar soluções verdadeiras. Emoções fortes, nas disputas do presidente americano Barack Obama com a oposição no Congresso sobre limites da dívida e planos de austeridade fiscal, estão no radar. Também no radar, e nas emoções fortes, novos rondós no minueto europeu de insolvências públicas e privadas.        

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Quaisquer que sejam as saídas, negociadas ou descontroladas, são remotas - para não dizer nulas - as hipóteses de que não venham acompanhadas de consequências negativas para o crescimento das economias mundo afora. A interligação financeira e a enxurrada de liquidez, sobretudo ao longo dos últimos dez anos, contagiaram por completo a economia global, incentivando a formação de bolhas de crédito e explosões no endividamento público e privado. Seu reverso, o processo de desalavancagem e redução das dívidas, também será global - e penoso. A maior dúvida é quanto à sua duração, que pode ser mais longa do que a média histórica.

As dores da desalavancagem foram empiricamente constatadas por pesquisadores do McKinsey Global Institute (MGI), braço de análises econômicas e corporativas da consultoria global McKinsey. Eles estudaram os processos que levaram à formação e absorção dos estouros de bolhas de crédito na atual crise, em um grupo de 14 economias - dez maduras e os quatro BRICs. As ocorrências foram comparadas com 45 episódios de estouro de bolhas de crédito e redução significativa da relação dívida/PIB, ocorridos desde 1930.

O estudo, publicado no começo de 2010, com dados até o segundo trimestre de 2009, foi atualizado agora em julho de 2011, com informações do ano passado. A má notícia é que as dívidas públicas e privadas, como porcentagem do PIB, na maioria das economias maduras, permanecem muito elevadas. E o processo de desalavancagem, se começou, está ainda bem no início.

Mais de dois terços dos processos históricos de redução da relação dívida/PIB analisados seguiram-se a crises financeiras. Cerca de metade deles refletiu a adoção de programas de austeridade fiscal e enxugamento de liquidez, que mantiveram o ritmo de expansão do crédito abaixo do crescimento da economia por vários anos. Em outros casos, menos frequentes, a desalavancagem ocorreu por força de calotes de dívida, surtos inflacionários e aumento muito rápido do PIB, em razão dos gastos com guerras ou fortes booms nas cotações do petróleo.

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Se, nos dias de hoje, o caminho da recuperação depois do estouro de bolhas seguir a norma do "aperto de cinto", registrado na maior parte dos episódios históricos, as economias envolvidas no processo experimentariam, em média, um período longo de vacas magras, de seis a sete anos, até a absorção dos excessos que resultaram nas bolhas e em sua explosão. No fim do processo, depois de uma etapa de recessão, a relação dívida/PIB teria observado uma redução de 25%, em média.

De acordo com os dados históricos, do início da formação das bolhas até o esgotamento do ciclo de alta, decorrem, em média, cerca de dez anos. Os sinais de inversão da curva de crescimento da economia se dão ainda sob uma trajetória de alta da relação dívida/PIB, no espaço de um a dois anos. No período seguinte, que ocupa um intervalo entre dois e três anos, dívidas e PIB recuam em paralelo. A partir de então, por quatro ou cinco anos, a economia retoma o crescimento, mesmo com o processo de desalavancagem ainda em curso.

No relatório do estudo, os pesquisadores do MGI alertam para algumas características peculiares da crise atual. Em frequentes episódios do passado, por exemplo, aumentos nas exportações ajudaram a manter algum crescimento econômico durante o período de desalavancagem. A natureza global da crise atual e a existência do euro, moeda comum da União Europeia, uma das regiões mais fortemente afetadas tanto pelas bolhas de crédito quanto pelas altas dívidas públicas, levam ao descarte, em boa parte dos países, da saída clássica da desvalorização da moeda local.

A mensagem embutida na análise da crise dos dias atuais é a de que ela pode não acompanhar, estritamente, o roteiro clássico das crises financeiras das últimas sete décadas. O risco de que, pelo menos nas economias maduras, a alavancagem demore mais para começar a refluir não pode ser desprezado. Isso significa que as instabilidades na economia global talvez continuem presentes por um tempo mais longo, de cinco a dez anos. Se o vaticínio baseado no passado recente se confirmar, esta agora em curso tem tudo para ser uma década perdida.

 

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